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Guias e Dicas
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Sobre Delírios e Alucinações, Manuais, Projetos, Pesquisas de Psicologia

Discussão sobre delírios e alucinações vistos aqui como classes de comportamentos-problema.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 14/09/2020

leison-nunes
leison-nunes 🇧🇷

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Sobre Delírios e Alucinações
Ilma A Goulart de Souza Britto1
Universidade Católica de Goiás
1
Endereço: Rua 53 n.º 206, Jardim Goiás, Goiânia-GO. Email: - Telefax: 62 281-7400ilmagoulart@brturbo.com
Resumo
Abstract
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma discussão sobre delírios e alucinações vistos
aqui como classes de comportamentos-problema. Delírios e alucinações são analisados sob o
enfoque de uma ciência natural, com base nas contribuições da teoria do comportamento verbal de
Skinner (1957) e da teoria de linguagem de Staats (1996). Para ilustrar a interpretação
comportamental para aquelas classes de comportamentos verbais, foram utilizadas cenas do filme
Uma Mente Brilhante. O filme apresenta a história verídica de um homem diagnosticado como
esquizofrênico paranóico. Termos como delírio e alucinação são freqüentemente associados a
conceitos mentalistas como explicações ativas do comportamento. O comportamento é explicado
pelo conceito, de forma circular. É proposto que em vez de conceitos mentais, são os
comportamentos estranhos, fora do comum, que devem se tornar objetos de estudo.
Palavras chaves: Delírios; alucinações; comportamento verbal; análise do comportamento.
The present paper has the objective of presenting a discussion about delirium and hallucinations
seen here as classes of problem behaviors. Delirium and hallucination are analysed under a natural
science point of view, based on the contributions of Skinner's (1957) theory of verbal behavior and
Staats (1996) language theory. Scenes of the movie A Beautiful Mind were used to illustrate the
behavioral interpretation of such class of verbal behaviors. The motion picture presents the true
story of a man diagnosed as paranoid schizophrenia. Delirium and hallucination are words
frequently associated with mentalistic concepts as active explanations of behavior. The behavior is
explained by the concept, in a circular way. It is proposed that instead of mental concepts, it is the
strange, out of the ordinary behaviors that should become object of study.
Key Words: Delusion; hallucination; verbal behavior; behavioral analysis.
ISSN 1517-5545
2004, Vol. VI, 1, 061-071
Revista Brasileira de
Terapia Comportamental
e Cognitiva
061
About Delusion and Hallucinations
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Sobre Delírios e Alucinações

Ilma A Goulart de Souza Britto^1 Universidade Católica de Goiás

(^1) Endereço: Rua 53 n.º 206, Jardim Goiás, Goiânia-GO. Email: ilmagoulart@brturbo.com- Telefax: 62 281-

Resumo

Abstract

O presente artigo tem como objetivo apresentar uma discussão sobre delírios e alucinações vistos aqui como classes de comportamentos-problema. Delírios e alucinações são analisados sob o enfoque de uma ciência natural, com base nas contribuições da teoria do comportamento verbal de Skinner (1957) e da teoria de linguagem de Staats (1996). Para ilustrar a interpretação comportamental para aquelas classes de comportamentos verbais, foram utilizadas cenas do filme Uma Mente Brilhante. O filme apresenta a história verídica de um homem diagnosticado como esquizofrênico paranóico. Termos como delírio e alucinação são freqüentemente associados a conceitos mentalistas como explicações ativas do comportamento. O comportamento é explicado pelo conceito, de forma circular. É proposto que em vez de conceitos mentais, são os comportamentos estranhos, fora do comum, que devem se tornar objetos de estudo.

Palavras chaves: Delírios; alucinações; comportamento verbal; análise do comportamento.

The present paper has the objective of presenting a discussion about delirium and hallucinations seen here as classes of problem behaviors. Delirium and hallucination are analysed under a natural science point of view, based on the contributions of Skinner's (1957) theory of verbal behavior and Staats (1996) language theory. Scenes of the movie A Beautiful Mind were used to illustrate the behavioral interpretation of such class of verbal behaviors. The motion picture presents the true story of a man diagnosed as paranoid schizophrenia. Delirium and hallucination are words frequently associated with mentalistic concepts as active explanations of behavior. The behavior is explained by the concept, in a circular way. It is proposed that instead of mental concepts, it is the strange, out of the ordinary behaviors that should become object of study.

