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O aquecimento global visto pelas revistas Scientific American Brasil e SuperInteresante
Tipologia: Notas de estudo
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XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007
O aquecimento global visto pelas revistas Scientific American Brasil e SuperInteresante^1
Ana Castro^2 , Leonardo C. Zanon^3 , Roni Petterson^4 , Sandra R. Mariuci^5
UMESP – Universidade Metodista de São Paulo.
Resumo
Este artigo se propõe a analisar o tema “Aquecimento Global” nas Revistas Super Interessante (outubro/2005) e Scientific American Brasil (abril/2005). A escolha por essas edições se deu pelo fato do tema acima ser matéria de capa das publicações. Trata- se de uma pesquisa descritiva, com análise dos textos subsidiada pelos Estudos da linguagem e da Análise do discurso, buscando-se observar a presença dos discursos utilizados nas matérias referentes ao aquecimento global e seus usos de linguagem. Percebeu-se na Revista Super Interessante o uso de sensacionalismo e a atribuição da responsabilidade do aquecimento (terrestre) aos países industrializados, principalmente os EUA, enquanto na Scientific American Brasil foi identificado um discurso ameno, sem acusações a chefe de estados ou países e a intenção de dizer que o aquecimento tem solução.
Palavras-chave
Aquecimento global; contrato de leitura; verbos introdutores.
Metodologia
Por meio de uma pesquisa descritiva será identificada nas publicações Scientific American Brasil de abril de 2005 e SuperInteressante de outubro de 2005 a presença dos discursos utilizados nas matérias referentes ao aquecimento global e seus usos de linguagens. A pesquisa descritiva, segundo Cervo e Bervian (2002, p.66) “observa, registra, analisa e correlaciona fatos e fenômenos (variáveis) sem manipulá-los”.
(^1) Trabalho apresentado no XVII Endecom – Encontro de Informação em Ciências da Comunicação. (^2) Ana Caroline Castro. Jornalista, mestranda em Comunicação Social pela Umesp. E-mail: ana.castro@tvglobo.com.br (^3) Leonardo C. Zanon. Jornalista, pós-graduando em Comunicação Empresarial e Relações Públicas. Mestrando em Comunicação Social pela Umesp. E-mail: leozanon@yahoo.com.br 4 mandaproroni@hotmail.comRoni Petterson de M. Pacheco. Jornalista, mestrando em Comunicação Social pela Umesp. E-mail: (^5) Sandra Regina Mariuci, Licenciada em Letras com pós em Português - Língua e Literatura pela UMESP .Docente da Faculdade IESA. Mestranda em Comunicação Social pela Umesp.
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 A constituição do corpus justifica-se, pois o tema foi abordado nas capas nestas edições mencionadas. De acordo com Bakhtin (1997), essa análise é válida, pois “não há textos puros, nem poderia haver. Qualquer texto comporta, por outro lado, elementos que se poderiam chamar técnicos (aspecto técnico de grafia, da elocução, etc)”. Para ajudar a definir a linha analítica, foram realizadas duas formas da pesquisa descritiva: os estudos descritivos e a pesquisa documental ou bibliográfica. Os estudos descritivos são “descrição das características, propriedades ou relações existentes na comunidade, grupo ou realidade pesquisada” (CERVO, 2002: 67) e a pesquisa documental é a investigação de “documentos a fim de se poder descrever e comparar usos e costumes, tendências, diferenças e outras características. Estuda a realidade presente” (CERVO, 2002: 67). Ambas revistas tratam de temas científicos, porém a forma como o assunto é abordado apresenta segmentos ideais diferenciados.
