














































































Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Livro para estudo da história de exu
Tipologia: Exercícios
1 / 86
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
A palavra candomblé é sinônimo de religião africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade, representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso. Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo, uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos. Os trezentos anos da história da escravidão do negro no Brasil, atestam, acima de tudo, a resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se escreveu, a resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um farol, um guia, um orixá protetor. No meio dos objetos traficados (os escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes, inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que é a iniciação, todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos roncós. Enfocaremos neste trabalho o início das nações no Brasil, os Orixás, a música ritualística, as indagações religiosas dos céticos, explicação de alguns cultos, algumas lendas (Itans) e uma entrevista com uma adepta iniciada no culto Candomblecista, a fim de que o Candomblé possa ser esmiuçado em forma de não deixar dúvidas.
A cultura africana muito contribuiu para a construção da alma brasileira e o candomblé (palavra de origem yorubana que significa festa e que com o passar do tempo acabou por designar o conjunto de crenças religiosas das diversas etnias africanas reunidas no Brasil) é uma de suas manifestações demonstrando a sua sobrevivência através de crenças e de sua religião desde que foi trazido para o Brasil pelos negros quando aqui vieram na condição de escravos. Apesar de terem a sua própria religião, sua prática lhes era proibida, por isso secretamente cultivavam seus rituais. Vez por outra quando eram surpreendidos pelos seus senhores diziam era estar cultuando os santos católicos e desta prática nasceu o sincretismo - herança do processo de colonização -. Conforme a região a que pertença o candomblé possui várias subdivisões, na Bahia a predominante é o Keto, sendo que suas casas mais conhecidas são o Terreiro Do Gantois, Casa Branca e Ilê Opô Afonjá e a língua religiosa oficial é o Iorubá. O candomblé possui rituais sagrados e secretos e vem tentando manter-se fiel à sua origem, podendo assim, preservar sua essência. O objetivo das obrigações no candomblé é a obtenção de força ou axé (força que emana dos orixás e que precisa ser renovada). O sangue e os sacrifícios presentes nas oferendas são o princípio gerador da vida. Além da vida, o candomblé também exalta as forças da natureza. As folhas, rios, mares e minerais são muito importantes. Todo candomblé é dirigido por uma Ialorixá ou por um Babalorixá que são a autoridade máxima, conduzindo a vida espiritual, administrativa e podendo interferir também na vida pessoal dos seus fiéis. A linha de Ifá - a parte mágica do candomblé - se refere à adivinhação do futuro e aos trabalhos para a feitura do bem e do mal. Os Babalaô são o pai do segredo , e os Oluô , jogam búzios e o Dilogum - jogo de adivinhação.
A hierarquia no candomblé é extremamente rígida. A hierarquia civil é composta por doze Obás, que são ministros de Xangô, e que se dividem em Otum Obá - executivos com direito a voz e voto e os Ossi Obá - conselheiros -. A seguir temos os Ogãs, sócios da comunidade civil, com obrigações civis e religiosas e dentre eles os Pegigan encarregados da matança dos animais e os Ogâ Alabê encarregados dos atabaques. O espaço aonde se realizam as principais cerimônias é o terreiro. Espaço geralmente amplo, formado por várias casinhas, cada uma pertencente a um orixá que por sua vez tem um toque único, danças próprias e roupas especiais.No terreiro, o pai ou a mãe de santo conduzem as cerimônias aonde as suas filhas de santo cantam e dançam ao som dos atabaques. A construção do barracão geralmente é retangular, coberta de palmas. Acima da porta principal há um chifre de boi e uma cruz. Em seu interior encontra-se o altar, o espaço de destaque reservados aos tocadores, cadeiras para pessoas de destaque e bancos de madeira para os demais, sendo que em alguns terreiros homens e mulheres sentam-se separados. As festas no candomblé tem início com a matança (sacrifício de animais para os orixás) sendo que neste ritual apenas participam os fiéis do candomblé. Cantam-se sete pontos para cada orixá a fim de chamá-los. Uma Ialorixá traz na mão um adjá (espécie de sino) e o sacode para cada um que entra em transe mediúnico. Após todos os orixás terem incorporado são levados ao Roncó (quarto de santo) aonde são vestidos de acordo pelas ekedes ou pelos Ogãs, com trajes típicos do respectivo santo. Depois de prontos, a Ialoxirá inicia um cântico convidando-os a entrarem no barracão e dançarem. Todos os assistentes ficam de pé enquanto os santos fazem sua entrada triunfal. Assim, após esta entrada, cada santo abençoará as pessoas.
