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Neste relato as autoras fazem uma reflexão do uso do espaço público na terapia comunitária. Em contraposição ao trabalho do especialista, que ocorre no espaço privado numa abordagem individual, a terapia comunitária ocorre sempre num espaço público numa abordagem grupal. A relação entre o público e o privado é complexa e muito pouco clara na sociedade brasileira. Na terapia comunitária aborda-se simultaneamente o indivíduo na sua singularidade e na sua inserção familiar, grupal e social. P
Tipologia: Notas de estudo
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Trabalho apresentado na II Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária
Autora: Lia Fukui Co-autora: Liliana Beccaro Marchetti Instituição: TCendo.sp Nemge-USP Endereço: tel (0xx11) 55 73 32 03 E-mail: tcendosp@usp.br ; liafukui@uol.com.br
Neste relato as autoras fazem uma reflexão do uso do espaço público na terapia comunitária. Em contraposição ao trabalho do especialista, que ocorre no espaço privado numa abordagem individual, a terapia comunitária ocorre sempre num espaço público numa abordagem grupal. A relação entre o público e o privado é complexa e muito pouco clara na sociedade brasileira. Na terapia comunitária aborda-se simultaneamente o indivíduo na sua singularidade e na sua inserção familiar, grupal e social. Portanto na terapia comunitária se exercita o domínio do espaço público pelo indivíduo.
O presente texto é uma continuidade do texto anterior apresentado no I Congresso de Terapia Comunitária em 2003 1 , são colocações, a partir da prática em Terapia Comunitária, em vários grupos na cidade de São Paulo. Têm por objetivo avançar na compreensão, ampliar os horizontes e permitir extrair ensinamentos de situações de grande complexidade que depara freqüentemente o terapeuta comunitário. Além de acreditarmos que uma prática bem fundamentada facilita o trabalho de quem a pratica, levando em conta o esclarecimento do que fazemos.
A terapia comunitária é um espaço aberto ... de ajuda mútua ... para se crescer como Pessoa, definiu adequadamente uma participante de um encontro. Uma terapia comunitária, onde quer que ela ocorra, compreende sempre um conjunto de relações, num emaranhado de situações que sempre extrapolam o âmbito individual e familiar. Um grupo de pessoas numa praça, um grupo de vizinhança reunido numa casa; pacientes e familiares no corredor de um hospital; pessoas numa sala de espera; um grupo reunido num salão paroquial ou numa outra filiação religiosa; uma associação de bairro; o pátio de uma escola; uma unidade de saúde; um centro cultural; uma empresa são locais onde pode ocorrer periodicamente reuniões de Terapia Comunitária(TC). O que distingue a TC do funcionamento regular destas instituições? O que distingue a TC das demais práticas de terapia de grupo?
(^1) - Fukui,L; Marchetti,L; Vianna,M.S. 2003:7-
Estas caracterizações a respeito da TC são do conhecimento de todos os terapeutas comunitários e portanto o óbvio – e relembro apenas para avançar, umaafirmação que foi suscitada pela prática de TC que colocamos em pauta:A terapia comunitária é uma forma de atuação no espaço público O que é o público?: No Dicionário Houaiss público^2 * refere-seà coletividade, o que pertence a todos, comum, aberto a quaisquer pessoas, sem caráter secreto; manifesto; transparente. Em lugar público, a vista de todos. Lugar para vivenciar, experimentar o diferente. Para tomar conhecimento das mil maneiras de viver, de acreditar, de valorizar a própria experiência em contraposição à experiência do outro. A condição para acontecer a Terapia Comunitária é seu caráter público:transparente, manifesto, grupal. Entendendo-se por transparente - o que é isento de sentidos ocultos, de obscuridade.Manifesto. o que é reconhecido como verdadeiro, sem ser contestado.Grupal – todas as manifestações no grupo resolvem-se no próprio grupo mesmo as manifestações individuais. O grupo é soberano. Diferentemente do trabalho do especialista que é centrado na relação pessoa – a pessoa, no âmbito do privado e do segredo.A coisa pública não é secreta: não é necessário calar sobre ela. Um exemplo,num encontro de TC. Uma senhora de classe media, paroquiana tem um sobrinho envolvido com drogas. Ela ouve o depoimento de um ex-homem de rua, ex- drogado, ex-alcoolista, ex-fumante hoje um profissional qualificado (é cozinheiro) em vias de obter uma qualificação melhor. Essas pessoas pertencem a mundos diferentes, mesmo que cruzem os mesmos ambientes, jamais teriam um tema de conversação ou uma aproximação qualquer. Ambos estariam movidos por preconceitos e estereótipos
