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Sidney Sheldon - Se houver amanhã, Notas de estudo de Engenharia Elétrica

livro interessante com muito suspense

Tipologia: Notas de estudo

2010
Em oferta
30 Pontos
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Compartilhado em 26/10/2010

hiago-araujo-11
hiago-araujo-11 🇧🇷

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Se Houver Amanhã
Sidney Sheldon
Titulo original norte-americano: IF TOMORROW COMES
Digitalização: E-books Brasil
Figurando entre os melhores romancistas contemporâneos - e
também entre os mais lidos em todo o mundo - o escritor Sidney
Sheldon, cujas personagens famosas e infames de O Outro Lado
da Meia-Noite, A Herdeira, A Ira dos Anjos e O Reverso da
Medalha encantaram e às vezes chocaram seus milhões de
leitores, apresenta-nos agora a mais atraente de suas
heroinas.
A adorável e idealista Tracy Whitney não consegue livrar-se de
uma acusação falsa e é condenada a 15 anos de prisão, pena que
vai cumprir numa penitenciária da qual é impossível fugir.
Ela, porém, não se abate e luta para destruir os intocáveis
senhores do crime que a mandaram para lá.
Suas únicas armas são a inteligência e uma estonteante beleza,
e com elas Tracy se lança numa sucessão de aventuras ousadas
contra os golpes inescritipulosos que lhe aplicam - e desafiam
tanto a Interpol como as polícias de meia dúzia de países. A
acção incessante da história se movimenta de Nova Orleans a
Londres, Paris, Biarritz, Madri e Amsterdam, e numa
confrontação explosiva a heroina de Se Houver Amanhã encontra
seu igual no irresistível Jeff Stevens, de passado tão
pitoresco quanto o dela. E sempre ao fundo, vigiando e
esperando, está o génio maligno Daniel Cooper, que precisa
destruir Tracy, a fim de garantir sua própria salvação.
PARA BARRY
COM AMOR
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Se Houver Amanhã

Sidney Sheldon Titulo original norte-americano: IF TOMORROW COMES Digitalização: E-books Brasil Figurando entre os melhores romancistas contemporâneos - e também entre os mais lidos em todo o mundo - o escritor Sidney Sheldon, cujas personagens famosas e infames de O Outro Lado da Meia-Noite, A Herdeira, A Ira dos Anjos e O Reverso da Medalha encantaram e às vezes chocaram seus milhões de leitores, apresenta-nos agora a mais atraente de suas heroinas. A adorável e idealista Tracy Whitney não consegue livrar-se de uma acusação falsa e é condenada a 15 anos de prisão, pena que vai cumprir numa penitenciária da qual é impossível fugir. Ela, porém, não se abate e luta para destruir os intocáveis senhores do crime que a mandaram para lá. Suas únicas armas são a inteligência e uma estonteante beleza, e com elas Tracy se lança numa sucessão de aventuras ousadas contra os golpes inescritipulosos que lhe aplicam - e desafiam tanto a Interpol como as polícias de meia dúzia de países. A acção incessante da história se movimenta de Nova Orleans a Londres, Paris, Biarritz, Madri e Amsterdam, e numa confrontação explosiva a heroina de Se Houver Amanhã encontra seu igual no irresistível Jeff Stevens, de passado tão pitoresco quanto o dela. E sempre ao fundo, vigiando e esperando, está o génio maligno Daniel Cooper, que precisa destruir Tracy, a fim de garantir sua própria salvação. PARA BARRY COM AMOR LIVRO UM 1

Nova Orleans QUINTA-FEIRA, 20 DE FEVEREIRO - 23 HORAS Ela despiu-se devagar, em devaneio; quando estava nua, escolheu um negligê vermelho vivo para usar, a fim de que o sangue não aparecesse. Doris Whitney olhou ao redor pela última vez, a fim de certificar-se de que o quarto agradável, que tanto passara a amar ao longo dos últimos 30 anos, se encontrava arrumado e impecável. Abriu a gaveta da mesinha-de-cabeceira e tirou a arma, com todo cuidado. Colocou-a ao lado do telefone e discou para a filha em Filadélfia.