Key Words: Delusion; hallucination; verbal behavior; behavioral analysis.

ISSN 1517- 2004, Vol. VI, nº 1, 061-

Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva

About Delusion and Hallucinations

Ilma A Goulart de Souza Britto

O presente estudo tem como objetivo buscar uma compreensão, dentro da análise do comportamento, para duas classes de comportamentos complexos: delírios e alucinações. Em sistemas psiquiátricos de classificação e diagnósticos, estes compor- tamentos são descritos na definição do Transtorno Psicótico, especialmente na Esquizofrenia. O objetivo proposto requer uma rápida apresentação da Teoria de Linguagem de Staats (1996) bem como de alguns fragmentos do livro Comportamento Verbal de Skinner (1957/1978), entre outros. Os comportamentos complexos de uma pessoa diagnosticada como esquizofrênica tem-se tornado uma barreira para a vida na comunidade. Os membros da família ficam confusos, inseguros e temerosos frente ao desafio de tentar mudar tais padrões de comportamento. A pessoa diagnosticada como psicótica evidencia uma forte indi- ferença em suas respostas emocionais, tornando-se cada vez mais ausente do convívio familiar e posteriormente do convívio social. As formulações diagnósticas tradicionais envolvendo atividades mentais têm-se constituído em um obstáculo para a compreensão adequada do comportamento humano complexo. De acordo com Staats e Staats (1963/1973), o comportamento humano complexo parece envolver a linguagem de uma maneira tão predominante que é necessário estudar como o compor- tamento verbal se desenvolve e funciona. O comportamento verbal do esquizofrênico, como qualquer outro comportamento, é modelado e mantido por certas contingências de reforço. Desse modo, para compreender a Esquizo- frenia seria necessário observar os compor- tamentos estranhos ou 'bizarros' do indivíduo diagnosticado, com ênfase na função e conteúdo de suas verbalizações. A fala 'psicótica' é, na maioria das vezes, incoerente e inadequada. Quando um esquizofrênico está delirando, ele se comporta como se ' ou

estímulos que não estão presentes'. Tais atos são problemas do comportamento humano e devem ser investigados por uma ciência comportamental. Ao se referir ao 'ver na ausência da coisa vista' Skinner (1974/1982) sugere que esta é uma expe- riência familiar a quase todos os indivíduos. Skinner (1953/1976, 1957/1978) ressaltou a importância de estudar as relações funcionais relevantes para a ocorrência de eventos na busca das variáveis das quais são funções. Há evidências na literatura de que tais classes são compostas de comportamentos desenvo- lvidos e mantidos pelo reforçamento social (Staats & Staats, 1963/1973; Ayllon & Haughton, 1964). Pessoas diagnosticadas como esquizofrênicas podem aprender falas mais adaptadas quando expostas a contingências ambientais programadas para essa finalidade. No estudo realizado por Britto, Rodrigues, Oliveira & Ribeiro (2004), foram utilizados princípios da Análise Apli- cada do Comportamento para mudar verbalizações delirantes de um participante do sexo masculino, de 49 anos, diagnosticado como esquizofrênico desde os 20 anos de idade. A intervenção foi realizada em duas classes de respostas: (a) falas delirantes que incluíam verbalizações com conteúdos alucinatórios tais como “O diabo não me deixa sorrir” e (b) 'falas adaptadas' que incluíam verbalizações sem conteúdo alucinatório. Para registro e fidedignidade dos dados, todas as sessões foram filmadas. Os procedimentos de Reforçamento Positivo e Extinção foram utilizados pelas auxiliares de pesquisa em sessões de uma hora de duração duas vezes por semana. As 'falas adaptadas' foram seguidas de um sinal de aprovação que tinha o potencial de funcionar como um reforçador social. Para as 'falas delirantes', as auxiliares de pesquisa agiam como se estivessem interessadas em alguma outra coisa, e, às vezes afastava-se do participante, em um procedimento de Extinção. O controle visse experimental foi obtido por meio de um

ouvisse

Ilma A Goulart de Souza Britto

técnicas das ciências naturais e, em última análise, a ser explicado em termos das variáveis de controle” (p. 534).

