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Guias e Dicas
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Relatos de Viagem: Literatura de Informação e Textos Jesuíticos, Slides de Comunicação

Três relatos de viagem escritos por pero vaz de caminha, hans staden e ana miranda durante o século xvi e xvii. Caminha descreve a descoberta do brasil, staden relata sua experiência com a cultura tupinambá e ana miranda compartilha suas impressões da transformação de nova olinda. Os textos destacam a função utilitária e estética da linguagem, além de apresentar aspectos da organização social portuguesa e a interação entre as culturas europeia e indígena.

O que você vai aprender

  • Qual é a principal função da linguagem no relato de Pero Vaz de Caminha?
  • Como Hans Staden descreveu a cultura Tupinambá e quais foram as implicações para as missões civilizatórias portuguesas?
  • Como Ana Miranda descreveu a transformação de Nova Olinda e quais foram as características notáveis da cidade?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Carnaval2000
Carnaval2000 🇧🇷

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ROTEIRO DE ATIVIDADES
- 1º bimestre da 1ª Série do Ensino Médio: 1º CICLO -
EIXO BIMESTRAL: LITERATURA DE INFORMAÇÃO E TEXTOS JESUÍTICOS / RELATO DE
VIAGEM E CRÔNICA
Texto Gerador 1
CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL (Pero Vaz de Caminha)
Senhor,
posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim
os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia
do achamento desta Vossa terra nova, que se agora
nesta navegação achou, não deixarei de também dar
disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu
melhor puder, ainda que para o bem contar e falar
o saiba pior que todos fazer!
Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa
vontade, a qual bem certo creia que, para
aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do
que aquilo que vi e me pareceu. [...]
E portanto, Senhor, do que hei de falar começo. E
digo quê:
[...] seguimos nosso caminho, por este mar de longo,
até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram
21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra. E
quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a
que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas
de véspera, houvemos vista de terra! A saber,
primeiramente de um grande monte, muito alto e
redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e
de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte
alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à
terra A Terra de Vera Cruz! [...]
E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns
sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos
que chegaram primeiro [...]. A feição deles é serem
pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura
alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa
de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara.
Acerca disso são de grande inocência. Ambos
traziam o beiço de baixo furado e metido nele um
osso verdadeiro, de comprimento de uma mão
travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo
na ponta como um furador. [...]
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em
uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem
vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao
pescoço. [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram.
Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao
Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o
colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a
mão em direção à terra, e depois para o colar, como
se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E
também olhou para um castiçal de prata e assim
mesmo acenava para a terra e novamente para o
castiçal, como se lá também houvesse prata! [...]
Dos que ali andavam, muitos quase a maior parte
traziam aqueles bicos de osso nos beiços.
E alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços
furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau,
que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles
traziam três daqueles bicos, a saber um no meio, e os
dois nos cabos.
E andavam outros, quartejados de cores, a saber
metade deles da sua própria cor, e metade de tintura
preta, um tanto azulada; e outros quartejados
d'escaques.
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem
novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e
compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e
tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as
nós muito bem olharmos, não se envergonhavam. [...]
Eles não lavram, nem criam. Não aqui boi, nem
vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem
qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver
dos homens. Nem comem senão desse inhame, que
aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e
as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão
rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com
quanto trigo e legumes comemos [...].
Parece-me gente de tal inocência que, se nós
entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo
cristãos, visto que não têm nem entendem crença
alguma, segundo as aparências. E portanto se os
degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a
sua fala e os entenderem, não duvido que eles,
segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão
cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a
Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta
gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á
facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem
dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos
e bons rostos, como a homens bons. [...] E segundo o
que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes
falece outra coisa para ser toda cristã, do que
entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que
nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu
a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E
bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem
entre eles mais devagar ande, que todos serão
tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza.[...]
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ROTEIRO DE ATIVIDADES

- 1º bimestre da 1 ª Série do Ensino Médio: 1º CICLO -

EIXO BIMESTRAL: LITERATURA DE INFORMAÇÃO E TEXTOS JESUÍTICOS / RELATO DE

VIAGEM E CRÔNICA

Texto Gerador 1

CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL (Pero Vaz de Caminha)

Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. [...] E portanto, Senhor, do que hei de falar começo. E digo quê: [...] seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até que terça-feira das Oitavas de Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam furabuchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redondo; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz! [...] E dali avistamos homens que andavam pela praia, uns sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos que chegaram primeiro [...]. A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. [...] O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. [...] Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de falar ao Capitão; nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim

mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata! [...] Dos que ali andavam, muitos – quase a maior parte – traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, traziam os beiços furados e nos buracos traziam uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha. E alguns deles traziam três daqueles bicos, a saber um no meio, e os dois nos cabos. E andavam lá outros, quartejados de cores, a saber metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, um tanto azulada; e outros quartejados d'escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas vergonhas, tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não se envergonhavam. [...] Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos [...]. Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E portanto se os degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons. [...] E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã, do que entenderem-nos, porque assim tomavam aquilo que nos viam fazer como nós mesmos; por onde pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm. E bem creio que, se Vossa Alteza aqui mandar quem entre eles mais devagar ande, que todos serão tornados e convertidos ao desejo de Vossa Alteza.[...]

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela [na nova terra], ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados [...]. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra vi. E se a um pouco alonguei, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha de Vos tudo dizer, mo fez pôr assim pelo miúdo. [...] Beijo as mãos de Vossa Alteza Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. Pero Vaz de Caminha.

(CAMINHA, Pero Vaz de. Carta a El Rei D. Manuel. Disponível em: http://www.culturabrasil.org/zip/carta.pdf. p. 1, 2, 3, 7, 8, 9.)

ATIVIDADES DE USO DA LÍNGUA

Questão 1: O homem dispõe de vários recursos para se comunicar. É justamente a capacidade de usar diferentes linguagens (formas não-verbais, como cores, sons, figuras, gestos, ou formas verbais, as palavras) que nos torna seres humanos racionais, diferenciando-nos dos animais. A linguagem funciona, então, como um código utilizado na construção de uma mensagem que, por meio de um canal, transmite a informação de uma pessoa para outra. Com isso, notamos que há certos fatores – chamados elementos da comunicação – que são imprescindíveis para que tal transmissão se realize. A partir disso, responda aos itens abaixo:

A - Identifique os elementos que estruturam a comunicação mediada pelo Texto Gerador I. a) Emissor b) Receptor c) Mensagem d) Código e) Canal f) Contexto ou referente

B - Levando em consideração os elementos da comunicação que você identificou no item A, responda: a) Qual dos elementos da comunicação recebeu maior destaque no relato de viagem apresentado por meio da carta? b) Qual função da linguagem predomina, então, nesse texto? c) Quais marcas linguísticas comprovam isso?

Questão 2: Apesar de não ser o objetivo do texto, em alguns trechos da Carta, Caminha apresenta envolvimento com o relato, deixando transparecer sua posição acerca do que observa na nova terra:

“[...] aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.” “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos [...]” “E segundo o que a mim e a todos pareceu, esta gente, não lhes falece outra coisa para ser toda cristã [...]” “o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.”

Considerando os trechos do quadro, assinale a alternativa que apresente corretamente a função de linguagem predominante e a explicação para tal predominância: (A) Conativa, já que consiste em influenciar o comportamento do destinatário (“eles”, “esta gente”, “lhes”). (B) Emotiva, pois está centrada no próprio emissor da mensagem (“e me pareceu”, “Parece-me”, “a mim e a todos pareceu”). (C) Fática, uma vez que reflete a preocupação de manter o contato, focalizando o canal (“se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos”, “não lhes falece outra coisa para ser toda cristã”). (D) Metalinguística, porque está centrada no código (“se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa”). (E) Referencial, visto que focaliza o contexto, refletindo uma preocupação em transmitir, com objetividade, conhecimentos referentes aos fatos, eliminando, por isso, marcas de primeira pessoa.