  • Tracy... senti vontade de repente de ouvir o som de sua voz, querida.
  • Que surpresa boa, mamãe.
  • Espero não tê-la acordado.
  • E não acordou. Eu estava lendo. Aprontando-me para dormir. Charles e eu íamos sair para jantar fora, mas o tempo está horrível. Neva muito por aqui. Como está aí? "Santo Deus, estamos falando sobre o tempo", pensou Doris Whitney, "quando há tanta coisa que quero lhe dizer. E não posso".
  • Mamãe? Você ainda está aí? Doris Whitney olhou pela janela.
  • Está chovendo. E ela pensou: Como é melodramaticamente apropriado. Parece até um filme de Alfred Hitchcock.
  • Que barulho é esse, mamãe? Trovoada. Tão absorta em seus pensamentos, Doris Whitney percebera. Nova Orleans sofria uma tempestade. Chuva contínua dissera o homem da previsão do tempo. Dezanove graus em Nova Orleans. Ao cair da noite haverá chuvas torrenciais, acompanhadas de trovoadas. Não se esqueçam de sair com o guarda-chuva. Ela não precisaria de um guarda-chuva.
  • É uma trovoada, Tracy. - Ela forçou um tom de jovialidade na voz. - Conte-me o que está acontecendo aí em Filadélfia.
  • Eu me sinto como uma princesa num conto de fadas mamãe. Nunca imaginei que alguém pudesse ser tão feliz. E amanhã de noite conhecerei os pais de Charles.

contas. - Eu a amo muito, Tracy. Mas muito mesmo. Lentamente, Doris Whitney repôs o telefone no gancho Ela pegou a arma. Só havia uma maneira de fazê-lo. Depressa. Ela levantou a arma para a têmpora e puxou o gatilho. 2 Filadélfia SEXTA-FEIRA, 21 DE FEVEREIRO 8 HORAS Tracy Whitney saiu do saguão do seu prédio de apartamentos para uma chuva implacável, misturada com neve, que caía imparcialmente sobre as polidas limusines que desciam pela Market Street, conduzidos por motoristas uniformizados, e sobre as casas abandonadas e, fechadas com tábuas dos cortiços do norte de Filadélfia. A chuva lavava as limusines, deixando-as ainda mais limpas, ao mesmo tempo em que convertia numa confusão molhada o lixo acumulado na frente das fileiras de casas negligenciadas. Tracy Whitney estava a caminho do trabalho. Seu ritmo era animado enquanto seguia para leste, pela Chestnut Street, na direcção do banco. Tinha de fazer um esforço para não se pôr a cantar em voz alta. Usava capa e botas amarelas, um chapéu de chuva também amarelo, que mal conseguia conter uma massa de cabelos castanhos lustrosos. Tinha vinte e poucos anos, um rosto exuberante e inteligente, a boca cheia e sensual, olhos faiscantes, que podiam mudar de um suave verde-musgo para um jade escuro de um momento para outro, um corpo esbelto e atlético. A pele passava por toda a gama de branco translúcido a um rosa profundo, dependendo se estava irada, cansada ou excitada. A mãe lhe dissera certa ocasião:

  • Sinceramente, criança, há ocasiões em que não a reconheço. Você muda de um instante para outro. Agora, enquanto Tracy descia pela rua, as pessoas se viravam para sorrir, invejando a felicidade que brilhava em seu rosto. Ela retribuía aos sorrisos. É indecente para qualquer pessoa ser tão feliz, pensou Tracy Whitney. Estou casando com o homem que amo e terei o seu

filho. O que mais alguém poderia pedir? Ao se aproximar do banco, Tracy olhou para o relógio. Oito e vinte. As portas do Philadelphia Trust and Fidelity Bank não se abririam para os empregados por outros dez minutos, mas Clarence Desmond, o vice-presidente sénior, no comando do departamento internacional, já estava desligando o alarme externo e abrindo a porta. Tracy gostava de assistir ao ritual matutino. Ficou parada na chuva, esperando, enquanto Desmond entrava no banco e trancava a porta. Os bancos do mundo inteiro possuem misteriosos processos de segurança e o Philadelphia Trust and Fidelity Bank não era excepção. A rotina jamais variava, a não ser pelo CÓDIGO de segurança, que era mudado todas as semanas. O CÓDIGO daquela semana era uma persiana parcialmente abaixada, indicando aos empregados esperando lá fora que se realizava uma revista, a fim de verificar se não havia intrusos escondidos nas instalações, aguardando a entrada deles para convertê-los em reféns. Clarence Desmond estava efectuando uma busca pelos banheiros, depósito, caixa-forte e área dos cofres particulares, Somente depois de estar plenamente convencido de que se encontrava sozinho no interior do banco é que levantaria a persiana, como um sinal de que estava tudo bem. O contador sénior sempre era o primeiro empregado a ser admitido. Ele ocuparia o seu lugar ao lado do alarme de emergência, até que todos os outros empregados entrassem, depois trancaria a porta. Pontualmente às oito e meia Tracy Whitney entrou no saguão ornado com seus colegas de trabalho, tirou a capa, o chapéu e as botas, escutou com um divertimento secreto os outros se, queixarem do tempo chuvoso.