Do ponto de vista funcional, o comporta- mento verbal, é função de contingências culturais. O comportamento verbal do esquizofrênico deve ser investigado para deixar de ser considerado oculto e misterioso. Para estudar a fala delirante com significados alucinatórios de um indivíduo diagnosticado como esquizofrênico, temos que investigar sua história e registrar o que ele diz, observar o que ele faz, o que ele vê, ouve e toca, a quem ele se dirige, quem o escuta, como fala, com que gestos e expressões faciais. Identificar em que circunstancias cada um desses eventos ocorre ou não ocorre. Em outras palavras, para o entendimento dos fatores que contribuem para a ocorrência de comporta- mentos problema, é necessária uma avaliação funcional que inclua não só a observação como também a manipulação de variáveis importantes. Skinner (1957/1978) afirma que tanto o comportamento encoberto ou privado quanto o aberto ou público sempre é executado pelo mesmo aparato muscular. Em vez de falarmos em delírios e alucinações, que são inferidos do comportamento manifesto da pessoa diagnos- ticada como esquizofrênica, poderíamos falar em estímulos e respostas privados que incluem eventos tais como falar para si mesmo, ouvir e responder a si mesmo. Essas ocorrências privadas de compor-tamentos verbais referem-se a imagens visuais e auditivas, ao responder emocional, a estimulação fisiológica, respostas sensoriais privadas entre outras. Quais são as condições relevantes para a ocorrência dessas percep- ções privadas ou dos aspectos privados do responder emocional? De quais variáveis são função? Assim, ao analisarmos os compor- tamentos privados de uma pessoa rotulada de esquizofrênica, buscamos um conjunto plausível de circunstâncias apropriadas à

compreensão e, principalmente, à modifi- cação daqueles comportamentos. Ao se referir às propriedades de um estímulo presente quando uma resposta verbal foi reforçada, Skinner (1957/1978) afirma que esse estímulo adquire certos controles sobre essa resposta e que esse controle continua a ser exercido quando a propriedade aparece em outras combinações. Esta ampliação do controle é útil, uma vez que cada estímulo compartilha propriedades com muitos outros e, assim, pode controlar uma variedade de respostas. Se o processo de extensão não se verificasse, seria o caos. Skinner (1974/1982) alerta para as dificul- dades em estudar o pensar devido à complexidade do assunto. Afirma que as grandes realizações dos cientistas, matemá- ticos, compositores ou artistas não são mais bem entendidas porque homens que se destacaram nestes campos foram levados pelo mentalismo a dar, erroneamente, informes inúteis de suas atividades. Afirma, também, que por mais deficiente que possa ser uma explicação comportamental, devemos lembrar que o mentalismo nada explica. A teoria de Staats (1996) explica o compor- tamento humano complexo pelas inter- relações entre condicionamento clássico e operante. Sugere, por exemplo, que o estímulo que envolve a eliciação de uma resposta emocional tem três funções. 1) - Um estímulo reforçador define-se como um estímulo que elicia uma resposta emocional. 2) - O estímulo que elicia uma resposta emocional positiva, reforça o comportamento ao qual se segue, e atuará, desse modo, como reforçador positivo. Quanto mais forte a resposta emocional, mais forte a função reforçadora. O mesmo princípio se aplica do lado negativo: há também estímulo que elicia uma resposta emocional negativa. Esse estímulo atuará como reforçador negativo e enfraquecerá o comportamento. 3) - O mesmo estímulo funciona também como estímulo diretivo, (função discriminativa) - se positivo atrairá comportamentos de aproximação e, no caso

