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Proudhon - Filosofia Da Miséria (Tomo II), Notas de estudo de Geografia

tratado sobre a filosofia

Tipologia: Notas de estudo

2010

Compartilhado em 30/07/2010

jose-leonardo-nery-silva-11
jose-leonardo-nery-silva-11 🇧🇷

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I

COLEÇÃO GRA:'<DES OBRAS DO PENSAMENTO UNIVERSAL ~sjm F,dava Z~lfa[Ustra .," Nietzsche

    • ,\ ()fÍge11l d;\ Lllnílja, d,l ]Jropried"JJe: Priv,1(b c do ESt:1L!o - Engels 3 da Loucura - Erasmo de Rotterd:un 4-5 - Plat~io 6 -- j\S da Alma - Descartes 7 _-J_ ()rigl:l11 (1:1 Deslgu:llthde entre \JS H()!TIl'l1s - ROIlsseHII 8 - _i_ .\rtt [Li Cucrr,l-Maquiavcl
  • Thomas More 1 () - do i\fó(ldo -- Descartes 1I 1.2 (^) - (J - -M.'quún"Cl Dante AJighieri 13- () Contrato SocJal-Rousscau 1415 - - (^) _i_ nosDante J JIl1itcs Aligúieri d:l ~jJnples Razão - Kant I () - 1\ -- Aristóteles 17 - Cúndld() ou (\ Otlfl1ismo - U lngô1Llo - Voltaite I k :1 .)ocil:cbdc - Comlc 19 - _i_ i\lulhef Cas:1(b -Luis de I.eón 2(1-- 21 - i\HdlcxCw~ daa !\foral - ':tidadc Nietz8chc dos [I lJIl1cns - Marrons Aires 22 - Dl' Pueris - A Cjvilicl:ldc Pueril -- Erasmo de Rottcrd'lill 23 - Car:lLrer(;:> -La Bruycrc 24- Tnu,ido sobrc a 'ToledncÍ1 - \hltaire 25 - I!l'c:>.rir,;ação s()1Jrc () r·:nrendimcIJt() [ lumaon - David HLUllC 2(, - _i_ [)ir.:r1idadc d(J Homem - Pico ddla Afiràndola 27 - ()~ S;ll1hos - Quevedo 28 - dos ídolos - NietzscI}(' 2LJ _ ou (l Desuno - Voltaire :1() - Discurso solJf(: () Positivo - COlnte 31 - r\lém d(J nem c do ~Nietzsche 32 - .-\ Princcs-,l de B:lbik)[lia - VoltaÍtC 33 - i\ dClS r:s["J<.~cies (1 ()Jno 1) - Darwin _1+ -.\ tl;t~ ESPl'cjcS (To1l1/) fI) - Darwin 3s - ,-\ das j--.'~lléci(;s Cfo!llo lU) - Dan"iIl 3(1 - Santo Agostinho 37 - Lino i\migo c JI) Anud'J ~Lúlio 38 - Fábulas - Pedro 39 - ,\ .0.1ulheres - Sruart Mill 40 - O de R:lllleall - Diderot '"'- 1 - O Diabo Coxo - Gncvara 42- Humanr.l, Demasiado Hllman() ~Nietzschc 43 -. A Vida Feliz -Sêneca 44 - hnsaio sobre à Liberdade - 5tuart Mill 45 - A Cflla Ciênci;l - Nictzsche 4(1 - Canas Persas 1 -l\1ontesquieu 47- Cartas Persas II - Montesquieu 4B - Principios do Conhccimel1t(J Humano - Berkeley 49 - () AI-CU e () Súblf> - Voltaire ~(J - Livw das Bc:-.tas -J..iilio 51 -:\ Hora de ToJm - Qnevedo 52 - O ;\micrist"O - Nietzsche 53 -:\ Tnt1qüilJdadc da ,\Jma - Sêneca 54 - Parado~() sobrc I) COl11edi<tnte - Diderot 5~ - O Conde Luculor - Juan Manuel 56 -- () Governo Representativo - Stuart Mill ')7 - Ecce Homo --Nietzsche .58 - Clrtas r:jlosóúcas - Voltaite 59 - Can'l .\quelts sobre gUt: osEnxergam Cegos Endereçada - Didetot

60 - _i_ /\miz'lde - Cíccro 61 - D,) GeCJJ11éttÍco - Pcn"alTIcnuJs -l>;Jsc;1. 62 - Critica (13 - ;\ Velhice Raz?ínSauJáycl - PritiC2 - Cícero Kant ú.t - Dr JS Três I ';[clTIl:ntos - López MedeI (j~ 66 - -- TroH:ldo,\Ll[Oí<1·- da Nictzscllc Rcform:l do Entcndimeno -SpiIloza (,7 - - _i_ ~1:l1ldrúg(ml - Maqui<ll'c 6'0"- () Pru'.'éIbj()~ -·Lúlio (/) 7() - - I\Iúxim:l"i el·tjlitarj~l11() RcAexôes - Stuar: ).@ -La Roc1wümcallld 7 J - '\lanifcsto do Panido CUT11unist:l -Afarx c Engels 72 -- .-\ C()rl~tânci~ do S5bi() - Sêneca Ti 74 - ()(1 NascirncntoBi~bjlhotci[() J:J - QuevcdoTragédi<1 _ Nietzsche 75 - () Homem dos 4U Escll,dos - V()ltaire 7(, 77 - -- ()A Livro'{iséria do da Filósofo f'i1o;;of1a -Nietzsche -. Marx 7H :') - - SrFjJ()~()Jta l]UÇrll'S P()siuvas da \L ... éria LI:[ POlitiCl-. I -" PwudllOn Brasilcu-a - Pereira Barreto tiO HI - - Fi/nsoha _j_ Bre,"idadc da i\1isC'ria ela 'ida - - [JSêneca -ProudllOD

fj.

I

PIERRE-JOSEPH PROUDHON
SISTEMA DAS CONTRADIÇÕES ECONÔMICAS OU

FILOSOFIA DA MISÉRIA

TOMO II

TEXTO INTEGRAL

TRADlIÇÃO ANTONIO GERALDO DA SILVA E CIRO MIORANZA

~~\i ~"", eSCaLa ,iT7'"

v - A COMUNIDADE É INCOMPATíVEL COM A FAMíLIA,

IMAGeM E PROTÓTIPO DA COMUNIDADE VI -- A COMUNIDADE É IMPossíVEL SEM UMA LEI DE PARTILHA E ELA PERECE PELA PARTILH A VII -- A COMUNIDADE É 1~IPOssíVEL SEM UMA LEI De ORGANIZAÇÃO E ELA PeRECE PELA OR(,ANIZA,·ÃO......... VIII - A COMUNIDADE É IMPOssíVl.L SEM A .lUSTW·
E ELA PERECE paA JUSTiÇA IX - A COMUNIDADE ECLFTICA, ININTELI(iENTE E ININTELlGíVEL X - A COMUNIDADE É A Rl.LlGIÂO DA MISI'RIA

