





Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
Exercício e Hipertensão
Tipologia: Exercícios
1 / 9
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Laboratório de Hemodinâmica da Atividade Motora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (LAHAM-EEFEUSP)
Palavras-chave: exercício aeróbio, exercício resistido, pressão arterial, hipertensão, resposta hiperreativa. Key words: aerobic exercise, resistance exercise, blood pressure, hypertension, hypertensive response.
*Endereço para correspondência: Av. Prof. Mello Moraes, 65 – Butantã 05508-900 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3091- Fax: (11) 3813- E-mail: cforjaz@usp.br Financiado pela FAPESP, CNPq e CAPES Recebido em 29/11/2005. Aceito em 21/03/.
Resumo
O exercício físico tem sido recomendado para a preven- ção e tratamento não medicamentoso da hipertensão arterial. Entretanto, é importante diferenciar as respostas dos exercíci- os aeróbios e resistidos e ponderar seus riscos e benefícios. Os exercícios resistidos não apresentam, cronicamente, efeito hi- potensor em hipertensos e, durante sua execução, observa-se um pico de pressão arterial muito acentuado, que não pode ser controlado, pois a medida indireta da pressão arterial nes- ta situação não é válida. Por outro lado, os exercícios aeróbi- os reduzem a pressão arterial de repouso, 24 horas e exercício de hipertensos, e durante sua execução, apenas a pressão ar- terial sistólica aumenta. Esse aumento pode ser controlado pelo ajuste da intensidade e pela medida auscultatória durante sua execução. É interessante observar ainda que a resposta exa- cerbada da pressão arterial durante o exercício aeróbio pro- gressivo é utilizada para avaliar o risco futuro de normotensos se tornarem hipertensos e de hipertensos terem complicações clínicas. Essa medida também permite identificar indivíduos cuja pressão arterial precisa ser monitorada durante o treina- mento físico. Concluindo, o treinamento aeróbio é o recomen- dado para hipertensos devido a seus benefícios comprovados e baixo risco. Ele pode ser complementado pelo treinamento re- sistido que trás benefícios músculoesqueléticos, mas deve ser executado com cuidado.
Abstract
Physical exercise is recommended as part of the non- pharmacological treatment of hypertension. Nevertheless, it is important to differentiate between aerobic and resistance exercises’ effects, and to balance exercise benefits and risks. Resistance exercise does not have chronic hypotensive effects in hypertensives, and during its execution, there is an expressive increase in blood pressure that cannot be controlled, because indirectly blood pressure measurement techniques are not valid in this situation. On the other hand, aerobic exercise reduces resting, 24-hour and exercise blood pressures in hypertensive subjects, and during its execution, only systolic blood pressure increases expressively. This increase can be controlled by exercise intensity adjustment, and the auscultatory measurement of blood pressure. It is also interesting to observe that exacerbated blood pressure increase during progressive aerobic exercise is useful to identify normotensives with probability of becoming hypertensives, and
hypertensives with greater morbidity. Moreover, this blood pressure response to exercise helps to identify subjects, whose blood pressure levels should be monitored during exercise training. In conclusion, aerobic exercise is the type of training recommended to hypertensives because of its proved benefits and low risks. It might be complemented by resistance training, which results in muscle benefits, but should be performed with caution.
Introdução
A inatividade física está relacionada ao maior risco de desenvolvimento de hipertensão arterial. De fato, até mesmo o engajamento em atividades físicas não programadas pode promover ganho substancial no controle da pressão arterial. No entanto, vale ressaltar, que essa relação fica mais bem evi- denciada com atividades de lazer e mais vigorosas 1. Além dis- so, a prática de atividades físicas tem efeitos hipotensores bas- tante conhecidos e comprovados em indivíduos hipertensos, auxiliando no controle da pressão arterial destes pacientes^2. Por esses motivos, o exercício físico regular tem sido reco- mendado como parte integrante e importante na prevenção e reabilitação da hipertensão arterial, conforme explícito nas V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial 3. Entretanto, quando o assunto versa sobre o exercício físi- co, torna-se importante separar os efeitos dos exercícios aeró- bios dos resistidos. Os primeiros dizem respeito a exercícios realizados de forma cíclica, envolvendo grandes grupos mus- culares, com intensidade leve a moderada e longa duração, sendo exemplos típicos: andar, correr, nadar, dançar, etc. Por outro lado, os exercícios resistidos, também conhecidos como exercícios de força ou musculação, caracterizam-se pela con- tração de um determinado seguimento corporal contra uma resistência que se opõe ao movimento 4. Esses exercícios po- dem ser realizados em intensidades leves, moderadas ou in- tensas. As características mecânicas diferenciadas dos exercí- cios aeróbios e resistidos fazem com que eles desencadeiem efeitos cardiovasculares distintos e, principalmente, produzam alterações diferentes na pressão arterial. Dessa forma, ao se discutir os efeitos do exercício em hipertensos é importante diferenciar os efeitos destes dois ti- pos de exercício, ponderando seus possíveis benefícios e ris- cos. Os benefícios dizem respeito à capacidade da prática re- gular do exercício em reduzir a pressão arterial dos pacientes (efeito crônico do exercício). Por outro lado, os riscos se rela- cionam ao pico de pressão arterial atingido durante a execu- ção do exercício, que pode levar à ruptura de aneurismas cere- brais pré-existentes 5. Neste sentido, é importante ressaltar que a presença de aneurismas cerebrais é mais comum em hiper- tensos que em normotensos 6. Uma forma de controlar o risco envolvido no exercício é medir a pressão arterial durante sua execução, porém a aplicabilidade e validade desta medida tam- bém diferem entre os exercícios aeróbios e resistidos. Cabe ainda lembrar que a medida da pressão arterial durante o exer- cício também tem sua utilidade na triagem de risco de indiví- duos normo e hipertensos.