Sobre Delírios e Alucinações

negativo, comportamentos de fuga ou esqui- va. Staats (1996) afirma que a vantagem do estudo de laboratório é a simplicidade. Um estímulo simples representa o meio ambiente, uma resposta simples representa o comportamento e utiliza um organismo simples, cujo ambiente foi controlado. Assim, foi possível estabelecer princípios elementares sem a interferência de condições não controladas. Contudo, sugere o autor, a situação simples de laboratório é artificial, distante das situações da vida humana. Tornam-se necessárias então, pontes entre o laboratório e os fenômenos complexos. Um primeiro passo para o avanço dos princípios elementares do condicionamento é simplesmente estendê-los para além das condições específicas nas quais foram estabelecidos. Por exemplo, é necessário mos- trar que o condicionamento clássico e operan- te é aplicável a vários estímulos, a várias respostas e às várias espécies, incluindo os humanos (Staats, 1996). Os condicionamentos de ordem superior, clássico e operante, proporcionam aos humanos uma extraordinária capacidade para aprender respostas emocionais e motoras perante uma variedade de estímulos. Palavras, entretanto, não são estímulos incondicionados determinados biologica- mente. Esta é uma forma de aprendizagem vicária, que não depende da ocorrência de estímulos biológicos. O condicionamento clássico se estende muito além do uso de estímulos incondicionados com base biológica. O condicionamento clássico de uma resposta emocional confere as três funções ao novo estímulo. Assim, “o condicionamento emocio- nal vicário, tem lugar onipresentemente atra- vés da linguagem, afetando o que constitui uma recompensa ou uma punição tanto quanto atua como incentivos positivos ou negativos para os humanos” (Staats, 1996, p.77). De acordo com Staats (1996), nesta inter- relação, o indivíduo pode aprender combi-

nações complexas de estímulos e respostas, de vez que o comportamento humano complexo implica conjuntos complexos de estímulos e hierarquias complexas de respostas que produzem as diferenças individuais. Esse mecanismo é denominado de hierarquia de resposta. As seqüências de respostas ou cadeias podem constituir diferentes tipos de respostas aprendidas via condicionamento clássico e operante: “um estímulo pode provocar uma resposta de imagem, cujo estímulo provoca uma resposta emocional, cujo estímulo por sua vez, provoca uma resposta verbal, cujo estímulo provoca uma resposta motora” (p.79) Sabe-se que é difícil a análise de cadeias complexas de comportamento. Ao se estabelecer uma definição comportamental para os elos encobertos, deve-se tratá-los como processos de estímulos e respostas e não como construtos hipotéticos, que fariam a mediação entre o ambiente e o indivíduo. Staats (1996 p. 80) afirma, que “a aprendi- zagem humana complexa é caracteristica- mente acumulativa e de natureza hierárqui- ca Quando uma criança aprende os nomes de objetos, pessoas e eventos, este repertório de linguagem é a base para que a criança aprenda a nomear objetos novos ou pro- priedades desses objetos. Assim, a criança aprende a contar, depois a fazer operações numéricas. Estes e outros repertórios, num processo acumulativo e hierarquizado, por sua vez, seriam básicos para a aprendizagem da álgebra, que é um requisito para aprender matemática mais avançada, requisito para aprender física. As condições de aprendizagem não são separadas das condições ambientais. Os conceitos seriam aprendidos pelos indivíduos ao longo do seu desenvolvimento através das condições de aprendizagem cotidiana de onde se adquirem os repertórios comporta- mentais básicos. Do exposto, pode-se afirmar que os com- portamentos complexos são resultados dos processos de aprendizagem. Ser um cientista,