  • O maldito vento arrancou-me o guarda-chuva - lamentou um caixa. - Estou encharcado.
  • Passei por dois patos nadando na Market Strect - comentou jovialmente o chefe dos caixas.
  • A previsão do tempo é de que podemos esperar por mais uma semana assim. Eu gostaria de estar na Flórida. Tracy sorriu e começou a trabalhar. Era encarregada do departamento de transferências por cabo. Até recentemente,

pagarem as quantias assombrosas que haviam tomado emprestado dos bancos do mundo inteiro e dos governos ocidentais. Charles a princípio se mostrara divertido e depois atraído pelos argumentos veementes da linda moça à sua frente. A discussão se prolongara pelo jantar no velho restaurante Bookbinder's. No começo, Tracy não se impressionara com Charles Stanhope III, mesmo sabendo que ele era considerado o grande prémio de Filadélfia. Charles tinha 35 anos, era rico e vitorioso, pertencia a uma das famílias mais tradicionais de Filadélfia. Com 1,78 metros de altura, cabelos cor de areia ficando ralos, olhos castanhos e uma atitude confiante, até mesmo um pouco pedante, ele era um dos ricos maçantes, na opinião de Tracy. Como se lesse os seus pensamentos, Charles se inclinara sobre a mesa e dissera:

  • Meu pai está convencido de que lhe deram o bebé errado no hospital.
  • Como?
  • Sou um retrocesso. Acontece que não penso que o dinheiro é o fim de tudo e a coisa mais importante na vida. Mas, por favor, jamais conte a meu pai que eu lhe disse isso. Havia nele uma despretensão tão encantadora que Tracy se descobrira a apreciá-lo. Imagino como seria estar casada com alguém assim... um homem da alta sociedade. O pai de Tracy levara a maior parte de sua vida para construir um negócio que os Stanhopes desdenhariam como insignificante. Os Stanhopes e os Whitneys jamais se misturariam, pensara ela. Óleo e água. E os Stanhopes são o óleo. E por que estou reagindo como uma idiota? É ego demais. Um homem me convida para jantar e já estou decidindo se quero ou não casar com ele. Provavelmente nunca mais tornaremos a nos encontrar... Charles estava dizendo nesse instante:
  • Por acaso está livre para jantarmos de novo amanhã? Filadélfia era uma cornucópia espectacular de coisas para ver e fazer. Nas noites de sábado, Tracy e Charles iam ao balé ou assistiam Riccardo Muti conduzir a Sinfónica de Filadélfia. Durante a semana, exploravam New Market e o singular amontoado de lojas de Society Hill, vagueavam pelo Museu de Arte de

Filadélfia e o Museu Rodin. Tracy parara um dia diante da estátua de O Pensador. Olhara para Charles e sorrira.

  • É você! Charles não se interessava por exercício, mas Tracy adorava Assim, nas manhãs de domingo, ela corria pelo West River Drive ou pelo passeio que acompanhava o Rio Schuylkifl. Na tarde de sábado frequentava uma aula de t'ai chi ch'uan. Depois de uma hora de exercício, exausta mas exultante, ia se encontrar com Charles, no apartamento dele. Ele era um cozinheiro gourmet e gostava de preparar pratos esotéricos como bistilla marroquins, guo bu li, os bolinhos de massa e carne do norte da China, e tahine de poulet au citron. Charles era a pessoa mais meticulosa que Tracy já conhecera. Ela chegara um dia atrasada 15 minutos para o jantar e o desprazer de Charles lhe estragara o resto da noite. Depois disso, ela jurara que seria sempre pontual com ele. Tracy tinha muito pouca experiência sexual, mas parecera-lhe que Charles fazia amor da mesma maneira como levava a sua vida; meticulosamente, sempre da maneira conveniente. Houvera uma ocasião em que Tracy decidira ser ousada e anticonvencional na cama. Deixara Charles tão chocado que secretamente se perguntou, se ela não seria alguma espécie de maníaca sexual. A gravidez fora inesperada; quando acontecera, Tracy se descobrira dominada pela incerteza. Charles não levantara a questão do casamento e ela não queria que ele se sentisse na obrigação de casar por causa do bebé. Não tinha certeza se poderia enfrentar um aborto, mas a alternativa era uma opção igualmente angustiosa. Poderia criar uma criança sem a ajuda do pai? Isso seria justo com a criança? Uma noite, depois do jantar, Tracy resolvera dar a notícia a Charles. Preparara um cassoulet para ele, em seu próprio apartamento, acabara deixando-o queimar, de tanto nervosismo. Ao pôr a carne chamuscada na mesa, ela esquecera o discurso cuidadosamente ensaiado e balbuciara desordenadamente:
  • Sinto muito, Charles. Eu... estou grávida. Houvera um silêncio insuportavelmente prolongado. Quando Tracy