A palavra DAHOMÉ, tem dois significados: Um está relacionado com um certo Rei Ramilé que se transformava em serpente e morreu na terra de Dan. Daí ficou "Dan Imé" ou "Dahomé", ou seja, aquele que morreu na Terra da Serpente. Segundo as pesquisas, o trono desse rei era sustentado por serpentes de cobre cujas cabeças formavam os pés que iam até a terra. Esse seria um dos significados encontrados: Dan = "serpente sagrada" e Homé = "a terra de Dan", ou seja, Dahomé = "a terra da serpente sagrada". Acredita-se ainda que o culto à Dan é oriundo do antigo Egito. Ali começou o verdadeiro culto à serpente, onde os Faraós usavam seus anéis e coroas com figuras de cobra. Encontramos também Cleópatra com a figura da cobra confeccionada em platina, prata, ouro e muitos outros adornos femininos. Então, posso dizer que este culto veio descendo do Egito até Dahomé. DIALETOS FALADOS Os povos Jejes se enumeravam em muitas tribos e idiomas, como: Axantis, Gans, Agonis, Popós, Crus etc. Portanto, teríamos dezenas de idiomas para uma tribo só, ou seja, todas eram Jeje, o que foge evidentemente às leis da lingüística
Muitos Voduns Jeje são originários de Ajudá. Porém, os cultos desses Voduns só cresceram no antigo Dahomé. Muitos desses Voduns não se fundiram com os orixás nagôs e desapareceram totalmente. O culto da serpente Dãng-bi é um exemplo, pois ele nasceu em Ajudá, foi para o Dahomé, atravessou o Atlântico e foi até as Antilhas. Quanto a classificação dos Voduns Jeje, por exemplo, no Jeje Mahin tem- se a classificação do povo da terra, ou os Voduns Caviunos, que seriam os Voduns Azanssu, Nanã e Bessem. Temos, também, o Vodun chamado Ayzain (pronuncia-se Aizãn) que vem da nata da terra. Este é um Vodun que nasce em cima da terra. É o Vodun protetor da Azan, onde Azan quer dizer "esteira", em Jeje. Achamos em outro dialeto Jeje, o dialeto Gans-Crus, também o termo Zenin ou Azeni ou Zani e ainda o Zoklé. Ainda sobre os Voduns da terra encontramos Loko. Ele apesar de estar ligado também aos astros e a família de Heviosso, também está na família Caviuno, porque Loko é árvore sagrada; é a gameleira branca, que é uma árvore muito importante na nação Jeje. Seus filhos são chamados de Lokossis. Agué, Azaká é também um vodun Caviuno. A família Heviosso é encabeçada por Badë, Acorumbé, também filho de Sogbô, chamado de Runhó. Mawu-Lissá seria o orixá Oxalá dos yorubás. Sogbô também tem particularidade com o Orixá em Yorubá, Xangô, e ainda com o filho mais velho do Deus do trovão que seria Averekete, que é filho de Ague e irmão de Anaite. Anaite seria uma outra família que viria da família de Aziri, pois são as Aziris ou Tobossys que viriam a ser as Yabás dos Yorubás, achamos assim Aziri Tobossy. Estou falando do Jeje de um modo geral, não especificamente do Mahín, mas das famílias que englobam o Mahín e também outras famílias Jeje. Como foi relatado, Jeje era um apelido dado pelos yorubás. Na verdade, esta família, ou seja, os que