CAPiTULO XIII Di'CIMA ÉPOCA - A POPULAÇÃO..... I - DESTRUiÇÃO DA SOCIEDADE PELA (iERA,'ÃO E PELO TRABAl.HO II - A MISÉRIA É UM FATO DA H:üNOMIA pOLíTICA III - PRINCípIO DL EQUILíBRIO DA POPULACÃO

CAPÍTULO XIV RESUMO E CONCLUSÃO

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APRESENTAÇÃO

Anarquista, Proudhon era admirado por Marx; os dois eram amigos e costumavam discutir (ambos moravam em Paris) os grandes problemas da sociedade do século XIX que vivia momentos de efervescência econômica, social e cultural. Quando Proudhon publicou Filosofia da Miséria, Marx leu, não gostou e respondeu com A Miséria da Filosofia, decretando o rompimento de relações entre ambos. O livro de Proudhon, cujo título completo é Sistema das contradições econômicas ou Filosofia da miséria, é uma dissertação de política econômica mais que um tratado de economia. O autor se utiliza dc um estilo acalorado, pendendo às vezes para a oratória, para defender seus pontos de vista na análise econômica, melhor dizendo, na descrição dos novos momentos da economia que evolui e se moderniza por meio da industrialização, prevendo um futuro nada promissor para as classes menos favorecidas, as quais, se não se unirem em defesa de seus interesses, serão fatalmente jogadas na miséria, produto final e pérfido do novo sistema econômico, repleto de contradições, cujos malefícios recaem exatamente sobre os operários, os camponeses e os pequenos mercadores. O raciocinio de Proudhon é simples e direto ao delatar as contradições internas da economia. Segundo ele, a industrialização cria mais problemas que soluções, Enquanto a introdução da máquina na produção alivia o trabalho ingente do operário, cria o desemprego em massa; enquanto a divisão do trabalho faz a riqueza social crescer, embrutece o trabalhador; enquanto o crédito pode emancipar o trabalhador, não lhe é concedido, porquanto acaba sempre nas mãos

dos ricos para se tornarem sempre mais ricos; enquanto a propriedade fundiária constitui o fundamento real da liberdade econômica e social, passa a ser imprópria porque gera privilégios e espoliações inevitáveis;

a própria concorrência tem suas contradições, mas para Proudhon é

eficaz, pois é necessariamente contrária aos privilégios. Crítico do sistema capitalista, Proudhon não simpatiza tampouco com o socialismo que, com Marx, Engels e outros, estava em alta na época como teoria. Prefere uma terceira via, a do socialismo científico ou da anarquia positiva, de federalismo que se autogere, baseado nas atividades econômicas e na instituição política, duas estruturas distintas, mas em cooperaçao. A produção deveria ser organizada como uma democracia cconômica mutualista e o consumo deveria ser gerido por um sindicato da produção e do consumo. Enfim, toda a estrutura econômica mereceria ter sua oportunidade de se reorganizar como uma verdadeira democracia político-econômica, na qual a inclusão não deveria prcver qualquer tipo de exclusão.

o tradutor

VIDA E OBRAS DO AUTOR

Piern~-J oseph Proudhon nasceu no dia 15 de janeiro de 1809 em Besançon, França. Filho de família muito pohre, foi pastor de pequeno rebanho de )~ado quando criança e, ao ser matriculado na escola de sua cidade natal, ~studava nos livros dos colegas por não ter dinheiro para adquiri-los. Aos 19 anos consegue emprego numa tipografia como revisor de textos teológicos e eclesiásticos, o que lhe permite aprender hebraico, grego e latim. Em I X38 consegue sua licenciatura em Paris e em 1840 publica um livro que o torna conhecido, intitulado O que é a propriedade? A resposta que dá a esta pergunta (A propriedade é um roubo) o leva à justiça. mas é absolvido. _1_ grande obra, porém, que o lança como pensador, filósofo, sociólogo c economista é justamente Filosofia da Miséria, publicada em 1846. Na Il'votução de 1848 participa do movimento. A seguir funda diferentes jornais e desenvolve intensa atividade jornalística, mas todos esses jornais S<lO condenados, empastelados e supressos. Em 1848 é eleito deputado para ;t Assembléia Constituinte. Em 1849 é condenado a três anos de prisão por Ltl6ncia do Banco do Povo que ele havia fundado e por ofensas contra o presidente da Reúublica, publicadas na imprensa. Em 1858 é condenado novamente, mas por causa do livro Novos princípios de filosofia prática, sc exilia na Bélgica, recusa a anistia concedida em 1859, mas aceita a de I X60 e volta à França, onde morre no dia 19 de janeiro de 1865. Cumpre salientar que Proudhonjá sonhava, como escreve em 1863, com uma Europa confederada, com um orçamento unitário, dotada de uma corte de justiça e com um mercado comum, o que começou a se tornar realidade quase cem ,1I10S depois, com a Cúpula Européia de 1957 que teve lugar em Roma.

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CAPÍTULO IX SEXTA ÉPOCA - A BALANÇA COMERCIAL

I - NECESSIDADR DO COMÉRCIO LIVRE

Desconfiada sobre a eficácia de suas medidas regulamentares e desesperada por encontrar dentro de si mesma uma compensação para o proletariado, a sociedade vai procurar-lhe fora garantias. Esse é o movimento dialético que conduz, na evolução social, à fase do comércio exterior, que logo se formula em duas teorias contraditórias, a liberdade absoluta e a {Iroibição, e se resolve na célebre fórmula chamada balança comercial. /íIlIlOS examinar sucessiv:Jmente cada um desses pontos de vista. Nada de mais legítimo que a idéia do comércio exterior que, aumentando o mercado, por conseguinte, o trabalho, por conseguinte, também o salário, deve dar ao povo um suplemento de imposto tão vã, tão infelizmente imaginado porm nome e no interesse do próprio trabalho, à liberdade das trocas e exige o privilégio do mercado nacional. De um lado. pois, a sociedade tende a domar o monopólio pelo imposto, a política e a liberdade do comércio; de outro, o monopólio reage contra a tendência social e quase sempre chega a anulá-la, pela proporcionalidade das contribuições, pela Iivre discussão do salário e pela alfândega. De todas as questões econômicas, nenhuma foi mas vivamente controvertida que a do princípio protetor; nenhuma chega a ressaltar melhor o espírito sempre exclusivo da escola economista que, derrogando nesse J1onto seus hábitos conservadores e mudando repentinamente de opinião,

Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal

se declarou resolutamente contra a balança comercial. Enquanto em toda parte, aliás, os economistas, guardiões vigilantes de todos os monopólios e da propriedade, se mantêm na defensiva e se limitam a afastar como utópicas as pretensões dos inovadores, na questão proibitiva, eles próprios começaram o ataque; levantaram-se indignados contra o monopólio, como se o monopólio lhes tivesse aparecido pela primeira vez; voltaram as costas à tradição, aos interesses locais, aos princípios conservadores, à política sua soberana e, para dizer tudo, ao senso comum. É verdade que, apesar de seus anátemas e de suas pretensas demonstrações, o siste ele. O que o trabalho não pôde obter do monopólio por meio de taxas e a título de reivindicação, vai consegui-lo, por outro lado, pelo comércio; e a troca de produtos, organizada de povo para povo, vai proporcionar uma amenização da miséria. Mas o monopólio, como se tivesse de ser compensado pelos cargos que devia suportar e que, na realidade, não suporta, o monopólio se opõe, ema proibitivo é tão vivo hoje, apesar da agitação anglo

francesa, como nos tempos abominados de Colbert l^ e de Filipe n. A

esse respeito, pode-se dizer que as reclamações da seita, como era chamada a escola economica há um século, provam a cada palavra o contrário daquilo que propõem e são acolhidas com a mesma desconfiança das pregações dos comunistas. Tenho, portanto, de provar, em conformidade com a marcha adotada nesta obra, primeiramente contra os partidários do sistema proibitivo, que a liberdade do comércio é de necessidade econômica, bem como de necessidade natural; em segundo lugar, contra os economistas antiprotetores, que essa mesma liberdade, que eles consideram como a destruição do monopólio, é pelo contrário a última mão dada para a edificação de todos os monopólios, a consolidação do feudalismo mercantil, a solidariedade de todas as tiranias como de todas as misérias. Vou terminar pela solução teórica dessa antinomia, solução conhecida em todos os séculos sob o nome de balança comercial. .................................................................. 1 Jean-Baptiste Colbert (1619- J 683), estadista francês, partidário da economia liberal e subvencionada pelo Estado, foi ministro das finanças da França, tornando-a uma nação forte, industrializada e rica (NT).

Proudhon - Filosofia da Miséria - II

Os argumentos que prevaleceram em favor da liberdade absoluta do comércio são conhecidos; eu os aceito em toda a sua extensão; seria suficiente para mim, portanto, relembrá-Ios em algumas páginas. Vamos deixar os próprios economistas falar. "Suponham as alfândegas desconhecidas, que teria acontecido? Em primeiro lugar, havia pelo menos uma infinidade de guerras sangrentas; os delitos da fraude e do contrabando não existiam, tampouco as leis penais teitas para sua repressão; as rivalidades nacionais surgidas dos interesses rivais do comércio e da indústria são desconhecidas; há somente fronteiras políticas; os produtos circulam de território a território sem barreiras, para maior lucro dos produtores; as trocas foram estabelecidas em larga escala; as crises comerciais, a obstrução, a penúria são fatos excepcionais; os mercados existem na mais ampla acepção da palavra e cada produtor tem por mercado o mundo inteiro ... " Abrevio aqui essa descrição, degenerada numa fantasia cujo autor, Fix^2 , não foi, além do mais, tolo. A felicidade do gênero humano não foi tida em tão pouca coisa senão pelos fiscais alfandegários; e se a alfândega jamais tivesse existido, teria bastado a divisão do trabalho, das máquinas, da concorrência, do monopólio e da política econômica para criar em toda parte a opressão e o desespero. O que segue não merece nenhuma recriminação. "Suponhamos que nessa época um cidadão de cada governo tivesse vindo dizer: encontrei um meio de apoiar e de aumentar a prosperidade de meus compatriotas; e como estou convencido da excelência dos resultados de minha combinação, meu governo vai aplicá-la imediatamente em todo o seu rigor. No futuro não terão mais alguns de nossos produtos, nós não teremos mais alguns dos seus; nossas fronteiras cercadas por um exército que vai mover guerra às mercadorias; haverá quem vai rejeitar totalmente algumas, quem vai admitir outras por meio de um formidável resgate; haverá quem vai fazer pagar tudo o que ousar entrar e sair; haverá quem vai vistoriar os comboios, os furgões, os pacotes, as caixas e até os embrulhos microscópicos; haverá que vai deter o mercador dias e horas na fronteira; ..................................................................

  • Théodore Fix (1800-1846), economista suíço, discípulo de Malthus, escreveu Situação das classes operárias, obra publicada em 1846 (NT).

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Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal

dos objetos necessários para seu consumo e de vender seus produtos a tal comprador e pelo preço que quiser. Todo cidadão está, portanto, em condições de dizer a seu governo: ou me entregue o sal, o ferro, o tabaco, a carne, o açúcar, ao preço que lhe ofereço, ou me deixe fazer minha provisão. Por que deveria eu ser obrigado a sustentar, por meio da taxa que me força a lhes pagar, indústrias que me arruínam, exploradores que me roubam? Cada um em seu monopólio, cada um por seu monopólio; e a liberdade de comércio para todos! Num sistema democrático, a alfândega, instituição de origem feudal e real, é, portanto, coisa odiosa e contraditória. Ou a liberdade, a igualdade, a propriedade são palavras, e a Constituição um papel inútil, ou a alfândega é uma violação permanente dos direitos do homem e do cidadão. Por isso, ao rumor da agitação inglesa, os folhetins democráticos da França geralmente tomaram partido pelo princípio abolicionista. Liberdade! A esse nome, a democracia, como o touro diante do qual se agita uma capa vermelha, fica furiosa. Mas a razão econômica por excelência da liberdade de comércio é aquela que é deduzida do crescimento da riqueza coletiva e do aumento do bem-estar para cada cidadão em particular, pelo simples fato decorrente das trocas de nação para nação. Que a sociedade, que o trabalhador coletivo leve vantagem ao trocar seus produtos, não se pode colocá-lo em dúvida, porquanto, por meio dessa troca, o consumo, sendo mais variado, é, por conseguinte, melhor. Que, por outro lado, os cidadãos independentes e não solidários, segundo a constituição do trabalho e do pacto político, tenham todos o direito de aproveitar das ofertas da indústria estrangeira e de nelas procurar garantias contra seus respectivos monopólios, isso tampouco é suscetível de contestação. Mas até onde não se percebe senão uma troca de valores, não se percebe que haja aumento. Para descobri-lo, é necessário considerar a coisa sob outro aspecto. Pode-se definir a troca como uma aplicação da lei de divisào ao consumo dos produtos. Como a divisão do trabalho é a grande mola da produção e da multiplicação dos valores, assim também a divisão do consumo, por meio da troca, é o instrumento de absorção mais enérgico desses mesmos valores. Numa palavra, dividir o consumo pela variedade dos produtos e