Publicações A Scientific American é uma revista norte-americana, publicada no Brasil pela Duetto Editorial. Voltada para a divulgação científica, apresenta com freqüência artigos escritos por cientistas, análises de temas mais profundos e propagação do que acontece de mais avançado na ciência pelo mundo. O público da Scientific American Brasil é o profissional com formação universitária entre os 24 a 49 anos, com interesse em ciência e tecnologia, e preocupado com o aprimoramento pessoal. Procura mostrar como o desenvolvimento científico gera novas tecnologias e como as novas tecnologias se transformam em negócios. Em um universo de discurso em que, do ponto de vista do conteúdo, a oferta é quase a mesma, o único meio de cada titulo construir sua “personalidade” é através de uma estratégia enunciativa própria, ou seja, construindo um certo vinculo com seus leitores (VERON, 2005: 249)
A SuperInteressante, editada pela Editora Abril desde 1987, é uma revista que busca divulgar o conhecimento de diferentes áreas de estudo de uma maneira simples e divertida, de forma mais clara e palatável ao leitor comum. De acordo com o site www.publiabril.com.br, do dia 26 de abril de 2007, as 15h40, a revista Superinteressante é classificada como um meio de o leitor ter “a aventura do conhecimento humano de modo instrutivo e divertido”. Ainda é dito que a
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 O próximo passo da matéria é explicar porque existe o aquecimento global, quais são as suas possíveis causas. Nesse tópico entram as explicações sobre o efeito estufa, dióxido de carbono, usos de software para medir as variáveis do clima. Em outro tópico, retoma a discussão que existe, principalmente nos EUA, sobre a culpa ou não dos seres humanos sobre o aquecimento global. E relata uma campanha que existe para desinformar o público norte-americano sobre o tema e diminuir a urgência na discussão do assunto. Neste ponto, como já relatado antes, a revista toma claramente a posição de que o aquecimento global é real e que os seres humanos têm a sua parcela de responsabilidade e culpa. E por último a revista apresenta as possíveis soluções para o problema do aquecimento global. A que ganha mais destaque é a redução da emissão de gases do efeito estufa. Outras soluções seriam o desenvolvimento de tecnologias novas, respeito ao protocolo de Kyoto e outros tratados internacionais sobre o clima e mudanças no modo de vida atual, que depende intrinsecamente dos combustíveis mais poluentes (petróleo, carvão etc.). Análise A matéria da SuperInteressante sobre aquecimento global é o destaque da capa da edição de outubro de 2005. A matéria tem ao todo onze páginas entre textos, infográficos e mapas. Matéria assinada pelo jornalista da revista Rafael Kenski tem colaboração de seus colegas Bruno Vieira Feijó, design de Joana Amador e infográficos de Luiz Iria. A capa conta com o título em tom catastrófico: “O fim do mundo começou – Enchentes, epidemias, furacões – para os cientistas o apocalipse já começou. Entenda como o planeta entrou em colapso e conheça a conspiração para esconder isso de você”. A matéria começa na página 44 da revista. A manchete remete à chamada da capa: “O começo do fim”. E o inter-título: “ A humanidade está diante da maior ameaça de todos os tempos: o aquecimento global”. Em todas as 11 páginas de matéria há uma faixa com listras diagonais em vermelho e amarelo remetendo ao sinal de perigo. O vermelho e o amarelo também representam as cores primárias e quentes, são as chamadas cores puras. Pelo significado das cores, o vermelho remete a dinamismo, energia, revolta, calor. E o amarelo é estimulante e alerta.