respondeu: “Sim, estou com todo o equipamento, apenas a muçurana não é bastante longa. Em casa temos melhores.” Eles chamam de muçurana uma corda de algodão algo mais espessa que um dedo, com a qual os prisioneiros são amarrados, e sua corda era cerca de seis braças curta demais. Ele falava como se estivesse indo a uma quermesse. Eu tinha comigo um livro em português que os selvagens acharam num navio conquistado com a ajuda dos franceses e deram para mim. Eu li um pouco desse livro quando deixei o prisioneiro, e fiquei com pena dele. Por isso fui de novo encontrá- lo e falei outra vez com ele, pois os Maracajás estão entre os amigos dos portugueses: “Eu também sou prisioneiro, igual a você, e não vim porque quero comer um pedaço de você, e sim porque meus senhores me trouxeram”. Ao que ele respondeu que sabia muito bem que nós não comíamos carne humana. Continuei dizendo-lhe que devia consolar- se, pois eles comeriam apenas a sua carne, mas que seu espírito iria para um outro lugar, para onde também vão os nossos espíritos, e que lá havia muita alegria.

Ele perguntou, então, se isso era verdade. Eu disse que sim, e ele retrucou que jamais tinha visto Deus. Terminei dizendo que ele veria Deus na outra vida e afastei-me, uma vez que a conversa estava encerrada. Na noite seguinte, bateu um forte vento soprando tão poderosamente que arrancou pedaços da cobertura da casa. O que fez os selvagens ficarem zangados comigo. Disseram em sua língua: “Aipó mair angaipaba ybytu guasu omou”. O que vem a ser: o homem mau, o santo, agora faz com que o vento chegue, pois durante o dia olhou na „pele do trovão‟”. Assim chamavam o meu livro. Eu teria chamado o mau tempo porque o escravo era amigo nosso e dos portugueses e assim eu talvez quisesse impedir a festa. Então roguei a Deus e disse para mim mesmo: “Senhor, tu que me protegeste até agora, continua a proteger-me”. Isso porque sussurravam muito a meu respeito. Quando amanheceu, o tempo estava bom. Bebiam e estavam muito contentes. Então fui ao encontro do escravo e disse-lhe: “O forte vento era Deus. Ele quer te levar até a presença Dele.” Ele foi comido no segundo dia depois desse. Vocês saberão como isso ocorreu no vigésimo nono capítulo do segundo livro.

ATIVIDADE DE LEITURA

Questão 7: Em uma das suas viagens ao Brasil, Hans Staden acabou aprisionado por uma comunidade Tupinambá, que, segundo ele, tinha a intenção de devorá-lo. Sendo assim, o viajante alemão dedica boa parte de sua narrativa à descrição dos rituais antropofágicos dos nativos. De acordo com o texto, responda: a) Que imagem dos povos indígenas esse relato ajudou a difundir pela Europa? b) De que modo descrições do “Novo Mundo” como essa, feita por Staden, serviram de justificativas às missões civilizatórias portuguesas?

ATIVIDADE DE USO DA LÍNGUA e DE LEITURA

Questão 8: Por ser tratar de uma época em que era comum surgirem histórias de viagens mentirosas e absurdas, Hans Staden preocupou-se em escrever um relato minucioso. Em vários momentos, o autor transcreve e traduz vocábulos ou, até mesmo, breves diálogos em Tupi, como é possível observar no trecho a seguir: “Na noite seguinte, bateu um forte vento soprando tão poderosamente que arrancou pedaços da cobertura da casa. O que fez os selvagens ficarem zangados comigo. Disseram em sua língua: „Aipó mair angaipaba ybytu guasu omou‟. O que vem a ser: o homem mau, o santo, agora faz com que o vento chegue, pois durante o dia olhou na „pele do trovão‟”.

Com base nessas informações: a) Identifique a função da linguagem predominante neste texto. b) Indique o provável propósito de Staden ao registrar a língua Tupi?

