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René girard sugeriu que mecanismos fisiológicos da violência pouco variam entre indivíduos e culturas. Ele apresentou a tese de que o desejo mimético é a origem do conflito. Neste texto, apresentamos suas ideias sobre desejo mimético e violência, além de suas contribuições para a análise da violência no contexto escolar.
Tipologia: Notas de estudo
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Estudos recentes sugerem que os mecanismos fisiológicos da violência pouco variam de indivíduo para individuo, e mesmo de cultura para cultura. (GIRARD, 1990, p.12)
René Girard percorre pelos campos da história, da filosofia, da sociologia e da antropologia, suas idéias conduzem a edificação de uma Antropologia Geral. Não obstante, seu exame ultrapassa a divisão primitivos e civilizados, pois para o autor todas as culturas em todos os seus estágios podem passar pelo mesmo crivo.
Na obra A violência e o sagrado, publicado em 1972 , o autor apresenta a tese de que o ser humano é marcado essencialmente por um desejo mimético (o desejo de ter o bem do outro). Essa capacidade mimética é um dos sustentáculos da própria cultura. Os homens desejam o bem e o ser do próximo. Assim, quanto mais eu desejar o objeto que o outro possui, mais ele se apresentará desejável, o que terminará por gerar uma rivalidade mimética. O conflito é conseqüência direta do desejo mimético.
O desejo e a violência são traços fundamentais do pensamento giardiano. O autor procura compreender como a espécie humana conviveu com a disposição à violência e conseguiu impedir o seu aniquilamento. Para ele, os ritos e os mitos foram o recurso encontrado para interromper os efeitos da violência. “A origem da religião se explica pela análise da violência e do sagrado. Nessa perspectiva a religião, na origem da cultura, é a educadora do desejo. Ou seja, educa a humanidade para conviver com seu desejo mimético” (LOPES e JARDILINO, 2009, p. 158).
Após essa breve introdução, apresentamos a composição do artigo: primeiramente, exponho os conceitos de desejo mimético e violência na ótica de Girard. No segundo momento, apresento as contribuições do autor para análise da violência no contexto escolar. Em seguida, as considerações finais.
Para o autor o desejo mimético é um fenômeno exclusivamente humano que não se confunde com o instinto. Pois, esse último está no âmbito das necessidades humanas, como por exemplo, a fome, a sede e o sexo. A principal característica dos instintos é que eles são predeteminados e possuem o objetivo de preencher as necessidades elementares do homem para garantir sua sobrevivência. O desejo mimético surge quando as necessidades humanas foram satisfeitas e o homem passa a desejar algo que não sabe precisamente o que é.
Girard critica os teóricos modernos por negligenciarem a natureza mimética do desejo, não sendo capazes de compreender a violência.
Uma vez que seus desejos primários estejam satisfeitos, e às vezes mesmo antes, o homem deseja intensamente, mas ele não sabe exatamente o quê, pois é o ser que ele deseja, um ser do qual se sente privado e do qual algum outro parece-lhe ser dotado. O sujeito espera que este outro diga-lhe o que é necessário desejar para adquirir este ser. Se o modelo, aparentemente já dotado de um ser superior, deseja algo, só pode se tratar de um objeto capaz de conferir uma plenitude de ser ainda mais total. Não é através de palavras, mas de seu próprio desejo que o modelo designa ao sujeito o objeto sumamente desejável. Retomamos uma ideia antiga, cujas implicações, no entanto, talvez sejam mal conhecidas: o desejo é essencialmente mimético, ele imita exatamente o modelo; ele elege o mesmo objeto que este modelo (GIRARD , 1990, p. 184).
Portanto, o desejo é a busca de uma plenitude do ser. A primeira relação do desejo é imitativa, e possui como resultado a competição do desejo, pois “Dois desejos que convergem para um mesmo objeto constituem um obstáculo recíproco. Qualquer mimesis relacionada ao desejo conduz necessariamente ao conflito” (Ibidem, p. 185).