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 A matéria gira em torno de explicar o aquecimento global, qual é a culpa dos seres humanos e dos países desenvolvidos, em especial os EUA, e em como há uma ´guerra` de discursos para respaldar ou não o problema do aquecimento global. Na Scientific American Brasil com a capa mencionada acima tinha como título “Quando os humanos começaram a alterar o clima?”. A matéria contém oito páginas. Destas, cerca de 40% são box e infográficos. A matéria, que na verdade é um artigo cientifico, foi escrito por William F. Ruddiman. Geólogo marinho e professor emérito de ciências ambientais da Universidade de Virginia. Ele começou a estudar registros de mudança climática em sedimentos oceânicos como aluno de pós-graduação na Universidade Columbia, onde se formou doutor em 1969. Trabalhou como cientista-senior e oceanógrafo no Escritório Naval de Oceonografia dos Estados Unidos, em Maryland, e como pesquisador-sênior no Observatório da Terra Lamont-Doherty, em Columbia. Em termos de discurso (MAINGUENEAU, 2001, p.61), pode-se dizer que o discurso da imprensa escrita é um gênero dentro do tipo midiático. Para que esse discurso seja bem sucedido, exige-se dos interlocutores que compreendam o gênero em questão. No caso, o leitor da revista SuperInteressante - um veículo da mídia impressa dos meios de comunicação - e o enunciador, o produtor da reportagem, precisam saber qual é o seu papel dentro do discurso proposto. A definição desses papéis se dá pelo chamado contrato de leitura, citado tanto em Verón (2005) como em Maingueneau: Dizer que o gênero de discurso é um contrato significa afirmar que ele é fundamentalmente cooperativo e regido por normas [...]. Todo gênero de discurso exige daqueles que dele participam a aceitação de um certo número de regras mutuamente conhecidas e as sanções previstas para quem as transgredir. Evidentemente, esse “contrato” não necessita ser objeto de um acordo explícito [...] (MAINGUENEAU, 2001, p. 69). Na Scientific American Brasil o gênero utilizado é o artigo. “Todo gênero de discurso implica um certo lugar e um certo momento. Não se trata de coerções “externas”, mas de algo constitutivo” (MAINGUENEAU, 2001: 66). Deste modo, o artigo mencionado possui linguagem de fácil compreensão. Mas, seu formato não se encaixa em outro veiculo de divulgação impressa a não ser na Scientific American Brasil. O discurso assim utilizado é o científico, como cita Morris: O discurso científico apresenta a forma mais especializada do discurso designativo-informativo. Nele, o modo designativo de significar despojar em certo grau dos outros modo e desenvolver na forma mais adequada para poder fornecer informação fidedigna sobre o que foi, é ou será [...]Ou seja, que o discurso cientifico está formado pelas afirmações que constituem o
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verificado o uso de palavras conhecidas, com significados claros, de uso coloquial. “Se considerarmos que 0,7 ºC causou tudo isso, dá para dizer que a palavra “apocalipse” não está longe de descrever tudo o que vem por aí.” (pág 44). E quando se faz necessário o uso de algum termo cientifico ou específico, ou palavra mais difícil, a revista faz uso de analogias, de explicações para não ferir a lei da modalidade (MAINGUNEAU, 1996, p.126) que condena o uso de palavras, frases complexas e restritas demais. Para a linguagem não excluir e nem fechar o diálogo entre o leitor e o enunciador. Pode se ver este uso nos seguintes trechos: -Em todos os continentes, a maioria das geleiras – os rios de gelo que correm do topo das montanhas – está sumindo. (pág 46) Ou ainda: -Mas, afinal, de onde vem o aquecimento global? Acertou quem respondeu “ efeito estufa ”... O efeito estufa é o fruto da ação de vários gases – como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e até vapor de água. (pág 50) Uma outra característica do discurso utilizado pela Super Interessante é a seleção de palavras e frases com forte apelo emocional, como por exemplo: apocalipse, fim do mundo, mais violentas, mataram milhares, cavaleiros do apocalipse , etc, para reforçar o tom de urgência da discussão sobre o aquecimento global. Essas palavras também trazem uma forte referência ao apelo religioso, de fim dos tempos. Na Scientific American Brasil, o discurso é ameno sem palavras sensacionalistas ou previsões catastróficas. Deixa claro que as nações mais antigas da Ásia e da Europa começaram a aquecer a terra com seus sistemas de agriculturas como mostra o texto abaixo: -Conclui que as atividades humanas ligadas à agricultura - primariamente o desmatamento e a irrigação de lavouras - devem ter jogado CO2 e metano extras na atmosfera. (p.58) -[...] Em suma, Europa e sul da Ásia foram desmatadas muito antes da do início da era industrial. (p.63) O geólogo abusa do uso dos pronomes pessoais da primeira pessoa ou a colocação de verbos, também na primeira pessoa, já que o artigo foi escrito por ele, mas que segundo Veron, não exala importância. O que varia de uma frase para outra não é o dito, mas a relação do locutor ao que ele diz, as modalidades de seu dizer. Os pronomes pessoais são tipicamente elementos lingüísticos, que se situam no plano da enunciação e não no plano do enunciado: assim, “eu” é uma expressão “vazia”, poder-se-ia dizer, que se
