



Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Detalha o ano politico do governo Temer.
Tipologia: Trabalhos
1 / 6
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
https://revistaescuta.wordpress.com/2017/04/10/o primeiro ano da politica externa de temer e a desconstrucao das ultimas decadas/ 1/
André Luiz Coelho* e Vinicius Santos*
Chegando quase ao primeiro ano de gestão de Michel Temer na presidência, após o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff da chefia do executivo[1], buscamos esboçar nessa pesquisa algumas diretrizes do novo programa governamental implementado no que diz respeito à condução da Política Externa Brasileira (PEB).
Nossa hipótese de trabalho sustenta que na tentativa de desconstrução do legado das administrações petistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff, Michel Temer acabou negando e desfazendo as principais linhas da Política Externa Brasileira desde o fim dos governos militares, sobretudo em relação à priorização das relações diplomáticas e comerciais com os países do Sul. Nessa trajetória ainda incerta, mesmo as principais ações empreendidas no plano internacional pelo ex‑presidente Fernando Henrique Cardoso parecem ser deslegitimadas pelas atuações recentes dos tucanos José Serra e Aloyzio Nunes, escolhidos por Temer para ocupar a chancelaria brasileira.
Desde que assumiu a presidência interina, Michel Temer buscou se distanciar da agenda defendida por sua antecessora, ainda que tal agenda representasse o desejo soberano das ruas. Na nova formação dos Ministérios[2] chamou a atenção a presença significativa dos partidos da então oposição e defensores do afastamento de Dilma. Tal reformulação de cargos e pessoas levou a escolha do Senador pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) José Serra para a pasta das Relações Exteriores.
No pronunciamento de investidura no cargo, o recém empossado Ministro indicou que apresentava ali o “delineamento da nova política externa brasileira”. Assim, entre os tópicos evidenciados por Serra destacamos: 1) a marcação de posição quanto à alegada ideologização da política externa brasileira durante as gestões anteriores (uma crítica antiga do PSDB); 2) a ênfase em temas de cunho comercial com destacado o papel da Argentina e México, além de ressaltar uma potencial aproximação com a Aliança do Pacífico. Em relação as estratégias da ação internacional brasileira
cabe apontar a menção à ampliação do “intercâmbio com parceiros tradicionais”, como a Europa, os
https://revistaescuta.wordpress.com/2017/04/10/o primeiro ano da politica externa de temer e a desconstrucao das ultimas decadas/ 2/
cabe apontar a menção à ampliação do “intercâmbio com parceiros tradicionais”, como a Europa, os Estados Unidos e o Japão”. Por fim, o chanceler também direcionaria 3) críticas às relações Sul‑Sul que marcaram as gestões petistas na década anterior.
O projeto para Política Externa Brasileira do governo Temer, desde a sua formação, vem se esforçando para afastar‑se do que entende ter sido, ao longo dos anos do governo do Partido dos Trabalhadores, uma “Política Externa Ideologizada”. Tal política externa seria qualificada, de acordo com seus críticos, dentre outras características, por 1) escolhas eminentemente políticas e não comerciais, trazendo prejuízos para o país; 2) alianças questionáveis do ponto de vista ético, como a aproximação com ditadores de países da África e do Oriente Médio; 3) foco equivocado na parceria com países identificados com políticas de esquerda na região, como Bolívia, Equador, Venezuela e Cuba.
Contudo, cabe esclarecer que a ideia de “Política Externa Partidarizada” tende a ser utilizada com o objetivo de obscurecer que projetos distintos de inserção internacional, em um ambiente democrático, precisam figurar cada vez mais no debate público. Dessa forma, considerar que haja um “interesse” ou projeto natural de política externa brasileira omite um ponto importante: a dinâmica política presente na reflexão sobre a ação externa do país. Nesse cenário, como avaliar a ocupação do Ministério das Relações Exteriores por dois políticos do PSDB? Justamente quando ambos são os primeiros não diplomatas a assumirem esse cargo após mais de duas décadas?
A gestão de Temer parece sinalizar com o retorno de paradigmas deixados pela diplomacia brasileira há décadas, especialmente quando afirma o desejo da substituição das relações Sul‑Sul pelo novo (velho) foco nos “parceiros tradicionais”, especialmente nas figuras dos Estados Unidos e da União Europeia. A escolha por uma política externa de cunho americanista, por exemplo, esteve presente em diversos momentos durante o século XX, até ser definitivamente posta de lado pela chamada “crise de paradigmas”, iniciada no começo dos anos 1990. Os anos que se seguiram impuseram uma releitura do americanismo, notadamente, no seio do que se convencionou chamar de inserção por meio de uma maior “participação/integração”, durante a Presidência de Fernando Henrique Cardoso.
No entanto, a maior parte dos países da União Europeia e mesmo os Estados Unidos procurou demonstrar certo afastamento da nova gestão Temer e de todo o processo que culminou na queda de Dilma Rousseff da chefia do executivo, ao contrário da posição defendida pelo presidente argentino, Mauricio Macri, cujas declarações enfáticas de aproximação do novo governo contrastaram com o posicionamento de países como Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e El Salvador, que qualificaram a destituição de Dilma Rousseff da presidência como um legítimo “golpe de Estado” [3]. O Departamento de Estado dos EUA, por sua vez, chegou mesmo a tecer uma crítica indireta a completa ausência feminina na formação ministerial do alto escalão interino de Temer, defendendo a necessidade do “poder da diversidade para o bom funcionamento das democracias”[4]. Contudo, o tom parece ter mudado no Pós‑Afastamento de Dilma Rousseff, quando o governo Obama adotou um tom de defesa do que considerou um processo que transcorreu de acordo com o quadro normativo constitucional brasileiro e que, em razão dessa normalidade, justificava que as relações entre os dois países deveriam ser renovadas [5].