o ponteiro das horas se aproximava do nove, ele encaminhou-se para a porta e cerimoniosamente destrancou-a. O dia bancário começara. Durante as horas subsequentes, Tracy se manteve ocupada demais no computador para pensar em qualquer outra coisa. Cada transferência tinha de ser conferida, a fim de certificar-se de que exibia o CÓDIGO correcto. Quando havia um débito, ela registrava o número da conta, a quantia e o banco para o qual o dinheiro estava sendo transferido. Cada banco possuía o seu próprio número de CÓDIGO; havia um catálogo confidencial que continha os CÓDIGOs de todos os principais bancos do mundo. A manhã passou voando. Tracy planejava aproveitar a hora do almoço para arranjar o cabelo e tinha uma hora marcada com Larry Stefla Botte. Ele cobrava caro, mas valia a pena, pois ela queria que os pais de Charles a conhecessem em sua melhor aparência. Tenho de fazer com que eles gostem de mim. Não me importo com quem escolheram para Charles, pensou Tracy. Ninguém pode fazer Charles tão feliz quanto eu farei. à uma hora da tarde, quando Tracy pegava sua capa, Clarence Desmond convocou-a para seu gabinete. Desmond era a própria imagem de um executivo importante. Se o banco fizesse comerciais de televisão, ele seria o porta-voz perfeito. Vestia-se conservadoramente, com um ar de autoridade sólida e antiquada, parecia uma pessoa em quem se podia confiar.