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 “preenche” apenas no momento exato em que é utilizada, pois designa tão somente quem a emprega em um momento dado”. (VERON, 2005: 217)
Tem-se como exemplo: “ me dei conta de que....” pág 58. “ conclui que atividades humanas...” pág 58. “ minha proposição de que atividades...” pág 58. “mas, a meu ver , está longe de ser a ....” pág 60. “examinando de perto os registros do testemunho de gelo de Vostok, percebi uma coisa ...” pág 60. “A Natureza, do meu ponto de vista , teria resfriado o clima do planeta...” pág 65. “ minhas descobertas acrescentaram ...” pág 65. Em nenhum momento da matéria o autor cita o nome de países ou autoridades como culpados pelo aquecimento global. Quando o tem que fazer, utiliza as palavras “tomadores de decisões” e “formuladores de políticas públicas”. Nota-se na revista Scientific American Brasil a utilização correlata das cores vermelho (citada suas características acima) e o verde, referente às florestas, agricultura é constante, tanto no título da revista como em frases retiradas do texto e utilizadas em nos olhos (termo jornalístico que identifica uma frase apenas destacado em um local na página para atrair atenção). No artigo da Scientific American Brasil nota-se uma quantidade relativamente alta de operadores argumentativos, principalmente aqueles que somam argumentos a favor de uma mesma conclusão. Descrito por Ducrot, os operadores argumentativos servem para “designar certos elementos da gramática de uma língua que têm por função indicar (“mostrar”) a força argumentativa dos enunciados, a direção (sentido) para o qual apontam” (KOCH, 1992: 30). Como exemplo: -“...as pessoas que viveram na era industrial são responsáveis não só o acúmulo de gases na atmosfera, mas também por pelo menos uma parte da tendência ao aquecimento que o acompanha”. (pág. 58) e -“... essa proposta com uma mistura de entusiasmo e ceticismo”. (pág. 60) A primeira frase mostra como o pesquisador culpa as pessoas da era industrial e, sem seguida, enfatiza que eles (da era industrial) são os reais responsáveis e contribuintes para o aquecimento global. O “mas também” reforça o primeiro e cria
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 O outro lado do contrato de leitura que está claro desde as capas é o tom de diálogo que ambas matérias terão. Ao usar o pronome “você” (SuperInteressante) para se referir a pessoa com quem se fala, a revista deixa nítido que irá tratar o leitor como um interlocutor direto, um diálogo. Ao usar os verbos entender e conhecer no imperativo, a revista assume um enunciado “pedagógico, que pré-ordena o universo do discurso na intenção do leitor, que vai guiá-lo, responder perguntas, explicar, informá- lo, em suma, conservando uma distância objetiva dele” (VERÓN, 2005: 223). Na Scientific American, o uso excessivo dos pronomes pessoais e de verbos como conclui, ao meu ver e minhas descobertas remete um ensinamento do geólogo para o público leitor que quer mais conhecimentos sobre o assunto. Essa posição pedagógica da revista mostra que o leitor e quem escreve a matéria não são considerados iguais no processo do discurso. Enquanto um explica e ensina, o outro pode apenas entender e aprender.
Fontes e citações A matéria da Scientific American Brasil mostra que o tema aquecimento global está longe de ser um consenso entre os cientistas e especialistas. Há uma clara divergência entre os que acreditam que o aquecimento global já está acontecendo e está causando danos ao mundo e aos seres humanos e que parte desses problemas tem a causa nas ações da humanidade; e aqueles que pensam que o aquecimento global será contornado e superado pelas novas tecnologias, que não é uma ameaça real e que os seres humanos não são culpados. Apesar de demonstrar essa dualidade, a revista SuperInteressante assume uma das posições claramente: a de que o aquecimento global é real. A escolha das fontes da matéria e como elas são apresentadas deixa isso muito claro. Para Luiz Antônio Marcushi, apresentar ou citar o pensamento de alguém implica, além de uma oferta de informação, também uma certa tomada de posição diante do exposto, dependendo da maneira como essa opinião é relatada. “A parcialidade se dá na introdução do discurso alheio, seja na interpretação, seleção ou avaliação” (MARCUSHI, 1991, p. 75) Das 12 fontes citadas na revista, apenas duas têm a sua opinião relatada logo após um verbo “introdutor de opinião”. E coincidentemente, ou nâo, são as duas únicas fontes com opinião contrária a da tomada pela Super, que têm uma citação entre aspas. A primeira fonte é o climatologista Pat Michaels. Ele é citado para exemplificar o que a revista chama de “exército disposto a desfazer qualquer relação
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entre a ação humana e os efeitos destrutivos do aquecimento global”. O verbo utilizado antes das aspas com a frase dita por Michaels é afirmar.