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os humanos, com um grande repertório de palavras emocionais positivas e negativas, podem experimentar vicariamente respostas emocionais extremamente variadas por meio da linguagem. Podem-se experimentar emoções às palavras habilmente colocadas por um poeta, escritor ou novelistas. Do mesmo modo, as respostas emocionais podem ser autoprovocadas com a autolin- guagem. Os humanos aprendem um repertório verbal-emocional que contribui na determinação de sua experiência e apren- dizagem emocional. Assim, de acordo com Staats (1996) ainda que os princípios do condicionamento clássico operem na lingua- gem, o processo não é simples. A experiência humana é complexa, como são as suas conseqüências. Também para Skinner (1957/1978), as respostas emocionais são evocadas pelos estímulos verbais. O comportamento verbal amplia os poderes sensoriais do ouvinte. Um fato importante do comportamento verbal é que falante e ouvinte podem ser a mesma pessoa. Como falante e ouvinte, o indivíduo pode evocar nele mesmo, emoções e imagens. Ao analisar as propriedades emocionais das palavras, Staats (1996) lida com os fenômenos comportamentais internos. O auto-reforça- mento envolve a autolinguagem, circuns- tância na qual as palavras eliciam uma res- posta emocional. Outras funções das palavras emocionais, de acordo com a presente terminologia, são reforçar e direcionar (função discriminativa) o comportamento. Uma pessoa em cuja história de vida houve a p a l a v r a ' a b o r t o ' c o n d i c i o n a d a p o r emparelhamento com a palavra 'assassinato' poderá atuar negativamente contra as clínicas que o praticam. Além da função produtora de emoções, Staats (1996) considera que qualquer estímulo externo ao qual o organismo é sensível está eliciando no organismo uma. Os estímulos ambientais eliciam sensações, ou respostas sensoriais. Tais respostas sensoriais podem ser condicionadas em forma de

imagens, que se condicionam às palavras, a um grande número de palavras. Como exemplo, a palavra provoca uma imagem porque a palavra foi emparelhada com casas. O mesmo pode ocorrer para uma variedade de palavras: , entre tantas outras. Uma vez aprendidas, tais palavras são instrumentos para produção de imagens. O é importante porque proporciona a base para novas aprendizagens e pode afetar também o comportamento. Assim, os humanos, pela exposição à linguagem, podem ter experiências sensoriais imagens. Além dos nomes que produzem imagens completas do objeto, Staats (1996) afirma, que os adjetivos e os advérbios eliciam imagens envolvendo apenas parte dos objetos ou eventos; por exemplo, a palavra “ elicia uma imagem de “ ” porque a palavra foi emparelhada com eventos diferentes que têm em comum as mesmas características estimulativas, a de ser branco. Uma vez aprendida, a palavra pode combinar-se com outras palavras que eliciam respostas de imagens diferentes, cujo resultado será uma combinação de imagens. Skinner (1953/1976) propôs que as respostas sensoriais podem ser eliciadas por estímulos neutros com base no condicionamento pavloviano: “Pode-se ver ou ouvir 'estímulos que não estejam presentes' nos padrões do reflexo condicionado: vemos X, não apenas quando X está presente, mas quando qualquer estímulo que freqüentemente acompanha X for apresentado. A sineta que anuncia o jantar não só nos faz ficar com água na boca, mas nos faz ver o alimento também” (p. 154).

Sob a ótica de Staats (1996), a sensação não é apenas um processo sensorial; é um processo de resposta que produz um processo sensorial com características estimulantes internas, que por sua vez produz um estímulo interno. A vantagem de nomear as sensações como

resposta sensorial

casa

livro, cachorro, papai

repertório verbal-imagem

branco” brancura

branco

Ilma A Goulart de Souza Britto

respostas é dizer que elas são aprendidas, que se pode condicionar um organismo a ter uma resposta sensorial. Como conseqüência do condicionamento, uma resposta sensorial pode ser provocada por um estímulo diferente do estímulo que simplesmente provoca a sensação. Essa sensação aprendida, que ocorre na ausência de um estimulo sensorial, pode ser nomeada com terminologia simples: imagem. Uma imagem é, então, um estímulo interno. Sob certas circunstâncias, uma imagem pode ser nomeada de alucinação. Uma alucinação pode ser definida como uma resposta sensorial, isto é, ver ou ouvir privadamente com os 'olhos do imaginar', dependendo da história anterior; não na presença do estímulo público, e falar a alguém que 'de fato' está vendo. Assim, uma alucinação pode ser considerada como uma resposta sensorial que foi condicionada a qualquer estímulo e que pode ser provocada por esse estímulo. Devido à resposta, e aos eventos estimuladores envolvidos na resposta sensorial condicio- nada serem internos e inacessíveis à observação direta, os estudos envolvem manipulações que produzem o condicio- namento. A evidência do condicionamento é a mudança no comportamento do sujeito. As respostas sensoriais, com características estimuladoras, evocam imagens - e essas são aprendidas via condicionamento clássico (Staats 1996). A complexidade e as controvérsias relativas a estas questões podem ser elucidadas, de acordo com Staats (1996), da seguinte maneira: em primeiro lugar, dar ao evento cognitivo - - uma definição comporta- mental é declarar que tal evento atua de acordo com os princípios comportamentais. Em segundo lugar, deve-se demonstrar o modo como os princípios comportamentais, via imagens, podem afetar outros compor- tamentos. Terceiro, as respostas sensoriais podem ser condicionadas. E, respostas sensoriais condicionadas têm propriedades