Baseado nas considerações anteriores, este artigo versa- rá sobre os benefícios e riscos dos exercícios resistidos e aeró- bios nos pacientes hipertensos, discutindo a aplicabilidade e validade da medida da pressão arterial durante o exercício.
Efeito crônico do treinamento físico resistido na pressão arterial
Classicamente, o treinamento físico aeróbio é o que pro- move importante resposta hipotensora em pacientes hiperten- sos. Entretanto, nos últimos 10 anos, o interesse científico sobre os efeitos do treinamento resistido sobre o sistema cardiovas- cular tem crescido sobremaneira. Contudo, os dados científi- cos existentes ainda são escassos e controversos. Uma metanálise recente, realizada por Cornelissen e Fagard 7 , concluiu que o treinamento resistido reduz a pressão arterial sistólica e diastólica de repouso em 3,2 e 3,5 mmHg, respectivamente (Tabela 1). No entanto, essa metanálise in- cluiu apenas nove estudos, que englobaram diferentes popula- ções (normotensos e hipertensos, com ou sem a terapia medi- camentosa) e também diferentes protocolos de treinamento (intensidades variando de 30 a 90% de uma repetição máxima
Efeito agudo dos exercícios resistidos na pressão arterial
Apesar do efeito hipotensor crônico do treinamento re- sistido não estar demonstrado na população hipertensa, esse exercício é recomendado nesta população, em complemento ao exercício aeróbio, em função de seus importantes benefíci- os músculoesqueléticos 14 , que são primordiais para a manu- tenção da saúde, sobretudo em mulheres e nos idosos 2. Dessa forma, torna-se importante discutir a segurança deste tipo de exercício físico para indivíduos hipertensos. As respostas cardiovasculares aos exercícios resistidos foram pouco estudadas. No entanto, os estudos existentes re- latam aumentos expressivos das pressões arteriais sistólica, e diastólica durante a sua execução 15 , e os valores máximos
variam muito como se observa na Tabela 3. Vários fatores po- dem explicar essa grande variação de resultados, sendo os prin- cipais: a intensidade do exercício; o número de repetições, atin- gir ou não a fadiga concêntrica e, principalmente, a técnica da medida de pressão arterial. Em relação à intensidade, alguns autores 16 têm demons- trado que, para o mesmo número de repetições, quanto maior for a intensidade, maior é o aumento da pressão arterial. Da mesma forma, ao longo de uma série de exercícios, mesmo que a intensidade seja mantida, à medida que as repetições vão sendo realizadas, a pressão arterial vai se elevando, e os maiores picos de pressão arterial são atingidos próximo à fadiga concêntrica 17,18^. Assim, se exercícios de diferentes intensidades forem realizados até a fadiga concêntrica, va- lores máximos semelhantes de pressão arterial serão atingi- dos^18. Em relação à forma da medida da pressão arterial, Wiecek et al. 17 demonstraram que a medida indireta auscultatória da pressão arterial, realizada imediatamente após a finalização do exercício resistido, subestima em mais de 30% os valores reais obtidos durante o exercício e, mesmo quando a medida é
realizada durante a execução do exercício em um membro passivo, os valores são subestimados em mais de 15%. Esses são resultados bastante relevantes do ponto de vis- ta clínico, visto que alguns podem pensar que para controlar o aumento da pressão arterial durante o exercício resistido, bas- ta medir essa pressão e interromper o exercício caso ela au- mente muito. Porém, os resultados anteriores demonstram que isso não pode ser feito, pois não existem métodos não invasi- vos de medida da pressão arterial validados para esse exercí- cio. Diante do exposto, os exercícios resistidos podem repre- sentar uma situação de risco para hipertensos, devido ao fato de promoverem grandes aumentos da pressão arterial. Esse risco pode ser minimizado com a realização de exercícios de baixa intensidade e interrompendo-se o exercício antes da fadiga concêntrica, ou seja, quando a velocidade do movimento começa a diminuir e nota-se, no executante, a tendência à realização da manobra de Valsalva. Porém, esse risco não pode ser evitado ou controlado, pois não é possível medir, com técnicas não-invasivas, a pressão arterial durante o exercício.