Segundo Girard as causas da rivalidade dessa relação são ignoradas por que as similitudes nas relações humanas evocam uma ideia de harmonia. Contudo, a semelhança do desejo, negligencia o fato de que o desejo necessita encontrar caminhos para satisfazer-se.
escape, algo para devorar” (Op. Cit. p. 15). O sacrifício teria assim a função de conter as ações de violência, como também, controlar as tensões sociais. O sacrifício como instrumento de catarse social permitiu aos homens despejarem sobre uma vítima sacrificial todos os seus desejos de vingança, ódio e agressividade. Essa ideia é pautada na mitologia grega e no velho testamento, como o mito de Caim e Abel. Abel era um pastor e o sacrifício do seu rebanho era em homenagem a Deus. Entretanto, Caim era agricultor e não possuía o mesmo recurso. Motivado pelo desejo mimético ou inveja pelo amor que Deus alimentava pelo seu irmão decide matar Abel. O sacrifício representa a luta contra o caos. Quando os ritos não conseguem produzir o equilíbrio nas sociedades surgem à crise sacrificial. Girard ao estudar as conseqüências da violência do desejo mimético não controlado, levantou a hipótese do bode expiratório. Se todos os homens que desejam a mesma coisa nunca se entendem, já os que odeiam em conjunto o mesmo adversário entendem-se muito facilmente. De certo modo, este entendimento é aquilo a que chamamos a política! É por isso que eu chamo ao mecanismo da vítima unitária, o mecanismo do bode expiatório. (GIRARD, 2004, p.6-7).
Esse mecanismo não é uma abstração filosófica, pois Girard acredita ter encontrado o fenômeno a partir da comparação dos mitos distintos, em sociedades distantes entre si, que não tiveram contato. Na descrição desses mitos aparece o mecanismo do bode expiatório que é visto como responsável, porém logo depois de ser sacrificado, é considerado sagrado. Pois, graças a seu sacrifício a paz social retorna. Logo, violência e sagrado são duas faces da mesma moeda.
Nas sociedades desprovidas de sistema judiciário e por isso ameaçadas pela vingança, o sacrifício e o rito exercem um papel essencial. Nestas sociedades, os males gerados pela violência são extensos e os remédios aleatórios. A ênfase é assentada na prevenção, e a esfera do preventivo é primordialmente o religioso.
A prevenção religiosa pode ter um caráter violento. A violência e o sagrado são inseparáveis. A utilização “ardilosa” de certas propriedades da violência, e em especial de sua capacidade de deslocar-se de um objeto a outro, dissimula-se por trás do rígido aparato do sacrifício ritual (GIRARD, 1990, p.
Desde o final da década de 70, o tema violência nas escolas tem suscitado estudos e investigações (ARENDT, 1979; GADOTTI, 2003) que por meio de leituras distintas apresentam a dificuldade do sistema educacional em combater o fenômeno. Abramovay e Castro (2006) afirmam que o assunto se transformou em foco de atenção não apenas pelas transformações enfrentadas pela instituição escolar, mas também pelos novos significados assumidos pela violência no mundo contemporâneo. Em recente mapeamento sobre a convivência nas escolas públicas dos alunos das séries finais do ensino fundamental e ensino médio no Distrito Federal, Abramovay, Cunha e Calaf (2009) descrevem os diferentes tipos de violência que ocorrem dentro e fora da escola. Em um dos capítulos do livro Revelando tramas , descobrindo segredos, a pesquisa apresenta uma análise das percepções e relações sociais entre os alunos, revelando que determinados comportamentos como: agressão física, humilhação e zombaria são atitudes frequentes no ambiente escolar. Para iniciarmos a reflexão sobre a violência nas escolas nos reportamos às idéias de Guedes (2004). Segundo a autora, a escola, assim como outras instituições, tem o papel de manter a ordem. A concepção de disciplina atrelada a punição teria a função de reafirmar a autoridade do professor e as normas instituídas no espaço escolar, colocando o culpado em uma posição de isolamento e delimitando o espaço das pessoas de “bem” e dos transgressores. Neste sentido, as medidas disciplinares funcionariam como instrumentos de produção de vítimas expiatórias. A questão não está assentada em saber se quem recebeu a punição é ou não culpado, pois o objetivo não é fazer sofrer o sujeito condenado, mas conduzir a punição à coletividade. O ritual das suspensões, das advertências nas escolas almeja unir e educar a comunidade. Pois, a exclusão acontece em nome da solidificação dos ideais da instituição e da legitimação do papel do professor. Essa ideia aparece nas reflexões de Girard (1990, p. 384) quando afirma que “A vítima expiatória, mãe do rito, aparece como educadora por excelência da humanidade, no sentido etimológico de educação”.
fundamental do DF, como uma característica dos meninos que seriam mais ágeis para pensar e fazerem jogadas, finalizando a partida antes das meninas.
Outro exemplo de propagação dos estereótipos é o exercício do futebol nas escolas brasileiras que ainda é tomado como uma característica do universo masculino, devendo as meninas se ocupar de esportes alternativos, comumente mais leves e seguros.