Proudhon - Filosofia da Miséria - II

pela troca é aumentar o poder de consumo, como, ao dividir o trabalho em suas operações parcelares, se aumenta sua força produtiva. Suponhamos t f duas sociedades desconhecidas entre si e consumindo anualmente cada uma algo equivalente a 100 milhões de valores: se essas duas sociedades, 'li'I supondo-se que nelas também os produtos diferem entre si, chegarem II. I a trocar suas riquezas, no fim de algum tempo a soma de consumo, a ." população não se alterando em número, não será mais de 200 milhões, mas de 250. Em resumo, os habitantes dos dois países, uma vez que estreitam relações, não se limitarão a uma simples troca de seus produtos, o que não passaria de uma substituição; a variedade convidará uns e outros a usufruir dos produtos estrangeiros, sem abandonar os produtos nativos. o que vai aumentar ao mesmo tempo, de parte e de outra, o trabalho e o bem-estar. Desse modo, a liberdade de comércio, necessária para a harmonia e para o progresso das nações, necessária para sinceridade do monopólio e para a integralidade dos direitos políticos, é ainda uma causa de crescimento de riqueza e de bem-estar para os cidadãos privados e para o Estado. Essas considerações gerais encerram todas as razões positivas que é possível alegar em favor do livre comércio, razões que aceito todas elas de antemão e sobre as quais julgo inútil insistir mais, uma vez que ninguém, aliás, que eu saiba, contesta sua evidência. Resumindo. a teoria do comércio internacional não é senão uma extensão da teoria da concorrência entre os cidadãos privados. Como a concorrência é a garantia natural, não somente do preço baixo dos produtos, mas também do progresso no mercado; do mesmo modo que o comércio internacional, independentemente do aumento de trabalho e de bem-estar que cria, é a garantia natural de cada nação contra seus próprios monopólios, garantia que, nas mãos de um governo hábil, pode tornar-se um instrumento de alta política industrial, mais poderoso que todas as leis regulamentares e os máximos valores. Inumeráveis fatos, aborrecimentos monstruosos ou ridículos vêm em seguida justificar essa teoria. À medida que a proteção entrega ao monopólio o trabalhador sem defesa, assiste-se às mais estranhas desordens, às mais furiosas crises agitar a sociedade e pôr em perigo o trabalho e o capita1.

3

Coleção Grandes Obras do Pensamento Universal

"O alto preço fictício do carvão mineral, do ferro, da lã, do gado, diz Blanqui , não passa de um imposto subtraído da comunidade em proveito de alguns. Por mais esforços que sejam feitos, a questão será sempre de saber até quando a nação vai assumir tais encargos, em vista das melhorias que sempre são prometidas e que nunca chegam, porque elas não podem chegar por essa via..." "O regime proibitivo não tende entre nós, como no resto da Europa, senão a dar um impulso artificial e perigoso a certas indústrias, organizadas segundo o método inglês, em proveito quase exclusivo do capital. Exagera a produção e restringe ao mesmo tempo o consumo pelos obstáculos que impõe à importação do exterior, sempre seguidos de represálias. Substitui as lutas violentas da concorrência interior pelo estímulo da concorrência estrangeira. Destrói os bons efeitos da divisão do trabalho entre as nações. Mantém as velhas hostilidades entre elas... Entretém as divisões profundas que separam muitas vezes o trabalho e o capital e gera o pauperismo pela desclassificação brusca dos operários" (Journal des Economistes, fevereiro de 1842). Todos esses efeitos do regime protetor, assinalados por Blanqui, são verdadeiros e depõem contra os entraves ocasionados à liberdade de comércio. Infelizmente, logo os veremos nascer, com uma intensidade não menor que a própria liberdade, de tal modo que, se para curar o mal se devesse concluir com Blanqui pela extirpação absoluta da causa mórbida, seria necessário concluir ao mesmo tempo contra o Estado, contra a propriedade, contra a indústria, contra a economia política. Mas não chegamos ainda à antinomia; prossigamos em nossas citações. "O privilégio, o monopólio, a proteção, que uns caem em cascata sobre os outros, exceto sobre o infeliz operário, provocaram na distribuiçao dos produtos, objetivo de todo trabalho, monstruosidades. Em lugar algum a liberdade passou seu benfazejo nível ao poder de agir; os entraves produziram a fraude; o roubo, a mentira, a violência são os auxiliares do trabalho. A avareza reclama hoje sem vergonha alguma e como um direito o meio de acumular a expensas de todos; a luta está em toda parte, a harmonia em parte alguma. .................................................................. J Adolphe Blanqui (1798-1854), economista e jornalista francês; sua obra História da economia política, publicada em 1837, preconizava uma eqüitativa distribuição de renda (NT).

Proudhon - Filosofia da Miséria - 11

I'. IlO entanto, é para um resultado tão desastroso que todos corremos. IJIIIII p:lís, onde o povo não é nada ainda, compreende-se essa perseverança 11.1 ("ploração; mas num país onde o povo é tudo, por que sua voz permanece 1IIIHla'! Por que, nas discussões econômicas, o nome do povo jamais é 11i(lllIlllciado? A razão, exclama-se, deve governar o mundo! É, pois, em 1I<'1I1C da razão que a nação francesa é condenada hoje a uma dieta quase illl:i1mcnte vegetal? Que fique sem vestuário, sem camisas, sem calçados, ',('111 meios de troca, no meio das maravilhas da inteligência? Que a batata 1:1 substitua o trigo em sua alimentação; que o trabalho, finalmente, deixe (:Ida vez menos, como hoje na Inglaterra, um excedente de produção sobre (I consumo? Será que é a razão que entrega o mercado, como uma presa, I lia a uns, ora a outros, sem se preocupara jamais com o preço dos produtos ('llm relação ao salário? Há dezoito anos que a nação francesa está privada de carne: cada dia di/ima a parte relativa a cada indivíduo; e a cada reclamação, friamente s,' diz que o preço de 55 francos é necessário ao produtor! Necessário! A privação de alimentos necessária para afortuna de alguns!" (H. Dussard, .Io{(l'Ilal des Economistes, abril de 1842). ('ertamente, o quadro não é lisonjeiro; e cabe aos economistas dizer ;1 vcrdade, toda a verdade, sobre as misérias sociais, se nelas se acham <'I\J~ajados pelo interesse de suas utopias. Mas, se o princípio tão acusado (LI proteção não é outro senão o princípio constitutivo da economia política, " monopólio, que se encontra por toda parte no caminho, diz Rossi^4 , se ('SSC princípio é a própria propriedade, a propriedade, essa religião do 11 I< 1I1Opólio, não terei o direito de ficar escandalizado pela inconseqüência, para não dizer pela hipocrisia, economista? Se o monopólio é coisa tão "diosa, por que não atacá-lo em seu pedestal? Por que incensá-lo com uma das mãos e sacar da espada com a outra? Por que esse subterfúgio? Toda exploração exclusiva, toda apropriação seja da terra, seja dos capitais industriais, seja de um procedimento de lilhricaçào, constitui um monopólio; por que esse monopólio só se torna odioso a partir do dia em que um monopólio estrangeiro, seu rival, se ......................................................... I I'dkgrino Rossi (1787-1848), economista e diplomata italiano naturalizado francês; foi professor do ( 'ollêge de France em Paris (NT).