pertencemos a esta nação deveriam ser classificados de povo Ewe, que seria o mais certo. Ewe-Fon seria a nossa verdadeira denominação. Nós seríamos povos Ewe ou povos Fons. Então, se fôssemos pensar em alguma possibilidade de mudança, nós iríamos nos chamar, ao invés de nação Jeje, de nação Ewe-Fon. Somente assim estaríamos fazendo jus ao que é encontrado em solo africano. Jeje é então um apelido, mas assim ficamos para todas as nossas gerações classificados como povo Jeje, em respeito aos nossos antepassados. Continuando com algumas nomenclaturas da palavra Ewe-Fon, por exemplo, a casa de candomblé da nação Jeje chama-se Kwe = "casa". A casa matricial em Cachoeira de São Félix chama-se Kwe Ceja Undê. Toda casa Jeje tem que ser situada afastada das ruas, dentro de florestas, onde exista espaço com árvores sagradas e rios. Depende das matas, das cachoeiras e depende de animais, porque o Jeje também tem a ver com os animais. Existem até cultos com os animais tais como, o leopardo, crocodilo, pantera, gavião e elefante que são identificados com os Voduns. Então, este espaço sagrado, este grande sítio, esta grande fazenda onde fica o Kwe chama-se Runpayme, que quer dizer
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer "Senhor que zela pelo altar sagrado", porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje. No Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc. Podemos ver que a nação Jeje é muito particular em suas propriedades. É uma nação que vive de forma independente em seus cultos e tradições de raízes profundas em solo africano e trazida de forma fiel pelos negros ao Brasil. JEJE MINA Em 1796, foi fundado no Maranhão o culto Mina Jeje pelos negros fons vindos de Abomey, a então capital de Dahomé, como relatei anteriormente, atual República Popular de Benin. A família real Fon trouxe consigo o culto de suas divindades ancestrais, chamados Voduns e,principalmente, o culto à Dan ou o culto da Serpente Sagrada. Uma grande Noche ou Sacerdotisa, posteriormente, foi Mãe Andresa, última princesa de linhagem direta Fon que nasceu em 1850 e morreu em 1954, com 104 anos de vida. Aqui, alguns nomes dos Deuses Voduns: *Ayzan - Vodun da nata da terra *Sogbô - Vodun do trovão da família de Heviossô *Aguê - Vodun da folhagem *Loko - Vodun do tempo
*A primeira Casa Jeje no Rio de Janeiro foi, em 1848, de D.Rozena, cuja filha de santo foi D.Adelaide Santos *Ekede - termo Jeje *Doné - cargo feminino na casa Jeje, similar à Yalorixá *Doté - cargo ilustre do filho de Sogbô Os Vodunsis da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviuno, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné. Os cumprimentos ou pedidos de bençãos entre os iniciados da família de Dan seria "Megitó Benoí?" Resposta: "Benoí"; e aos iniciados da família Kaviuno, ou seja, Doté e Doné seria "Doté Ao?" Resposta: "Aótin". O termo usado "Kolofé", cuja resposta é "Kolofé, Olorun Kolofé" vem da fusão das Nações de Jeje e de Ketu.