Corresponder aos padrões de gênero requer, assim, uma adequação as condutas apropriadas, sob pena do aluno (a) não ser reconhecido (a) segundo uma identidade valorizada socialmente. No caso da participação feminina em jogos cuja tradição este vinculada aos homens, o risco identitário é provável, e as meninas podem ser classificadas como masculinizadas, recebendo apelidos como Mulher-macho e Maria Machadão [...] Ser referida como lésbica torna-se, do mesmo modo, uma tentava de ofensa ao padrão de feminilidade vigente, construído dentro da heteronormativade e incorporado, por sua vez, aspectos de homofobia (Idem, Ibidem. p. 360).
Abramovay, Cunha e Calaf (2009) ao apresentarem os dados referentes à homofobia nas escolas públicas do DF evidenciam que eles são assustadores. Dos alunos entrevistados 48,7% declararam que não gostariam de ter homossexuais como colegas de classe. As demonstrações públicas de uma sexualidade “diferente” não são aceitas e desencadeiam insultos e agressões físicas que podem acontecer dentro ou fora da escola.
Freitas (2010) enfatiza que a escola vem passando por um processo de empobrecimento dos rituais que garantam o respeito aos diferentes grupos sociais. Nesse sentido, temos a passagem do predomínio dos ritos elaborados pela escola para os ritos criados e conduzidos pelos alunos, que muitas vezes, propagam-se em ações violentas como: o preconceito racial, a homofobia etc.
Teixeira (1990) ao analisar a exclusão no espaço escolar coloca a discussão no campo dos conceitos de identidade e alteridade. Recorrendo as concepções do antropólogo francês, Dadoun a autora assevera que para assegurar sua identidade, uma sociedade ou instituição cria uma visão etnocêntrica da imagem do Outro.
No caso da sociedade moderna, a razão ocidental desprende dela mesmas partes irracionais para compor, no mesmo movimento, essa imagem do Outro e da sua própria identidade, essencialidade, normalidade. Ainda segundo Dadoun (apud Texeira,1992), a essa identidade racional contrapõem-se as três imagens da alteridade mais significativa do Ocidente – o louco, o selvagem e a criança-, às quais poderíamos acrescentar as do homossexual,
do favelado, do migrante, do negro, enfim, todas aquelas que fogem à imagem ideal de homem ocidental, ariano (DAUDON apud TEXEIRA, 1990, p. 3 ).
Caminhando em direção da discussão sobre a educação e o pensamento giardiano, vemos que “o papel da vítima expiatória pode ser objeto de verificações concretas, que a verdade está inserida na própria estrutura das comunidades” (GIRARD, 1990, p. 386).
Nesse contexto, todos os sujeitos que não apresentam os comportamentos padronizados vigentes padecem as consequências do estigma e da exclusão. As escolas estão organizadas segundo a lógica da violência, uma lógica sacrificial que tem empregado como expediente para resolver os conflitos à produção de bodes expiatórios. Temos como exemplo a violência física e verbal que sofrem os alunos homossexuais nos diversos espaços escolares. A força das ofensas reside em demarcar a distância do insultador em relação ao ofendido. Os homossexuais são destinados ao domínio da anormalidade. Nesses casos, as humilhações são utilizadas para difundir as “ordens morais e sociais em que homossexuais não sejam considerados sujeitos dignos” (ABRAMOVAY, CUNHA e CALAF, 2009, p. 199).
Dessa reflexão, decorrem alguns entendimentos que merecem ser destacados. Vale dizer que a sexualidade distinta dos padrões tradicionais de gênero representam uma afronta à masculinidade e feminilidade instituídos. Desta forma, a marginalização destinada aos homossexuais pode ser interpretada como instrumento de fortalecimento da heteronormatividade.
Nesta perspectiva, compreende-se que: Muitas discriminações que ferem o ser humano são legitimadas pelo mecanismo do bode expiatório. Estrangeiros, ciganos, muçulmanos e hebreus, entre outros, são considerados culpados pelas crescentes crises de determinados países e apontados como as vítimas a serem sacrificadas (ou ainda discriminadas) para o bem da comunidade (GIRARD apud SCHROEDER, 2008 p. 4).
Diante do exposto, percebemos que a escola precisa retomar ritos que desenvolvam e fortaleçam a compreensão da alteridade e identidade dos diferentes sujeitos. O desafio no enfretamento da violência consiste em organizá-la e integrá-la
____________________; CASTRO, M. Calidoscópio das violências nas escolas. Brasília: Missão Criança, 2006.
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