que os afastaria de qualquer contato mesmo mínimo. Na Terapia Comunitária o contato não só existe, como o depoimento do homem de rua é qualificado pela paroquiana. Esta senhora de classe média valorizou a experiência, as dificuldades, o sofrimento e o conhecimento e tomou para si informações valiosas de como lidar com o sobrinho. Como se justifica teoricamente esta atuação no espaço público? Norbert Elias, ao discorrer sobre “a sociedade dos indivíduos” vai demonstrar, como em todas as sociedades, a despeito do individualismo exacerbado de algumas delas prevalece, na percepção da identidade, uma estreita relação do EU-NÓS. Entendida como“faces de uma mesma moeda”. Na vida prática, no trato direto com as pessoas, costuma parecer perfeitamente óbvio que esses aspectos diferentes dos seres humanos são inseparáveis. Parece muito natural que alguém seja a pessoa singular chamada Hans-Heinz Weber, que é, ao mesmo tempo, alemão, bávaro, cidadão de Munique, católico, editor, casado, pais de três filhos. As lentes de atenção podem ser reguladas num foco mais amplo ou mais restrito; pode concentrar-se naquilo que distingue uma pessoa de todas as demais como uma coisa única; ou naquilo que a vincula às outras, em suas relações com, elas e sua dependência delas; e por fim, pode enfocar as mudanças e estruturas específicas da rede de relações de que ela faz parte (ELIAS, 1994:76) e mais ... não é difícil reconhecer que todos os modos de pensamento e discurso que levam à utilização dos termos “indivíduo” e “sociedade” como se eles se referissem a duas entidades distintas e independentes – sem excluir a idéia de sua “relação recíproca” – são muito elementares e não particularmente adequadas. (ELIAS, 1994: 77). Um último ponto que gostaríamos de explicitar é o seguinte: a Terapia Comunitária é diferente das demais terapias de grupo e ancora-se na Teoria de Sistemas, na Teoria da Comunicação e na Antropologia Cultural e tem por objeto o atendimento básico e a prevenção em Saúde Mental.
(^2) - Estamos cientes da complexidade da relação público–privado que começa a ser discutida entre nós pelos especialistas. Veja-se DUPAS, Gilberto – Tensões contemporâneas entre o público e o privado. São Paulo, 2003. Não
profissionais formados para atender as pessoas individualmente no espaço privado, restrito à confidência, e ao segredo terão de passar necessariamente por uma reciclagem: o assistente social aprimorará a escuta e aprenderá a não dar conselhos ou a dar soluções para a vida do outro, o psicólogo aprenderá a não interpretar e a confiar que o grupo é soberano para acolher e apontar soluções para os problemas individuais ou grupais. O sociólogo aprenderá a não generalizar e a lidar com toda a complexidade do empírico sem teorizar apressadamente. Repetimos o espaço público tem exigências outras, diversas da atuação do especialista voltado para o privado.
III -. A Terapia Comunitária como uma forma de atuação no espaço público permite parcerias com as grandes instituições. Um exemplo. Inspiradas pelo trabalho de Maria do Socorro Gomes e Ariadna Nunes 3 “A trajetória de Implementação da Terapia Comunitária na Casa do Estudante da Universidade de Brasília” apresentado no I Congresso em 2003 nós do TCendo.sp procuramos o Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo, o CRUSP. Apresentamos um projeto de implantação de Terapia Comunitária para os moradores e funcionários num espaço aberto, de preferência uma praça. Denominamos o projetoTerapia Comunitária um espaço de reflexão sobre a convivência no CRUSP. Respeitando a hierarquia da instituição introduzimos, através da Terapia Comunitária, o novo na instituição (um momento de ausência de hierarquia formal). Aboliram-se as hierarquias permaneceram as diferenças individuais num contexto outro, o comunitário.
(^3) Gomes, M. S.; Nunes A. 2003:81-
♦ Fukui,L; Marchetti,L; Vianna, M. S. L. - “Terapia Comunitária e o conceito de comunidade: a contribuição da sociologia”In: Barreto, A; Camarotti H ( orgs): A Terapia Comunitária no Brasil. Anais dos trabalhos apresentados no I Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Morro Branco, CE – Maio, 2003. ♦ Dicionário Houaiss - Rio de Janeiro Editora Objetiva 2001 ♦ Dupas, Gilberto – Tensões contemporâneas entre o público e o privado. São Paulo. Paz e Terra, 2003. ♦ Elias, Norbert - A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 1994 ♦ Gomes, M. S. e Nunes, A. - “A Trajetória de Implementação da Terapia Comunitária na Casa do Estudante da Universidade de Brasília” In; Barreto,A; Camarotti, H. A Terapia Comunitária no Brasil. Anais dos trabalhos apresentados no I Congresso Brasileiro de Terapia Comunitária. Morro Branco Ce- 2003:81-