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não nos convém. Mas cremos firmemente que os perigos que havíamos suposto nos ameaçam e nosso dever é dar a conhecer ao público as bases de nossa convicção." Eu também lamento ter de soar o alarme; e essa tarefa de acusador que assumo é a última que convém a meu temperamento. Mas é necessário que a verdade seja dita e que justiça seja feita; e se creio que a burguesia tenha merecido todos os males com os quais é ameaçada, meu dever é estabelecer a prova de sua culpa. E, na verdade, que é esse monopólio que persigo em sua forma mais geral, enquanto os economistas só o vêem e só o repudiam sob o uniforme verde do agente alfandegário? É, para o homem que não possui capitais nem propriedade, a interdição do trabalho e do movimento, a proibição do ar, da luz e da subsistência; é a privação absoluta, a morte eterna. A França, sem vestuário, sem calçados, sem camisas, sem pão e sem carne, privada de vinho, de ferro, de açúcar e de combustível; a Inglaterra desolada por uma fome perpétua e entregue aos horrores de uma miséria que desafia a descrição; as raças empobrecidas, degeneradas, tornadas novamente selvagens e ferozes; esses são os espantosos sinais pelos quais se exprime a liberdade quando é ferida pelo privilégio, qualquer que seja, e comprimida em seu ímpeto. Julga-se ouvir a voz desse grande culpado que Virgíli0^5 coloca nos infernos, acorrentado num trono de mármore: Sedet, aeternumque sedebit InfeLix Theseus et magna testatur voce per umbras, Discite justitiam moniti, et non temere divos! Hoje, a maior nação comerciante do mundo, a mais devorada por todas as espécies de monopólios, que a economia política protege, consagra e professa, se levantou inteira e como um só homem contra a proteção; o governo decretou, sob os aplausos do povo, a abolição das tarifas; a França, atormentada pela propaganda econômica, está prestes a seguir o impulso da Inglaterra e arrastar consigo toda a Europa. Trata-se de estudar as conseqüências dessa grande inovação, cuja origem não se apresenta

5 Publius Vergilius Maro (73-19 a.c.), maior poeta latino. autor da obra-prima Eneida (NT). 6 Senta e eternamente sentará o infeliz Teseu e dirá em alta voz no meio das sombras: aprendam a justiça e não temam os deuses!

Proudhon - Filosofia da Miséria - 11

bastante pura a nosSOS olhos, nem seu princípio bastante profundo, para não nos inspirar certa desconfiança.

11 - NECESSIDADE DE PROTEÇÃO

Se não tivesse de opor à teoria do livre comércio senão razões totalmente novas, fatos que só eu e por primeiro tivesse percebido, se poderia crer que a contradição que vou fazer surgir dessa teoria não passa de uma recreação de meu orgulho, uma desmesurada inveja de me sobressair por meu orgulho; e esse preconceito seria suficiente para tirar todo crédito a minhas palavras. Mas acabo de defender a tradição universal, a crença mais constante e mais autêntica; tenho em meu favor a dúvida dos próprios economistas e o antagonismo dos fatos que relatam; e é esse antagonismo, essa dúvida, essa tradição que explico e que me justificam. Fix, que há pouco citei a respeito da liberdade, escritor cheio de reserva, de circunspeção e de ponderação e um dos economistas mais esclarecidos da escola de Say7, deu ele próprio, nos termos seguintes, a contrapartida de sua primeira proposição: "Os economistas avançados, que não admitem nenhuma acepção, querem proceder com toda a energia e a rapidez que profundas convicções inspiram; querem abater de um só golpe as alfândegas, os monopólios e o pessoal que os sustenta. Quais seriam as conseqüências de semelhante reforma? Se fosse liberada a entrada franca dos tecidos estrangeiros, do ferro e dos metais trabalhados, os consumidores ficariam bem, ao menos durante certo tempo, e algumas indústrias teriam grande lucro com isso. i Mas é certo que essa mudança instantânea e inesperada causaria imensos desastres na indústria; enormes capitais se tornariam improdutivos; 'I centenas de milhares de operários^ se encontrariam de repente^ sem trabalho e sem pão. A Inglaterra e a Bélgica poderiam, por exemplo, prover sem dificuldade a França com a metade de seu consumo, o que reduziria de

.................................................................. 7 Jean-Baptiste Say (l767-1832), economista francês, celebrizou-se pelo Tratado de economia política, publicado em 1803 (NT).

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outro tanto a fabricação interna, mas o que ocasionaria ainda perdas consideráveis aos donos de forjas em condições de continuar sua produção. O mesmo resultado poderia ocorrer para a indústria dos tecidos; a Inglaterra, a Bélgica, a Alemanha inundiariam a França com seus produtos e, diante dessas importações não habituais, a maioria de nossasfábricas não tardaria a sucumbir. Nenhum país jamais ousou fazer semelhante experiência, nem mesmo para um só ramo industrial. Os homens de Estado, que estavam e ainda estão mais vivamente ligados às teorias de Adam SmithR, recuaram diante de uma empresa dessa natureza; e por minha conta, confesso que a julgo cheia de perigos e de ameaças." Essas palavras são bastante enérgicas e bastante claras? É lamentável que o autor, em lugar de (^) se deter diante do fato material, não tenha deduzido teoricamente os motivos de seus terrores. Sua critica teria gozado de uma autoridade que a minha não atingirá; e talvez o problema da balança comercial, resolvido por um economista de primeira ordem, discípulo e amigo de Say, tivesse fornecido uma regra à opinião e preparado as bases de uma verdadeira associação entre os povos. Mas Fix, imbuído de teorias econômicas e persuadido de sua certeza, não podia ir além do pressentimento de sua contradição. Quem acreditaria, depois do espantoso programa que acabamos de ler, que Fix tivesse tido a coragem de terminar por este estranho pensamento: hw não destrói em nada a excelência da teoria e a possibilidade de sua aplicação!. .. Quanto a mim, não posso deixar de voltar a dizer: quanto mais vivo, quanto mais aprofundo as opiniões dos homens, mais acredito que nós somos espécies de profetas, inspirados por um sopro sobrenatural e falando da abundância do deus que nos faz viver. Mas, ai! Em nós não há somente deus, há também o bruto, cujas sugestões furiosas ou estúpidas nos perturbam sem cessar a razão e levam nosso entusiasmo a divagar. Não somente, portanto, o gênio fatídico da humanidade me força a supor um deus, devo também admitir, como complemento de hipótese, que no homem vive e respira todo o reino animal: o teísmo tem como corolário a metempsicose.

.................................................................. , Adam Smith (1723-1790), economista escocês, formou escola com sua obra Investigação sobre a natureza e as causas da rique::a das naçiJes, publicada em 1776 (NT).