Texto Gerador 3

PEQUENO RELATO DE VIAGEM (Ana Miranda)

Estou de volta do Crato, trazendo na lembrança as serras azuis que cercam o vale do Cariri, riscadas

pelas águas que descem o flanco, formando quedas; uma vegetação exuberante, povoada de animais

preciosos e diversos. O “oásis do sertão” é também verdejante, apesar de assolado por estios, como o de 1877, que nosso padim Cícero teve de enfrentar junto com seus fiéis. Ali estão as prósperas cidades de Crato e Juazeiro, quase juntas de tão crescidas. Juazeiro, nascida numa trilha onde havia três dessas milagrosas árvores, que davam pouso aos viajantes, está fazendo cem anos por agora. É incrível pensar que em apenas cem anos as poucas casas de barro e palha se transformaram nessa metrópole, passando por tantos sofrimentos, tantos conflitos; e hoje é um centro de religiosidade dos maiores no mundo, terra com a nobre vocação acadêmica, berço de mestres. Ali sempre visito dona Assunção, pintora e mestra da cultura, que faz os bolos confeitados mais perfeitos, e conheceu padre Cícero, quando era menina. Também andei fazendo um trabalho junto a gravuristas da Lira Nordestina, numa pequena antologia de poemas ilustrados com xilos. Nunca deixo de ir ao mestre Espedito Seleiro, em Nova Olinda, para comprar umas currulepes, tão apreciadas na Califórnia; e visito as crianças que administram uma casa, em projeto exemplar. O Crato é mais antigo. Foi primeiro o aldeamento da Missão do Miranda – meu xarapim era um chefe indígena – e em 1745 consistia em apenas uma igreja de taipa nas margens do rio Granjeiro, cercada de poucas e singelas casas. Cidade com história grandiosa: ali dona Bárbara de Alencar e outros heróis lutaram pela nossa independência, e pela república, quando a Vila Real do Crato já era das povoações mais importantes do Nordeste colonial, no começo do século 19. O município tem carrascais, florestas espinhosas e de chuvas, resquícios de Mata Atlântica, e é um dos lugares mais sensíveis para a conservação da riqueza natural do Ceará. Possui universidades, metrô, feira de gado; artistas e artesãos, como o antigo mestre Noza, cujo galpão fui visitar; tem parque natural, a fabulosa banda cabaçal dos Irmãos Aniceto, e academia de cordel em homenagem ao Patativa; tem infelizmente alagamentos causados pela destruição das matas nos cílios do Granjeiro e seu assoreamento. Visitamos a graciosa estação férrea e entramos numa casa antiga, era uma instituição pública, mas parecia a casa de nossas avós, com santos e crochês. Conheço algo da vida familiar cratense quando visito minha amiga, a professora Maria Isa, e seu marido, o

médico Luciano. Eles possuem uma cultura ao mesmo tempo erudita e popular, são capazes de discorrer longamente sobre um livro clássico, ou as qualidades e usos do rapé entre os sertanejos. Antes de subirmos a ladeira até sua bonita e antiga casa no alto da colina, paramos para comprar um bolo de milho que poucas vezes provei tão bom. O filho Bernardo, também médico, também conversador, fascina as visitas com histórias curiosas do povo cearense. Dessa vez, fomos assistir à coroação de Nossa Senhora, na praça, debaixo de uma chuva fininha. Vi aquele povo devoto, compungido pelo que a vida traz de sofrimentos e esperanças. Senti-me no mais profundo dos Cearás. Fui convidada pelo Sesc. Levava nos braços um livro e uma lata de leite especial, para entregar ao bispo do Cariri, dom Panico, mandados por dona Lúcia, coisa tão meiga e nordestina; acompanhada de duas amigas inseparáveis, vi que estou ficando parecida com a minha mãe, que só viaja em comitiva. Recepcionada pela doce Tina e seu esposo, fui para uma noite de incentivo à leitura, aberta por uma orquestra de sopros, ainda mais emocionante para mim, avó de um trompetista e um futuro clarinetista crianças; teve cordel lido pelo autor, Maércio Lopes Siqueira. Havia uma exposição de trabalhos de crianças que leram livros infantis e se inspiraram nos personagens e nas histórias, as coisas mais lindas esses desenhos! Depois, conversas com um público atento e silencioso, a lotar uma quadra de esportes. Professores falaram com a voz de quem sabe o que diz, tecendo comentários elaborados por estudos; conversas longas sobre como a leitura, principalmente a de livros, e ainda mais, a de livros do tesouro literário, é capaz de construir nosso pensamento, ampliando nossos conhecimentos, nossa imaginação, nossa fala. Voltei abraçada a livros ou originais de escritores do Cariri, pensando em toda aquela gente autêntica, com um quê de pureza, lutando entre o avanço do tempo e a tradição. Um artista amigo meu disse: O vale do Cariri é lindíssimo, minha alma se perde por lá quando volto de viagem, uma vez acompanhei às cinco da manhã os catadores de pequis. Verdade, nossas almas se perdem por lá.