  • Sente-se, Tracy. - Ele se orgulhava de conhecer o primeiro nome de cada empregado. - Um tempo horrível, não é, mesmo?
  • É, sim.
  • Mas as pessoas ainda precisam cuidar dos seus problemas bancários. - Desmond esgotara todo o seu estoque de conversa amena. Inclinou-se agora sobre a mesa e acrescentou: - Soube que você e Charles Stanhope estão noivos. Tracy ficou surpresa.
  • Ainda não anunciamos. Como... Desmond sorriu.
  • Qualquer coisa que os Stanhopes fazem é notícia. Estou muito feliz por você. Presumo que voltará a trabalhar connosco. Depois da lua-de-mel, é claro. Não gostariamos de perdê-la. Você é uma das nossas funcionárias mais valiosas.
  • Charles e eu conversamos a esse respeito e concordamos que eu seria mais feliz se continuasse a trabalhar aqui. Desmond sorriu, satisfeito. Stanhope & Sons era uma das casas de investimentos mais importantes na comunidade financeira e seria maravilhoso se obtivesse a sua conta exclusiva para a sucursal que dirigia. Ele recostou-se na cadeira.
    • Quando voltar da lua-de-mel, Tracy, haverá uma boa promoção à sua espera, assim como um aumento substancial.
  • Puxa, obrigada Isso é sensacional Ela sabia que merecia e experimentou um sentimento de orgulho. Ficou ansiosa em contar a Charles. Parecia a Tracy que os deuses conspiravam para fazer tudo o que podiam para inundá-la de felicidade. Os pais de Charles Stanhope III viviam numa mansão antiga e imponente, na Rittenhouse Square. Era um marco na cidade pelo qual Tracy passara muitas vezes. E agora, pensou ela, vai se tornar uma parte da minha vida. Ela estava nervosa. Seu fino penteado sucumbira à umidade no ar. Trocara de vestido quatro vezes. Deveria se apresentar com simplicidade? Formalmente? Tinha um Yves Saint-Laurent que economizara para comprar na Wanamaker's. Se eu o usar, eles pensarão que sou uma esbanjadora. Por outro lado, se puser algum dos meus vestidos de liquidação da Pôst Hom, elas pensarão que o filho está casando com alguém abaixo de sua classe. Ora essa, eles pensarão assim de qualquer maneira, concluiu Tracy. Ela escolheu finalmente uma saia de lã cinza bem simples e uma blusa branca de seda, pondo no pescoço a corrente fina de ouro que a mãe lhe mandara de presente de Natal. A porta da mansão foi aberta por um mordomo de libré.
    • Boa noite, Senhorita Whitney- O mordomo conhece meu nome, pensou Tracy. Isso é um bom sinal? Um mau sinal?
    • Posso ajudá-la a tirar o casaco? Ela estava pingando água no lindo tapete persa. O mordomo conduziu-a por um vestibulo de mármore que parecia duas vezes
  • Tempo suficiente para saber que nos amamos, Sra. Stanhope.
    • Amor? - disse o Sr. Stanhope. A Sra. Stanhope interveio:
    • Para ser franca, Senhorita Whitney, a notícia de Charles foi um choque para seu pai e para mim. - Ela sorriu indulgentemente. - Charles lhe falou sobre Charlotte, não é mesmo? Ela percebeu a expressão no rosto de Tracy e se apressou em acrescentar:
  • Entendo. O fato é que ele e Charlotte cresceram juntos. Sempre foram muito ligados e... francamente, todos esperavam que, anunciassem seu noivado este ano. Não havia necessidade de uma descrição de Charlotte. Tracy podia perfeitamente imaginá-la. Morava na casa ao lado. Rica, do mesmo meio social de Charles. Todas as melhores escolas. Adorava cavalos e ganhara taças.
    • Fale-nos a esse respeito de sua família - sugeriu o Sr. Stanhope. Por Deus, esta é uma cena do filme da madrugada na televisão, pensou Tracy, irritada. Sou a personagem de Rita Hayworth, encontrando-me pela primeira vez com os pais de Cary Grant. Preciso de um drinque. Nos filmes antigos, o mordomo, sempre aparece em socorro com uma bandeja de drinques.
  • Onde nasceu, minha cara? - perguntou a Sra. Stanhope.
  • Na Louisiana. Meu pai era um mecânico. Não havia necessidade de acrescentar isso, mas Tracy fora incapaz de resistir. Que eles fossem para o inferno. Ela tinha o maior orgulho do pai.
    • Um mecânico?
    • Isso mesmo. Ele abriu uma pequena fábrica em Nova Orleans e desenvolveu-a numa das grandes companhias em seu sector. Quando papai morreu, há cinco anos, minha mãe assumiu o comando da empresa.
    • O que essa... hen... companhia produz?
    • Canos de descarga e outras peças de automóveis. Sr. e Sra. Stanhope trocaram um olhar e murmuraram em uníssono:
    • Hen...

O tom deles deixou Tracy tensa. Quanto tempo precisarei para amá-los?, perguntou a si mesma. Olhou para os dois rostos impassíveis à sua frente e, para seu horror, começou a balbuciar meio contrafeita:

  • Tenho certeza de que gostarão muito de minha mãe. Ela é bonita, inteligente, simpática. Uma mulher do Sul. Bem pequena, é claro, mais ou menos de sua altura, Sra. Stanhope... As palavras de Tracy ficaram pairando no ar, sufocadas pelo silêncio opressivo. Ela soltou uma risadinha tola, que se desvaneceu sob o olhar severo da Sra. Stanhope. Foi o Sr. Stanhope quem rompeu o silêncio, dizendo sem qualquer expressão:
  • Charles nos disse que você está grávida. Ah, como Tracy gostaria que ele não tivesse revelado isso! A atitude dos seus pais era de franca desaprovação. Era como se o filho nada tivesse a ver com o que acontecera. Eles a faziam sentir como se fosse um estigma. Sei agora o que deveria ter usado, pensou Tracy. Uma letra escarlate.
  • Não compreendo como actualmente e... A Sra. Stanhope não pôde continuar a falar porque nesse momento Charles entrou na sala. Tracy nunca se sentira tão contente por ver alguém, em toda a sua vida.
  • E então? - disse Charles, radiante. - Como se estão dando? Tracy levantou-se e correu para os seus braços.
  • Muito bem, querido. Ela se aconchegou a ele, pensando: Graças a Deus que Charle, não é como os pais. Nunca poderia ser como eles. São pessoas de mentalidade tacanha, senobes e frias. Houve uma tosse discreta por trás deles e o mordomo se adiantou com uma bandeja de drinques. Tudo acabará bem, disse Tracy a si mesma. Este filme terá um final feliz. O jantar foi excelente, mas Tracy estava nervosa demais para comer. Discutiram negócios bancários e política, a situação aflitiva do mundo, uma conversa sempre impessoal e polida. Ninguém chegou a dizer em voz alta: "Você preparou uma armadilha para levar nosso filho ao casamento." Para ser