Pelo sul do domínio kongoles, entre o curso do Dande (rio), e as águas do Longa (rio), e a partir da costa até o rio Kuango, estendiam-se os Ambundu. Incluem os povos que formaram o antigo reino de Angola, concentrando-se nas terras da Matamba onde tomaram o nome de Ambundu, que quer dizer vencedor. Angola foi descoberta em 1486, pelo navegador português Diogo Cão, e está situada na costa ocidental da África. O conquistador de Ndongo, nome do primeiro reino, chamava-se Ngola Nzinga ia Nku. Um chefe vassalo do Kongo e descendente em terceira geração do Mani Kongo (rei), Nimi ia Lukeni. O qual conquistou a região, erigiu em reino dando-lhe o seu nome ou título, que é documentado em português já no início do séc. XVI. Destas invasões ambundu do vale Kambo, alcançando Matamba, o chefe Jaga Ngola Nzinga ia Nku, conquistou terras de Ndongo, que vieram a constituir o Reino de Angola, onde mais tarde, a rainha Tumba ia Ngola, casou-se com o grande guerreiro e autoridade divina Ngola Kiluanji Kiá Samba, cujo nome é dado ao País até hoje. O grupo Ambundu hoje denominado Kimbundu, é em realidade, um grupo lingüístico constituído por Dembo, Ngola Mahungo, Njinga, Holo, Bondo, Bangala, Songo, kisama, Libolo, Muako, Musende, Xinji, Kavungo e Minungu, sendo estas duas ultimas tribos, originárias do velho grupo Luanda-Kioko. A língua Kikongo, prolonga-se até o noroeste da Luanda junto a Kuango, na tribo Musuku, parente dos Kongoleses no sangue e na cultura, existindo uma afinidade muito forte com o Kimbundu. (A Matamba era chamada de Kitamba, que quer dizer braseiro. Como os que cultuavam a divindade guerreira, Kitamba, viviam em uma terra de muitas guerras, passaram a chama-la de Matamba, ou seja este nome foi originado de Kitamba)
Candomblés das nações Jeje e Ketu presenciados para a pesquisa: Jeje – Visita ao Kwe Ceja Undelemin – Madureira - RJ – Cerimônia de Saída de Yawo do Vodun Aziri Tobossy. Ketu – Visita ao Ilê Axé Tòná – Carobinha, Campo Grande – RJ – Cerimônia de saída de Yawo do Orixá Oxaguian. Entrevista com a Yalorixá Juliana de Azawane, em seu Kwe Ceja Undèláyè, no bairro de Jardim Guanabara, Ilha do Governador – RJ.
O sacerdócio e organização dos ritos para o culto dos Orixás são complexos, com todo um aprendizado que administra os padrões culturais de transe, pelo qual os deuses se manifestam no corpo de seus iniciados durante as cerimônias para serem admirados, louvados, cultuados. Os iniciados, filhos e filhas-de-santo (yawo, em linguagem ritual), também são popularmente denominados "cavalos dos deuses" uma vez que o transe consiste basicamente em mecanismo pelo qual cada filho ou filha se deixa cavalgar pela divindade, que se apropria do corpo e da mente do iniciado, num modelo de transe inconsciente bem diferente daquele do kardecismo, em que o médium, mesmo em transe, deve sempre permanecer atento à presença do espírito. O processo de se transformar num "cavalo" é uma estrada longa, difícil e cara, cujos estágios na "nação" Ketu podem ser assim sumariados: Para começar, a mãe-de-santo deve determinar, através do jogo de búzios, qual é o Orixá dono da cabeça daquele indivíduo (Braga, 1988). Ele ou ela recebe então um fio de contas sacralizado, cujas cores simbolizam o seu Orixá, dando-se início a um longo aprendizado que acompanhará o mesmo por toda a vida. A primeira cerimônia privada a que a noviça (abiãn) é submetida consiste num sacrifício votivo à sua própria cabeça (borí), para que a cabeça possa se fortalecer e estar preparada para algum dia receber o Orixá no transe de possessão. Para se iniciar como cavalo dos deuses, a abiãn precisa juntar dinheiro suficiente para cobrir os gastos com as oferendas (animais e ampla variedade de alimentos e objetos), roupas cerimoniais, utensílios e adornos rituais e demais despesas suas, da família-de-santo, e eventualmente de sua própria família durante o período de reclusão iniciática em que não estará, evidentemente, disponível para o trabalho no mundo profano. Como parte da iniciação, a noviça permanece em reclusão no terreiro por um número em torno de 21 dias. Na fase final da reclusão, uma representação material do Orixá do iniciado (assentamento ou igbá-Orixá) é lavada com um preparado de