Ao refletir sobre os diversos indicativos e declarações que buscam marcar uma posição distinta da Política Externa Brasileira do atual período com o anterior, em especial a defesa das relações com os “parceiros tradicionais”, cabe questionar: qual o lugar da cooperação sul‑sul no marco da redefinição da política externa brasileira?
A Política Externa empreendida durante as gestões do Partido dos Trabalhadores se caracterizou pelo foco nas relações diplomáticas e comerciais com os países da América do Sul e pela busca da diversificação das parcerias, apostando na diversidade da presença internacional nos mais diferentes âmbitos. Como consequência dessas políticas, podemos listar a abertura de uma série de
representações diplomáticas brasileiras como instrumento dessa inserção, bem como a ampliação dos
https://revistaescuta.wordpress.com/2017/04/10/o primeiro ano da politica externa de temer e a desconstrucao das ultimas decadas/ 4/
*Vinícius Santos é mestrando em Direito e Políticas Públicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), bacharel em Relações Internacionais (Unilasalle – RJ), pesquisador no GRISUL (Grupo de Relações Internacionais e Sul Global (Unirio) e Assistente de Pesquisa no Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP‑ UERJ), além de colaborador da Escuta.
Imagem disponível em h p://minashoje.com/2016/05/quem‑e‑michel‑temer‑conheca‑o‑discreto‑ curriculo‑politico‑do‑novo‑presidente‑do‑brasil/ Acesso em 10/04/
Notas:
[1] El Pais. 12/05/2016. Senado afasta Dilma Rousseff do poder. h p://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/12/politica/1463009295_743361.html?rel=mas.
[2] El Pais. 13/05/2016. Michel Temer toma posse na presidência e apresenta ministros. Disponível em: h p://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/11/politica/1462965819_795733.html. Acessado em:
[3]Temer, entre o silêncio dos EUA e o embate com a esquerda da região. h p://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/17/politica/1463486544_844691.html
[4] Quanto mais diversidade, melhor’, dizem EUA sobre ministério de Temer. h p://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1771127‑quanto‑mais‑diversidade‑melhor‑dizem‑eua‑ sobre‑ministerio‑de‑temer.shtml.
[5] Para Estados Unidos, impeachment seguiu ordem constitucional. h p://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/08/1808891‑para‑estados‑unidos‑impeachment‑seguiu‑ ordem‑constitucional.shtml
[6]Por decreto, Trump retira EUA da Parceria Transpacífico. h p://www1.folha.uol.com.br/mundo/2017/01/1852303‑trump‑retirara‑eua‑do‑tpp‑nesta‑segunda‑ diz‑emissora.shtml.
[6]SERRA, José. Discurso de Posse. Disponível em: h p://www.itamaraty.gov.br/pt‑BR/discursos‑ artigos‑e‑entrevistas/ministro‑das‑relacoes‑exteriores‑discursos/14038‑discurso‑do‑ministro‑jose‑ serra‑por‑ocasiao‑da‑cerimonia‑de‑transmissao‑do‑cargo‑de‑ministro‑de‑estado‑das‑relacoes‑ exteriores‑brasilia‑18‑de‑maio‑de‑
[7] Serra pede estudo de custo de embaixadas na África e no Caribe. h p://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/05/1771982‑serra‑pede‑estudo‑de‑custo‑de‑embaixadas‑ na‑africa‑e‑no‑caribe.shtml
[8]Itamaraty revisa voto dado na Unesco sobre os territórios ocupados por Israel. h p://blogs.oglobo.globo.com/lauro‑jardim/post/itamaraty‑revisa‑voto‑dado‑na‑unesco‑sobre‑os‑ territorios‑ocupados‑por‑israel.html
[9] (MRE – Nota 211, 2016)
[10] Nota do Itamaraty sobre mudança de posição preocupa Unesco. h p://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,nota‑do‑itamaraty‑sobre‑mudanca‑de‑posicao‑ preocupa‑unesco,
[11] (MRE – Nota 90, 2017)
[12] h p://m.folha.uol.com.br/mundo/2017/03/1869055‑por‑austeridade‑brasil‑vota‑contra‑resolucao‑ de‑direitos‑humanos‑na‑onu.shtml. [13] Mandato do Perito Independente sobre os efeitos da dívida externa e outras obrigações
https://revistaescuta.wordpress.com/2017/04/10/o primeiro ano da politica externa de temer e a desconstrucao das ultimas decadas/ 5/
[13] Mandato do Perito Independente sobre os efeitos da dívida externa e outras obrigações financeiras internacionais correlatas dos Estados na plena fruição dos direitos humanos, especialmente os direitos econômicos, sociais e culturais
[14] “Maduro não vai presidir o Mercosul, diz José Serra”.
h p://oglobo.globo.com/economia/maduro‑nao‑vai‑presidir‑mercosul‑diz‑jose‑serra‑
h p://g1.globo.com/mundo/noticia/2016/08/itamaraty‑protesta‑contra‑critica‑de‑chanceler‑uruguaio‑ jose‑serra.html