estimuladoras - - por meio das quais outras respostas podem ser condicionadas. Em face destas considerações, tanto os estímu- los públicos quanto os privados podem controlar a resposta 'ver na ausência do objeto'. Contudo, se uma pessoa relata ver uma imagem, então a pessoa vê na ausência dos estímulos públicos, mas na presença dos estímulos privados. Ver ou ouvir, necessa- riamente não exigirá a presença dos estímulos públicos. Se o relato verbal da pessoa sobre 'ver na ausência da coisa vista' foi condi- cionado pelo ambiente, então a pessoa responderá, mais provavelmente, sob o controle daqueles estímulos privados. De acordo com Staats (1996) as palavras podem ser utilizadas para eliciar o compor- tamento de outra pessoa. O consiste em palavras que eliciam uma resposta motora específica no indivíduo. Aprendemos um grande número de unidades verbais motoras novas, a partir das unidades verbais motoras aprendidas, via condicio- namento operante de ordem superior. Parte do repertório verbal-motor envolve aprendi- zagem para responder de forma motora não apenas aos , mas também aos e. O verbo determina qual resposta será dada. O advérbio determina variações na resposta, por exemplo, rapidez ou lentidão. O substantivo determina para qual estímulo a resposta será dada, e o adjetivo proporciona uma especificação adicional ao estímulo. A instrução “pressione rapidamente o botão vermelho” irá determinar a resposta par- ticular, a forma da resposta e o objeto estimular particular para o qual a resposta será dada. Por outro lado, quanto mais rico for o repertório verbal-motor de um indivíduo, mais finamente ele poderá direcionar seu comportamento. Falar para si mesmo, isto é, autolinguagem, pode também produzir emoções e imagens via repertórios verbal- emocional e verbal-imagem. A linguagem tem múltiplas funções.

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repertório verbal- motor

verbos substantivos, adjetivos advérbios

Ilma A Goulart de Souza Britto

era hostilizado e ridicularizado pelos pares e desse modo respondia a eles. Ambicioso, procurava desenvolver sua independência intelectual e mostrava-se atento aos proble- mas cotidianos não resolvidos. Buscava-os por toda parte, inclusive no movimento dos pássaros, e desenvolvia fórmulas nas vidraças. Observou e descreveu sua idéia original das relações de interdependência entre os fenômenos. É possível afirmar que Nash fazia verbaliza- ções descritivas dos eventos por ele expe- rienciados e, efetivamente era controlado por eles. Assim, Nash agia de acordo com as auto- regras, mesmo que as circunstâncias fossem desfavoráveis ao seu comportamento. Em seus monólogos alucinatórios compor-tava-se como falante e ouvinte, respondendo a si mesmo. Agia sob forte influência dos estímulos verbais privados, dos processos sensoriais que produziam nele imagens visuais e imagens auditivas que afetavam seu comportamento. Qualquer evento que envolvesse sons, barulhos ou pessoas estranhas, eliciava intensas respostas emocionais negativas que direcionavam suas respostas de esquivas ou fugas. Nash 'via e ouvia' pessoas imaginárias que o acompanhavam em situações especiais e exerciam funções diferenciadas em sua vida. Um “amigo” e a “sobrinha do amigo” eram altamente reforçadores. Apareciam em sua vida em momentos críticos, quando precisava de amigos. Outra imagem era um “agente” especial que o mantinha informado das conspirações, dando-lhe 'dicas' ou instruções. O “agente” tinha função reforçadora e, às vezes, função coercitiva e/ou punitiva. Em um momento dramático do filme, Nash enfrenta suas próprias imagens visuais e auditivas numa tentativa de expulsá-las de sua vida ou pelo menos neutralizar sua influência. Havia aprendido com Alicia - sua esposa - a discriminar seus estados internos e a confrontá-los com as contingências públicas às quais era exposto. É possível falar de Esquizofrenia não como 'transtorno mental' ou como 'doença'. Se a Esquizofrenia afetasse o cérebro, então ela seria uma doença cerebral, não mental. Até a