folhas sagradas trituradas (abô). A cabeça da noviça é raspada e pintada, assim preparada para receber o Orixá no curso do sacrifício então oferecido (orô). Dependendo do Orixá, alguns dos animais seguintes podem ser oferecidos: cabritos, ovelhas, pombas, galinhas, galos, caramujos. O sangue é derramado sobre a cabeça da noviça, no assentamento do Orixá e no chão do terreiro, criando este sacrifício um laço sagrado entre a noviça, o seu Orixá e a comunidade de culto, da qual a mãe-de-santo é a cabeça. Durante a etapa das cerimônias iniciáticas em que a noviça é apresentada pela primeira vez à comunidade, seu Orixá grita seu nome, fazendo-se assim reconhecer por todos, completando-se a iniciação como Yawo (iniciada jovem que "recebe" Orixá). O Orixá está pronto para ser festejado e para isso é vestido e paramentado, e levado para junto dos atabaques, para dançar, dançar e dançar. No candomblé sempre estão presentes o ritmo dos tambores, os cantos, a dança e a comida (Motta, 1991). Uma festa de louvor aos Orixá (toque) sempre se encerra com um grande banquete comunitário (ajeum, que significa "vamos
As celebrações de barracão, os toques, consistem numa seqüência de danças, em que, um por um, são honrados todos os Orixás, cada um se manifestando no corpo de seus filhos e filhas, sendo vestidos com roupas de cores específicas, usando nas mãos ferramentas e objetos particulares a cada um deles, expressando-se em gestos e passos que reproduzem simbolicamente cenas de suas biografias míticas. Essa seqüência de música e dança, sempre ao som dos tambores (chamados rum, rumpí e lê) é designada xirê, que em yorubá significa "vamos dançar". O lado público do candomblé é sempre festivo, bonito, esplendoroso, esteticamente exagerado para os padrões europeus e extrovertido. Para o grande público, desatento para o difícil lado da iniciação, o candomblé é visto como um grande palco em que se reproduzem tradições afro- brasileiras igualmente presentes, em menor grau, em outras esferas da cultura, como a música e a escola de samba. Para o não iniciado, dificilmente se concebe que a cerimônia de celebração no candomblé seja algo mais que um eterno dançar dos deuses africanos.
O candomblé atende a uma grande demanda por serviços mágico- religiosos de uma larga clientela que não necessariamente toma parte em qualquer aspecto das atividades do culto. Os clientes procuram a mãe ou pai-de- santo para o jogo de búzios, o oráculo do candomblé, através do qual problemas são desvendados e oferendas são prescritas para sua solução. O cliente paga pelo jogo de búzios e pelo sacrifício propiciatório (ebó) eventualmente recomendado. O cliente em geral fica sabendo qual é o Orixá dono de sua cabeça e pode mesmo comparecer às festas em que se faz a celebração de seu Orixá, podendo colaborar com algum dinheiro no preparo das festividades, embora não sele nenhum compromisso com a religião. O cliente sabe quase nada sobre o processo iniciático e nunca toma parte nele. Entretanto, ele tem uma dupla importância: Antes de mais nada, sua demanda por serviços ajuda a legitimar o terreiro e o grupo religioso em termos sociais. Segundo, é da clientela que provém, na maioria dos terreiros, uma substancial parte dos fundos necessários para as despesas com as atividades sacrificiais. Comumente, sacerdotes e sacerdotisas do candomblé que adquirem alto grau de prestígio na sociedade inclusiva gostam de nomear, entre seus clientes, figuras importantes dos mais diversos segmentos da sociedade. Devotos das religiões afro-brasileiras podem cultuar também outras entidades que não os Orixás africanos, como os caboclos (espíritos de índios brasileiros) e encantados (humanos que teriam vivido em outras épocas e outros países). Durante o transe ritual, os caboclos conversam com seus seguidores e amigos, oferecendo conselhos e fórmulas mágicas para o tratamento de todos os tipos de problemas. A organização dos panteões de divindades africanas nos terreiros varia de acordo com cada nação de candomblé (Santos, 1992; M. Ferretti, 1993). Caboclos e pretos-velhos (espíritos de escravos) são centrais na umbanda, em que estas entidades têm papel mais importante no cotidiano da religião do que os próprios Òrìñà.