Proudhon • Filosofia da Miséria - 11

o quê! Aí está uma teoria contradita por fatos constantes e universais, Il'sultados espontâneos da energia humana, e que não podem não se produzir; l' (;ssa teoria, que teria devido começar por nos dar a filosofia desses mesmos L,los e que os rejeita sem entende-los, é declarada indubitável, excelente! Ai está uma teoria que seus partidários declaram inaplicável na França, na Inglaterra, na Bélgica, na Alemanha, na Europa inteira e nas cinco partes do mundo; de fato, é ser inaplicável não poder ser aplicada sem causar imensos desastres, sem tornar improdutivos enormes capitais, sem tirar o pão e o trabalho a centenas de milhares de operários, sem matar a metade da fabricação de um país; - uma teoria, digo, que, apesar do desejo dos governos, é inaplicável ao século XIX, como ao XVIll, como ao XVII, como a todos os séculos anteriores; uma teoria que será ainda inaplicável amanhã, depois de amanhã e na seqüência dos séculos, porquanto sempre, em cada ponto do globo, pelo efeito das atividades nacionais e individuais, pela constituição dos monopólios e pela variedade dos climas, serão produzidas divergências de interesses e rivalidades, conseqüentemente, sob pena de morte ou de escravidão, coalizões e exclusões; e não se insiste menos, para honra da escola, em afirmar a possibilidade de aplicar essa teoria! Tenham paciência, dizem eles: o mal causado pela liberdade das trocas será passageiro, enquanto o bem que dela resulta será permanente e incalculável. Que me importam essas promessas de felicidade endereçadas à posteridade, cuja realização não pode ser garantida e que, _1_ r sem dúvida, se algum dia se realizarem, serão compensadas por outros j desastres? Que me importa saber, por exemplo, que a Inglaterra nos teria :,1 (^) fornecido a 150 francos cada 100 quilos os mesmos trilhos de ferrovia 4' {;i I, que nós pagamos 359,50 francoS a nossOS fabricantes e que o Estado ;

I teria ganho nesse mercado 200 milhões; que a recusa de admitir gado

estrangeiro em nossas feiras fez baixar entre nós o consumo da carne de '\ 25% por cabeça e que a saúde pública é afetada por ela; que a introdução de lã estrangeira, levando a uma redução média de 1 franco por calça, deixaria 30 milhões no bolso dos contribuintes; que os direitos sobre o açúcar só beneficiam os fraudadores; que é absurdo que duas regiões cujos habitantes se enxergam de suas janelas se encontrem mais separados uns dos outros do que por uma muralha da China; que me importam, repito,

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a outra por meio desse veículo da troca, que aqui podemos muito bem denominar de contagio econômico. É o comércio que cria ao mesmo tempo a riqueza e a desigualdade das fortunas; é pelo comércio que a opulência e o pauperismo progridem continuamente. Portanto, onde o comércio se detém, cessa ao mesmo tempo a ação econômica e reina uma imóvel e comum mediocridade. Tudo isso é de tal simplicidade, de um bom senso tão popular, de uma evidencia tão peremptória, que devia escapar aos economistas; de fato, uma vez que é próprio dos economistas nunca admitir a necessidade dos contrários, seu destino é de estar sempre fora do senso comum. Demonstramos a necessidade do livre comércio; vamos completar Cssa teoria mostrando como a liberdade, quanto mais latitude obtiver, mais se torna para as nações comerciantes uma nova causa de opressão e de banditismo. E se nossas palavras respondem à nossa convicção, teremos desvelado o sentido da reforma empreendida com tanto barulho por nossos vizinhos de além do canal da Mancha; teremos posto às claras a maior de todas as mistificações econômicas. O argumento capital de Say, que na cruzada organizada contra o regime protetor desempenhou o papel de Pedro, o eremita, consiste neste silogismo: "Maior: Os produtos só sc pagam com produtos, as mercadorias só se compram Com mercadorias. Menor: O ouro, a prata, a platina e todos os valores metálicos são produtos do trabalho, mercadorias como o carvão mineral, o ferro, a sede, os tecidos, os fios, os cristais, etc. Conseqüência: Logo, uma vez que toda importação de mercadorias é saldada por uma exportação equivalente, é absurdo acreditar que possa haver vantagem de algum dos lados, segundo uma parte das mercadorias entregues em retribuição consiste, ou não, em numerário. _ Bem pelo contrário, desde que o ouro e a prata são mercadoria cujo único serviço se reduz a servir de instrumento de circulação e de troca para os outros, a vantagem, se existir de algum lado, é da nação que traz do estrangeiro mais produtos do que aqueles que lhe entrega; e longe de procurar nivelar, como se diz, as condições do trabalho por meio de tarifas aduaneiras, deve-se nivelá-las pela mais absoluta liberdade."

Proudhon - Filosofia da Miséria - II

I 111 n)llseqüêncla, Jean-Baptiste Say põe como corolários de ," I, IIIIOSO princípio, os produtos só se pagam com produtos, as I" "I" ".1 ~'úcs seguintes: 11 (Ima nação ganha tanto mais quanto a soma dos produtos que II!!I" '/ flf ultrapassa a soma dos produtos que exporta; III' 11 i!'"i.. , 'los negociantes dessa nação ganham tanto mais quanto o valor do (^) I.. Ic.... :

'. /. '/1/1 I I/fie recebem ultrapasse o valor das mercadorias que exportaram. li (^ I,', r I

1:la argumentação, que é o inverso daquela dos partidários do sistema 111' '";llilil, pareceu tão clara, tão decisiva, com os efeitos subversivos do I' I' 11 11 L' protetur vindo em auxílio, que todos os homens de posição, que " \ ;IIIgloriam de independência e de progresso, todos os economistas de ,1)'11111 valor a adotaram. Chega-se até mesmo a não raciocinar mais com 1<111,'ks que defendem a opinião contrária, mas são ridicularizados. "l'In geral se esquece que os produtos se pagam com produtos... Os 11,!,I,'scs podem nos dar produtos a bom preço; não sei se estão dispostos .1 '11 IS dar esses produtos por nada. Não se transaciona com quem não tem 1.111:1 a dar em troca ... Se a França, vitoriosa sobre sua pérfida vizinha, a "hl I)~asse a trabalhar para ela; se a Inglaterra, para pagar seu tributo, nos "\jlL'disse gratuitamente cada ano o que nos faz, segundo nós, pagar ainda 1I1111to caro, os proibicionistas, para ser conseqüentes, deveriam gritar por 11:1I~'~lO. Há, confessamos, razões muito fortes para nós; nossos adversários 1I1;lIlcjam uma arma de dois gumes. Se a Inglaterra nos toma, como em I~ 15, eles gritam que é a ruina; se ela nos dá, como aventamos em hipótese, !'lllall1 mais alto ainda" (Journal des Economistes, agosto de 1842). I~ nos números do mesmo jornal, novembro de 1844, abril, junho, julho de I~'15, um economista de notável talento, cheio da mais generosa filantropia, lllligido, o que poderia parecer surpreendente, pc1as idéias mais igualitárias, um Ili lmcm que eu elogiaria mais se não tivesse conseguido sua súbita celebridade 11m meio de uma tese inadmissível, se encarregou de provar, com os aplausos <iL' lodo o público economista, que nivelar as condições do trabalho é atacar a 1 roca em seu princípio; que não é verdade que o trabalho de uma área possa .ser sufocado pela concorrência das regiões mais favorecidas; que se isso fosse ,'.'.ato, os direitos protetores não igualam as condições de produção; que a libcrdade nivela essas condições enquanto podem sê-lo; que são as regiões