In: http://www.opovo.com.br/app/colunas Acesso em: 27/12/2011.

Texto Complementar 1

DE UM AVIÃO (João Cabral de Melo Neto)

1

Se vem por círculos na viagem Pernambuco – Todos-os-Foras. Se vem numa espiral

No segundo círculo, o avião vai de gavião por sobre o campo. A vista tenta dar

ATIVIDADE DE PRODUÇÃO TEXTUAL

Questão 10:

Relatar é uma experiência comunicativa de mão-dupla: relatando um fato, somos capazes de compreendê-lo melhor e possibilitamos que outras pessoas também tenham acesso a uma experiência vivida por nós e a entendam.

Redigindo um relato de viagem

É comum nos fascinarmos por programas de viagens que mostram lugares, pessoas e culturas diferentes da nossa. Quem nunca achou interessante, por exemplo, o falar de pessoas de outros estados ou até mesmo de outros países? Relatar essas experiências pode ser uma atividade bem divertida. As situações difíceis ou alegres por que tenhamos passado podem proporcionar boas risadas entre os colegas de turma. Mas, como transmitir essa experiência de maneira envolvente? A seguir vão algumas dicas para ajudar na produção desse gênero dos viajantes.

Image ID: 1094384 | Foto Hidden

COMO?

Neste bimestre, estudamos os relatos de Pero Vaz de Caminha, Hans Staden e Ana Miranda. Agora, selecione uma viagem que você tenha vivido e que gostaria de compartilhar com seu professor e seus colegas de classe. Não se preocupe com o tipo de viagem, se foi longa ou curta, distante ou próxima de sua residência; afinal, desses lugares sempre podemos aproveitar experiências interessantes. Quem sabe esse relato possa ser fixado no mural da escola com algumas imagens dessa viagem.

PLANEJAMENTO

Utilize a estrutura lógica do relato de viagem:

  1. Como foi a preparação da viagem? A ansiedade, o trajeto, as dificuldades, quem foi com você?
  2. Quais foram as primeiras ações? E as seguintes? Nessa parte do planejamento, é interessante destacar as ações em ordem cronológica, ou seja, reunir os fatos que marcaram desde sua chegada ao destino até o retorno da viagem na ordem em que aconteceram.
  3. Como foi o retorno? Deixou saudade? Foi uma experiência ruim? Qual a lição que fica dessa experiência?

ELABORAÇÃO

Estrutura global

Linguagem : Escreva em linguagem objetiva e clara e empregue a variedade padrão da língua. Estrutura gramatical : Observe que os verbos, nos relatos de viagem, estão, predominantemente, no pretérito perfeito (passado). Organização textual : Lembre-se de que o relato de viagem é um texto de comunicação com foco nas ações vivenciadas pelo viajante, importantes para a sequência do texto. Atente, também, para o modo de organização descritivo: a caracterização do ambiente e das pessoas, com seus costumes, crenças e outras características, enriquecerão seu relato. Ponto de vista : Um relato de viagem é repleto de impressões pessoais e muitas observações demonstram um certo estranhamento entre culturas, hábitos diferentes. Relate realmente o que você acha do que conheceu na viagem, mas cuidado para não ofender ou ferir as pessoas.

(^1) FARACO, Carlos Emílio; MOURA, Francisco Marto de; MARUXO Jr, José Hamilton. Língua Portuguesa : linguagem e

interação. Vol 1. São Paulo: Ática, 2010. p. 204.