presente data, não existe um fator etiológico que a explique. Mesmo através de exames de última geração, que registram imagens do cérebro, os resultados permanecem incon- clusivos (Britto, 1999). Os comportamentos estranhos, fora do comum, são os que se tornam objeto de estudo quando se analisa o comportamento da pessoa diagnosticada como esquizofrênica. O comportamento é discrepante, com causas tão enigmáticas que é fácil (ou simplista) postular princípios mentalistas ou orgânicos para explicá-lo. Skinner (1953/1976 p.32) afirma que o comportamento humano é um dos objetos mais difíceis dentre os que foram alvo dos métodos de ciência: “é um objeto de estudo pelo menos tão difícil quanto à química dos materiais orgânicos ou a estrutura do átomo”. Para aprofundar a compreensão do compor- tamento humano complexo, deve-se preparar para o caráter rigoroso que a ciência requer. Observa-se que a inferência de um termo mentalista sugere uma pseudocausa. Os comportamentos estranhos não são explica- dos de fato, suas causas são apenas inferidas. Classes de comportamento podem ser descritas pelo termo delírio. A pessoa descreve que está sendo perseguida, espionada ou ridicularizada. Também descreve, como Nash, que certos gestos, letras de músicas, comentários e passagens de livros, jornais, são dirigidos especificamente a ela. Assim, termos como delírio e alucinação acabam sendo tomados como explicações ativas do comportamento, de vez que o comportamento é explicado pelo conceito. A circularidade destas explicações se torna evidente quando se pergunta: “como você sabe que esta pessoa é esquizofrênica?”. A resposta: “porque ela delira”. E, por que ela delira? Nova resposta simplista e circular: “porque ela é esquizofrênica”. Com relação à Esquizofrenia, que haja uma determinação biológica, ainda que provas nunca tenham sido apresentadas. Staats (1996) afirma que se há uma deter- minação biológica num transtorno compor- tamental, então, a biologia exerce seus efeitos

acredita-se

Sobre Delírios e Alucinações

Referências

Recebido em: 09/03/ Primeira decisão editorial em:14/06/ Versão final em: 19/06/ Aceito em:21/06/

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The Behavior Analyst 23 Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais

Human Learning. Studies extending conditioning principles to complex behavior.

Poder Saber X Doença Mental

Avaliação Funcional de Delírios e Alucinações

Sobre Comportamento e Cognição: a história e os avanços, a seleção por conseqüência em ação, Vol. 11

. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva 3 (2), Uma Mente Brilhante Ciência e Comportamento Humano

Comportamento Verbal

Sobre o Behaviorismo

Questões Recentes na Análise do Comportamento

Behavior and Personality: Psychological Behaviorism

Comportamento Humano Complexo

através da via comportamental, de vez que é o comportamento do indivíduo que está transtornado. Skinner previu, ainda na década de trinta, que variáveis ambientais produzem efeitos fisiológicos que podem ser inferidos do comportamento. O objetivo principal deste estudo foi discutir e estimular a pesquisa sobre delírios e aluci- nações, dentro de uma perspectiva da análise do comportamento e do behaviorismo de

Staats. Para que os analistas de compor- tamento investiguem e teorizem mais sobre delírios e alucinações, é necessária uma maior compreensão das conseqüências desses comportamentos complexos para a pessoa e para a comunidade. Acredita-se que, com esse artigo, foi possível obedecer a uma regra da curiosidade cien- tífica, que é a de abrir ou reabrir questões mais do que fechá-las.