-“Há uma enorme campanha de desinformação” diz o jornalista Ross Gelbspan, autor de Boiling Point (“Ponto de Ebulição”, inédito no Brasil). (p. 44) Este último exemplo, o jornalista Ross Gelbspan é a fonte mais citada em todo o texto. Seu nome aparece sete vezes, das quais cinco vezes vem acompanhado com
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quantidade de infográficos utilizados pela Super (mais de 50% da matéria) percebe-se que o enunciador prioriza o uso desses recursos para explicar o tema e se fazer entendido. Os infográficos trazem abordagens diferentes do texto, mas, dentro da mesma temática que é o aquecimento global. E também se utiliza da mesma linguagem coloquial e alarmista do restante do texto. Pode-se inferir então, que a revista cumpre o contrato de leitura que propôs ao leitor na capa: ser pedagógico, mantendo uma distância objetiva. Ao colocar fotos, desenhos e conteúdo de uma maneira mais simples e clara, a revista oferece ao leitor uma forma rápida de compreender o que é o aquecimento global. Transforma o discurso científico (efeito estufa, absorção de CO2, aerossóis, mudanças climáticas) em algo palatável para o público desse suporte de comunicação de massa. Os infográficos são os seguintes:
XXX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Santos – 29 de agosto a 2 de setembro de 2007 Na Scientific American Brasil, o artigo escrito pelo geólogo apresenta uma tese que segue o rumo contrário ao do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apresentado pelo Painel Inter-Governamental de Mudanças Climáticas (IPCC) onde 2500 cientistas apresentaram suas opiniões em comum. O cientista William F. Ruddiman, utiliza de linguagem simples e leva o leitor a refletir que o aquecimento global não começou com a Revolução Industrial onde a população iniciou a queima de carvão e a usar automóveis com motores movidos a combustíveis fósseis. Começou quando populações, há milhares de anos, queimaram vegetações para o plantio, com o desmatamento das florestas para serem utilizadas como áreas de plantio e com o alagamento de áreas perto de rios para o cultivo de arroz. Percebe-se no texto certa despretensão do cientista em se posicionar, apresentando somente os dados da pesquisa sem palavras sensacionalistas e conseqüências catastróficas. Isso pode ser evidenciado quando ele cita que os resultados da pesquisa dele poderiam ser usados pelas duas alas de cientistas: os favoráveis e os contras o aquecimento global. Porém, ao final do artigo, mostra a glaciação de algumas partes do globo e o resfriamento do clima, como algo inevitável que está sendo somente adiado. Deve-se levar em consideração que o cientista é norte-americano e que os Estados Unidos não fazem parte do protocolo de Kyoto. Por isso, parece uma tentativa clara de dizer que o aquecimento da terra não é algo irreversível. O leitor da Scientific American Brasil possui mais conhecimento para formatar uma opinião, pois o artigo feito por Ruddiman vem com várias ambigüidades e sem uma conclusão futurista definida. Diga-se assim, que a SuperInteressante tem um discurso formatado e assume a idéia que o aquecimento global é um tema urgente e que os seres humanos têm responsabilidade, diferente da Scientific American, que expõe a visão cientifica de um pesquisador específico para informar e, talvez, ajudar na discussão do caso abordado.
Referências bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997
BARTHES, Roland. O rumor da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988
CERVO, A. L. & BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002.