seu pequeno apartamento, ao lado do Fairmont Park.

  • Espero que a noite não tenha sido muito difícil para você, Tracy. Mamãe e papai podem ser às vezes um pouco irredutíveis.
  • Oh, não... eles foram maravilhosos - mentiu Tracy. Ela estava exausta da tensão da noite, mas mesmo assim indagou, quando chegaram à porta de seu apartamento:
  • Não vai entrar, Charles? Ela precisava aconchegar-se em seus braços. Tinha vontade de lhe dizer: "Eu o amo, querido. E ninguém neste mundo jamais poderá nos separar".
  • Esta noite não será possível - disse ele. - Terei uma manhã sobrecarregada. Tracy ocultou seu desapontamento.
  • Eu compreendo, querido.
  • Falarei com você amanhã. Ele deu-lhe um beijo rápido e Tracy observou-o se afastar pelo corredor. O apartamento estava em chamas e o som insistente das sirenes dos bombeiros romperam abruptamente o silêncio da noite. Tracy soergueu-se abruptamente na cama, tonta de sono, farejando a fumaça no quarto às escuras. A campainha continuou e lentamente ela percebeu que era o telefone. O relógio na mesinha-de-cabeceira informava que eram duas e meia da madrugada. Seu primeiro pensamento de pânico foi que alguma coisa acontecera com Charles. Ela pegou o telfone bruscamente.
  • Alô? Uma voz de homem distante indagou: Tracy Whitney? Ela hesitou. Se era um telefonema obsceno...
  • Quem está falando?
  • Aqui é o Tenente Miller, do Departamento de Polícia de Nova Orleans. Estou falando com Tracy Whitney?
  • Ela mesma. O coração de Tracy começou a disparar.
  • Infelizmente, tenho uma má notícia a lhe dar. A mão de Tracy apertou o telefone com toda a força.
  • É sobre sua mãe.
  • Ela... mamãe sofreu algum acidente?
    • Ela está morta, Senhorita Whitney.
    • Não! Foi um grito. Era de facto um trote. Algum maluco tentando assustá-la Não havia nada de errado com sua mãe. Ela estava viva. Eu a amo muito, Tracy. Mas muito mesmo.
    • Detesto ter de lhe dar a notícia desse jeito, Senhorita Whitney. Era real. Era um pesadelo, mas estava acontecendo. Ela não podia falar. A mente e a língua ficaram paralisadas. A voz do tenente acrescentou:
    • Alô? Está me ouvindo, Senhorita Whitney? Alô?
    • Pegarei o primeiro avião. Tracy sentou na pequena cozinha do apartamento, pensando na mãe. Era impossível que ela estivesse morta. Sempre fora uma mulher vibrante, cheia de vida. Haviam desfrutado um relacionamento intimo, repleto de amor. Desde que era garotinha que Tracy podia levar seus problemas à mãe, falar sobre a escola e os garotos, posteriormente sobre os homens. Quando o pai de Tracy morrera, haviam sido apresentadas muitas propostas por pessoas que queriam comprar a empresa. Ofereceram a Doris Whitney dinheiro suficiente para ela viver confortavelmente pelo resto de sua vida. Mas a mãe se recusara obstinadamente a vender.
  • Seu pai fez esta empresa. Não posso agora jogar fora todo o trabalho árduo. E ela mantivera a empresa em plena prosperidade. Oh, mamãe. eu a amo tanto!, pensou Tracy. Agora, você nunca conhecerá Charles, nunca verá o seu neto. Ela se pôs a chorar. Tracy fez um café e deixou esfriar, enquanto continuava sentada, no escuro. Queria desesperadamente telefonar para Charles e contar-lhe o que acontecera, tê-lo a seu lado. Olhou para o relógio da cozinha. Eram três e meia da madrugada. Não o acordaria; ligaria para ele de Nova Orleans. Especulou se aquilo afectaria os planos de casamento e no mesmo instante sentiu-se culpada pelo pensamento. Como podia pensar em si mesma num momento como aquele? O Tenente Miller dissera:

motorista. - Esse maldito Mardi Gras... Mas é claro! Era fevereiro, o momento em que toda a cidade celebrava o início da Quaresma, fazendo o seu carnaval. Tracy saltou do táxi e parou por um instante junto ao meio-fio, com a mala na mão. E no momento seguinte foi envolvida pela multidão a gritar dançar. Era obsceno, um sabá de feiticeiras, um milhão de Fúrias comemorando a morte de sua mãe. A mala foi arrancada da mão de Tracy e desapareceu. Ela foi agarrada e beijada por um homem gordo, com uma máscara de demónio. Um cervo apertou-lhe os seios e um panda gigante agarrou-a por trás e levantou-a. Tracy tentou se desvencilhar e fugir dali, mas era impossível. Estava cercada, acuada, uma parte da celebração de canto e dança. Foi se deslocando com a multidão frenética, as lágrimas escorrendo pelas faces. Não havia escapatória. Encontrava-se à beira da histeria quando finalmente conseguiu se livrar e fugir para uma rua mais sossegada. Ficou parada por um longo tempo, encostada num lampião, respirando fundo, lentamente recuperando o controle de si mesma. E, depois, encaminhou-se para a chefatura de polícia. O Tenente Miller era um homem de meia-idade, de expressão mortificada, o rosto enrugado, parecendo genuinamente contrafeito no papel que tinha de desempenhar.

  • Lamento não poder recebê-la no aeroporto, mas a cidade inteira enlouqueceu - disse ele. - Examinamos as coisas de sua mãe e você foi a única que pudemos encontrar para chamar.
  • Por favor, tenente, conte-me o que... o que aconteceu com minha mãe.
  • Ela cometeu suicídio. Tracy sentiu um calafrio percorrer-lhe o corpo.
  • Mas... mas isso é impossível! Por que ela haveria de se matar? Ela tinha tudo para viver! A voz de Tracy era trémula.
  • Ela deixou um bilhete para você O necrotério era frio, indiferente e aterrador. Tracy foi conduzida por um corredor comprido e branco até uma sala

grande, asséptica e vazia. E subitamente compreendeu que a sala não se achava vazia. Estava povoada pelos mortos. Pela sua morta. Um atendente de jaleco branco aproximou-se de uma parede, estendeu a mão para uma alça e puxou uma gaveta enorme.

  • Quer dar uma olhada? Não! Não quero ver o corpo vazio e sem vida estendido nessa caixa. Ela queria sair dali. Queria voltar algumas horas no tempo, quando o alarme de incêndio soava. E que seja um incêndio de verdade, não o telefone, não minha mãe morta. Tracy adiantou-se, lentamente, cada passo um grito interior. E depois estava olhando para o corpo inanimado que a gerara, alimentara, rira com ela e a amara. Ela inclinou-se e beijou o rosto da mãe. O rosto estava frio e flexível.
  • Oh, mamãe! - sussurrou Tracy. - Por quê? Por que fez isso?
  • Temos de efectuar uma autópsia - disse o atendente. É a lei estadual nos casos de suicídio. O bilhete que Doris Whitney deixara não oferecia qualquer resposta: Minha querida Tracy: Perdoe-me, por favor. Fracassei e não podia suportar ser um fardo para você. Esta é a melhor solução. Eu a amo muito. Mamãe O bilhete era tão inanimado e desprovido de sentido quanto o corpo que se achava na gaveta. Tracy tomou as providências para o enterro naquela tarde, depois pegou um táxi para a casa da família. à distância, podia ouvir o rugido dos foliões do Mardi Gras, como alguma celebração estranha e lúgubre A residência dos Witneys era uma casa vitoriana no Garden District, na área residencial conhecida como Uptown. Como a maioria das residências de Nova Orleans, era construida em madeira e não tinha porão, pois o lugar situava-se abaixo do nível do mar. Tracy crescera naquela casa, que estava povoada por recordações agradáveis e afetuosas. Ela não estivera em casa