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menos favorecidas que ganham mais nas trocas; que a liga e Robcrt Peello merecem muito da humanidade pelo exemplo que dão às outras nações; e que todos aqueles que pretendem e sustentam o contrário são sisifistas il. Certamente Bastiatl2^ , das Landes i3^ , pode se vangloriar de ter, pela audácia e pela firmeza de sua polêmica, maravilhado os próprios economistas e fixado talvez aqueles cujas idéias sobre o livre comércio eram ainda oscilantes; quanto a mim, confesso que não encontrei em parte alguma sofismas mais sutis, mais cerrados, mais conscienciosos e de um ar de verdade mais franca que os sofismas econômicos de Bastiat. Ouso dizer, contudo, que, se os economistas de nossa época cultivassem menos a improvisação e um pouco mais a lógica, teriam facilmente percebido o vício dos argumentos do Cobden l4^ dos Pirineus; e que, em lugar de procurar arrastar a França industrial atrás da Inglaterra por meio de uma abolição total das barreiras, tivessem exclamado: Alerta! Os produtos se compram com produtos! Aí está, sem dúvida, um magnífico, um incontestável princípio pelo qual gostaria que uma estátua fosse erguida a Jean-Baptiste Say, No que me diz respeito, demonstrei a verdade desse princípio ao dar a teoria do valor; provei ainda que esse princípio era o fundamento da igualdade das fortunas, assim como o equilíbrio na produção e na troca. Mas quando se acrescenta, como segundo termo do silogismo, que u ouro e a prata cunhados são uma mercadoria como outra, afirma-se um fato que não é verdadeiro senão em potencial; por conseguinte, se faz uma generalização inexata, desmentida pelas noções elementares que a própria economia política fornece sobre a moeda.

10 Robert Pcel (1788-1850), político inglês, foi ministro do interior, primeiro-ministro; introduziu substanciais reformas na economia do país (NT). 11 Referência ao trabalho punitivo do lendário rei de Corinto, Sísifo, que foi condenado, por ter engando os deuses para escapar da morte, a rolar uma imcnsa rocha montanha acima; cada vez que a rocha ia atingir o topo, rolava montanha abaixo, obrigando Sisifo a recomeçar o trabalho ('H). 12 Claude frédéric Bastiat (1801-1850), político e economista francês, discípulo de Jean-Baptiste Say, defendia a tese de que liberdade, progresso e produção são os pilares de uma economia sadia e apoiava convictamente a livre concorrência (NT). iJ Região do sudoeste da França, situada no litoral do Atlântico, coberta por densa floresta que fornece matéria-prima para a produçao de papel (NT). 14 Richard Cobden (1804-1865), industrial, economista e político britânico (NT).

Prouchon. Filosofia da Miséria - 11

() dinheiro é a mercadoria que serve de instrumento nas trocas, 1 111 ,', como já mostramos, a mercadoria-princesa, a mercadoria por , 'I dência, aquela que é sempre mais procurada que oferecida, que '. , "de todas as outras, aceitável em todo pagamente e, por conseguinte, IIIllI:tda representativa de todos os valores, de todos os prÇldutos, de I, ,.jns os capitais possíveis. Com efeito, quem tem mercadoria, não tem ,li lida por isso riqueza; fa 1ta preencher a condição de troca, condição I "'Ilf',m;a, como se sabe, sujeita a mil oscilações e a mil acidentes. Mas 1\lIC'I11 tem moeda tem riqueza; de fato, possui o valor ao mesmo tempo 111:lis ide2.lizado e mais real; tem aquilo que todos querem ter; pode, por llleio dessa mercadoria única, adquirir, quando quiser, nas condições IIl:tis vantajosas e na^ ocasião^ mais^ favorável, todas as outras;^ numa 1,,!I;lVra, é, com o dinheiro, dono do mercado. O detentor do dinheiro é 111\ comércio como aquele que, no jogo de baralho, tem o coringa, pode ,,' muito sustentar que todas as cartas têm entre si um valor de posição " 11m valor relativo; pode-se mesmo acrescentar que o jogo não pode ser ,,'c!uado senão pela troca de todas as cartas, umas pelas outras; isso não lIilpcde que o coringa tome as cores das outras c, entre os coringas, os Ilrimeiros não suprimem os outros. Se todos os valores fossem determinados e constituídos como n dinheiro, se cada mercadoria pudesse ser, imediatamente e sem pcrda, aceita em troca de outra, seria de todo indiferente, no comércio Illternacional, saber se a importação ultrapassa ou não a exportação. Mesmo essa questão não teria mais sentido, a menos que a soma dos valores de uma ultrapassasse a soma dos valores da outra. Nesse caso, s.'ria como se a França trocasse uma peça de 20 francos por uma libra c'slcr1ina ou um boi de 40 quintais por um de 30. Na primeira troca, teria ganho 20%; na segunda, teria perdido 25%. Nesse sentido, Jean-Baptiste Say teria tido razão ao dizer que uma nação ganha tanto mais quanto o valor das mercadorias que importa ultrapassa o valor das mercadorias

. (^) (/'((' exporta. Mas esse não é o caso na condição atual do comércio; a I".....\•..

  • di^ ferença da importação sobre a exportação se entende unicamente das ' , mcrcadorias pelas quais uma quantidade numérica teve de ser dada como complemento; ora, essa diferença não é de todo indiferente.

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ou intermitente do povo que, comprando sempre e não vendendo nunca, tivesse de tomar empréstimos sem cessar a seus próprios mercadores. Logo veremos o que se torna um país quando se aliena por hipoteca. Assim, a deserção do capital nacional, que muito judiciosamente Say tinha assinalado como a única coisa a temer de uma importação excessiva, essa deserção é inevitável; ela se realiza, não, é verdade, pela transferência material do capital, mas pela transferência da renda, pela perda da propriedade, o que é exatamente a mesma coisa. Os economistas, porém, não admitem o caso extremo que supomos há pouco e que evidentemente não lhes daria razão. Observam, e com razão de resto, que nenhuma nação trata exclusivamente com dinheiro; que é necessário, portanto, se limitar a raciocinar sobre o real e não sobre o hipotético; depois de ter achado interessante, para refutar seus adversários, levar seus princípios até as últimas conseqüências, não suportam que se faça o mesmo com eles, o que implica da parte deles a confissão de que não acreditam mais em seus próprios princípios, a partir do momento em que se procura levar esses princípios até o fim. Coloquemo-nos, portanto, do lado dos economistas no terreno da realidade e saibamos se pelo menos sua teoria, tomando-a pelo justo meio, é verdadeira. Ora, sustento que o mesmo movimento de deserção vai se manifestar, embora com menor intensidade, quando, em lugar de pagar a totalidade de suas aquisições em dinheiro, o país importador saldará uma parte por meio de seus próprios produtos. Como é possível tornar obscura uma proposição de uma evidência matemática? Se a França importa cada ano para um total de 100 milhões de produtos ingleses e manda para a Inglaterra o equivalente a 90 milhões dos seus, uma vez que 90 milhões de mercadorias francesas servem para cobrir 90 milhões de mercadorias inglesas, o excedente destas será saldado em dinheiro, salvo o caso em que o excedente fosse coberto com letras de câmbio emitidas conta outros países, o que extrapola a hipótese. Seria, portanto, como se a França alienasse 10 milhões de seu capital e, além do mais, a preço vil; de fato, quando chegar o empréstimo, é claro que pouco dinheiro será dado contra uma grande hipoteca. Outro erro dos economistas.