Vejamos abreviadamente algumas das características de personalidade mais usualmente atribuídas aos Orixás por seus seguidores:
trapaceiro. Em qualquer cerimônia é sempre o primeiro a ser homenageado, para se evitar que se enraiveça e atrapalhe o ritual. Guardião das encruzilhadas e das portas da rua. Sincretizado com o Diabo católico. Seus símbolos são um porrete fálico e tridentes de ferro. Os seguidores acreditam que as pessoas consagradas a Exú são inteligentes, sexy, rápidas, carnais, licenciosas, quentes, eróticas e sujas. Filhos de Exú gostam de comer e beber em demasia. Não se deve confiar nunca num filho ou numa filha de Exú. Eles são os melhores, mas eles decidem quando o querem ser. Não são dados ao casamento, gostam de andar sozinhos pelas ruas, bebendo e observando os outros para apanhá-los desprevenidos. Deve-se pagar a Exú com dinheiro, comida, atenção sempre que se precise de um favor dele. Como o pai, filhos de Exu nunca fazem nada sem paga. A saudação a Exu é Cobalarô Exu, Laroyê Amojubá!
ESÙ fi ire bò wá o. ÈLA fi ire bò wà yà yà. ESÙ gbè ire ajè kò wá o. ÈLA fi ire bò wà yà yà. IYA-MÒGÚN fi ire bò wà o. ÈLA fi ire bò wá yà yà. ESU, faça nossas vidas plenas de coisas boas. ÈLA, ponha muita sorte em nossas vidas. ESU, ponha sorte e progresso em nossas vidas. ÈLA, ponha muita sorte em nossas vidas. IYA MOGUN, faça nossas vidas plenas de coisas boas. ÈLA, ponha muita sorte em nossas vidas.
Èsù òta òrìsà. Osétùrá ni oruko bàbá mò ó. Alágogo Ìjà ni orúko ìyá npè é, Èsù Òdàrà, omokùnrin Ìdólófin, O lé sónsó sí orí esè elésè Kò je, kò jé kí eni nje gbé mì, A kìì lówó láì mú ti Èsù kúrò, A kìì lóyò láì mú ti Èsù kúrò, Asòntún se òsì láì ní ítijú, Èsù àpáta sómo olómo lénu, O fi okúta dípò iyò. Lóògemo òrun, a nla kálù, Pàápa-wàrá, a túká máse sà, Èsù máse mí, omo elòmíràn ni o se. Tradução Exú, o inimigo dos orixás. Osétùrá é o nome pelo qual você é chamado por seu pai. Alágogo Ìjà é o nome pelo qual você é chamado por sua mãe. Exú Òdàrà, o homem forte de ìdólófin, Exú, que senta no pé dos outros. Que não come e não permite a quem está comendo que engula o alimento. Quem tem dinheiro, reserva para Exú a sua parte, Quem tem felicidade, reserva para Exú a sua parte. Exú, que joga nos dois times sem constrangimento. Exú, que faz uma pessoa falar coisas que não deseja. Exú, que usa pedra em vez de sal. Exú, o indulgente filho de Deus, cuja grandeza se manifesta em toda parte. Exú, apressado, inesperado, que quebra em fragmentos que não se poderá juntar novamente, Exú, não me manipule, manipule outra pessoa.