Proudhon • Filosofia da Miséria· 11

Depois de ter, fora de propósito, assimilado o dinheiro às outras Il1ercadorias, os adversários da proteção cometem uma confusão 11;10 menos grave, ao assimilar os efeitos da alta e da baixa sobre o ti Il1heiro aos efeitos da alta e da baixa sobre as outras espécies de produtos. Como é em torno dessa confusão que gira principalmente slla teoria do livre comércio, é necessário, para esclarecer a discussão, que remontemos aos princípios. O dinheiro, dissemos no capítulo JI, é um valor variável, mas nJflstituído; os outros produtos, a imensa maioria pelo menos, são não somente variáveis em seu valor, mas entregues ao arbítrio. Isso significa que o dinheiro pode muito bem variar numa praça em sua quantidade, de tal modo que, com a mesma soma, se obterá ora mais, ora menos de outra mercadoria; mas permanece invariável em sua qualidade peço perdão ao leitor por empregar tão seguidamente esses termos de metafísica - isto é, que, apesar das variações da proporcionalidade da

mercadoria monetária, essa mercadoria nem por isso é a única aceitável

em todo pagamento, a suserana de todas as outras, aquela cujo valor, por um privilégio temporário, sem assim se quiser, mas real, é social e regularmente determinada em suas oscilações e, por conseguinte, cuja preponderância é invencivelmente estabelecida. Suponham que o trigo subisse de repente e se mantivesse por certo tempo l1um preço extraordinário. enquanto que o dinheiro descesse a um terço ou um quarto de seu valor; poderia seguir-se disso que o trigo tomasse o lugar do dinheiro, medisse o dinheiro, servisse para pagar o imposto, os produtos do comércio, as rendas do Estado e liquidar todos os negócios? Certamente não. Até que, por uma refonl1a radical na organização industrial, todos os valores produzidos tenham sido constituídos e determinados como a moeda (se é que essa constituição possa algum dia ser definitiva), o dinheiro conserva sua realeza e é somente dele que se pode dizer que acumular riqueza é acumular poder. Quando, portanto, os economistas, confundindo todas essas noções, dizem que, se o dinheíro é raro num país, a ele retoma chamado pela alta, respondo que é precisamente a prova de que esse país se aliena, que é nisso que consiste a deserção de seu capital.

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E quando acrescentam que os capitais metálicos, acumulados num ponto por uma exportação superior, são forçados a se expatriar em seguida e retornar aos pontos vazios, afim de ali encontrar emprego, replico que esse retorno é justamente o sinal da falência dos povos importadores e o anúncio da realeza financeira que atraíram sobre si. De resto, o fenômeno tão importante da subalternização dos povos pelo comércio só escapou aos economistas porque se detiveram na superfície do fato e não perscrutaram suas leis e suas causas. Quanto à materialidade do evento, eles a perceberam; só se equivocaram na significação e nas conseqüências. Sobre esse ponto, como sobre todos os outros, é ainda em seus escritos que são encontradas reunidas todas as provas que os acabrunham. Li em Les Débats de 27 de julho de 1845 que o valor das exportações da França em 1844 foi de 40 milhões inferior ao das importações e que, em 1843, essa mesma diferença foi de 160 milhões. Não falemos dos outros anos; pergunto ao autor do artigo, que não perdeu a oportunidade para desfechar um coice no sistema mercantiL o que aconteceu com esses 200 milhões em espécie, que serviram de complemento, e que a França pagou? - A alta dos capitais em nosso país deve tê-los feito retornar; é isso que deve responder, segundo Jean-Baptiste Say. - Parece, com efeito, que retornaram; toda a imprensa política e industrial nos informou que um terço dos capitais investidos em nossas ferrovias, para não aqui senão esse ramo de especulação, eram capitais suíços, ingleses, alemães; que os conselhos de administração dessas ferrovias eram formados em parte de estrangeiros, presididos por estrangeiros. e que muitas vias, entre outras a mais produtiva, aquela do norte, tinham sido adjlidicadas a estrangeiros. Isso está claro? Fatos análogos ocorrem em todos os pontos do território; quase toda a dívida hipotecária da região da Alsácia está inscrita em proveito dos capitalistas suíços de Basiléia, por intermédio dos quais o capital nacional exportado retoma, sob o timbre estrangeiro, para escravizar aqueles que outrora eram seus proprietários. Os capitais metálicos, portanto, retornaram e não retornaram por nada; isso é confesso. Ora, contra que foram trocados em seu retorno, isto é, emprestados? Será que foi contra mercadorias? Não, porquanto

proudhon • Filosofia da Miséria - II

IIO,>sa importação é sempre superior a nossa exportação; porquanto, para ';IIS(cntar essa exportação tal qual, somos forçados ainda a nos proibirmos :1 importação. É, portanto, contra rendas, contra dinheiro, porquanto, por I H lllCO que o dinheiro produza, esse emprego de seus capitais é melhor para os estrangeiros do que comprar nossas mercadorias, das quais não lIl:cessitam, e que mesmo, no fim, terão, juntamente com nosso dinheiro. I'ortanto, alienamos nosSO patrimônio e nos tornamos em nossa casa os :\rrematantes do estrangeiro; como. depois disso, compreender que, quanto IlIais importamos, mais ricos ficamos? É aqui, e o leitor haverá de compreendê-lo sem problema, que está () nó da dificuldade. Por isso, apesar do atrativo que podem ter os fatos Iluma semelhante polêmica, devem ceder o passo à análise; peço, portanto, permissão para me deter ainda por algum tempo na teoria pura. Bastiat, esse Aquiles do livre comércio cuja brusca aparição deslumbrou scus confrades, menosprezando o papel soberano do dinheiro na troca e confundindo com todos os economistas o valor regularmente oscilante da moeda com as flutuações arbitrárias das mercadorias, se lançou, seguindo Say, num dédalo de argúcias capaz talvez de embaraçar um homem estranho às rubricas comerciais. mas que se desenreda com a maior facilidade à luz da verdadeira teoria do valor e da troca e só deixa perceber de imediato a miséria das doutrinas econômicas. "Eis, diz Bastiat, dois países, A e B. - A possui sobre B toda espécie de vantagens. Disso podem concluir que o trabalho se concentra em A e que B está na impotência de nada poder fazer." Quem fala de concentração e de impotência? Coloquemo-nos francamente na questão. Supomos dois países que, abandonados a suas próprias capacidades, produzem objetos similares ou pelo menos análogas, mas um em abundância e a baixo preço, o outro em quantidade menor e de forma cara. Esses dois países, por hipótese, nunca tiveram relações; não há lugar, portanto, até então para falar de concentração do trabalho num nem de impotência no outro. É claro que sua população e sua indústria estão em razão de suas respectivas capacidades. Ora, trata-se de saber o que acontecerá quando esses dois países entrarem em relação por meio do comércio. Essa é a hipótese: digam se a aceitam ou não."