TABELA 3
Autor Casuística Exercício Medida da Pressão Resposta Máxima Arterial (mmHg) Harris & Holly, 1987 Hipertensos 40% de 1RM Auscultatória PAS: 155 ± 12 Wescott&Howes, 1983 Jovens Idosos 10RM, 10RM–2 kg, Auscultatória PAS: 165 ± 5 10RM–4,5kg Lamotte et al., 2005 Cardiopatas 40 e 70% de 1RM Plestimográfica PAS: 213 ± 25 Fleck & Dean, 1987 Atletas Novatos 50, 70, 80 e Intra-arterial PAS: 190 Controles 90% de 1RM Haslam et al., 1988 Cardiopatas 20, 40, 60 e Intra-arterial PAS: 215 ± 7 80% de 1RM MacDougall et al., 1985 Atletas 80, 90, 95 e Intra-arterial PAS: 320 100% de 1RM MacDougall et al., 1992 Jovens Saudáveis 50, 70 e Intra-arterial PAS: 263 ± 8 Atletas 87,5% de 1RM McCartney et al., 1993 Saudáveis 60 e 80% de 1RM Intra-arterial PAS: 260 ± 9 Nery, 2005 Saudáveis 40, 80 e Intra-arterial PAS: 231 ± 16 Hipertensos 100% de 1RM Oliver et al., 2001 Cardiopatas 50% de 1RM Intra-arterial PAS: 180 ± 14 Palatini et al., 1989 Hipertensos 90% de 1RM Intra-arterial PAS: 345 Normotensos Sale et al., 1994 Saudáveis 50, 70, 80, 85 e Intra-arterial PAS: 360 87,5% de 1RM Wiecek et al., 1990 Cardiopatas 40 e 60% de 1RM Intra-arterial PAS: 249 ± 16 Lentini et al., 1993 Atletas 95% de 1RM Intra-arterial PAS: 270 ± 21
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Efeito crônico do treinamento aeróbio na pressão arterial
Em relação aos exercícios aeróbios, eles são os classica- mente recomendados quando o objetivo é obter benefícios car- diovasculares e, em especial, redução da pressão arterial. Vári- os estudos observaram diminuição da pressão arterial após o treinamento aeróbio em pacientes hipertensos. A metanálise mais recente sobre esse assunto 19 observou quedas médias de 3,0 e 2,4 mmHg para as pressões arteriais sistólica e diastólica, respectivamente, após o treinamento aeróbio. Cabe ressaltar que a redução foi maior nos hipertensos (-6,9 e –4,9 mmHg) que nos normotensos (-1,9 e -1,6 mmHg). De fato, num estudo anterior de nosso laboratório 20 verificamos que quatro meses
de treinamento aeróbio realizado em cicloergômetro, três ve- zes na semana, com intensidade entre 50% e 70% do consumo pico de oxigênio (VO 2 pico), promoveu queda da pressão arte- rial clínica em indivíduos normotensos, hipertensos do avental branco e hipertensos sustentados (Figura 1, painéis A e B). Embora a redução da pressão arterial clínica pelo treina- mento físico aeróbio já esteja bem demonstrada, o efeito des- se treinamento sobre a pressão arterial de 24 horas, avaliada pela monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), ainda não está totalmente determinado. Alguns autores 21– verificaram redução da pressão arterial de 24 horas, enquanto outros 10,25–27^ não observaram nenhuma influência. Em nosso estudo 20 , não observamos modificação da pressão de 24 horas (Figura 1, painéis C e D), porém o tempo de duração do trei- namento pode ter sido um fator importante, visto que Seals & Reiling^23 não observaram queda da pressão arterial de 24 horas após seis meses de treinamento físico, mas verificaram queda após um ano. Assim, é possível que seja necessário um período maior de treinamento físico para que se ob- serve efeito hipotensor na pressão arterial de 24 horas. É importante ressaltar tam- bém que o treinamento aeróbio re- duz ainda a pressão arterial duran- te o próprio exercício. Assim, a pressão arterial medida durante um exercício de mesma intensi- dade absoluta é menor após um período de treinamento aeróbio^28 (Figura 2). Além disso, nos hiper- tensos, a pressão arterial medida na mesma intensidade relativa de es- forço também é menor após o trei- namento. Outro aspecto relevante diz respeito ao uso de tratamento anti- hipertensivo. Neste sentido, Cade et al. 29 demonstraram que o trei- namento físico pode resultar na diminuição ou mesmo na suspen- são dos medicamentos. Apesar dos resultados na li- teratura convergirem no sentido de que o treinamento físico reduz a pressão arterial, cabe ressaltar que aproximadamente 25% dos paci- entes não apresentam essa respos- ta com o treinamento aeróbio. Al- guns autores 30 sugerem que a res- posta diferenciada é influenciada por características genéticas e, po- limorfismos ligados ao sistema re- nina-angiotensina parecem exercer um papel importante.
FIGURA 1
Efeito de quatro meses de treinamento físico aeróbio sobre a pressão arterial sistólica (painéis A e C) e diastólica (painéis B e D) clínicas (painéis A e B) e de 24 horas (painéis C e D) de indivíduos hipertensos sustentados (HT), hipertensos do avental branco (AB) e normotensos (NT) treinados (barras escuras) e sedentários (barras claras).
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
De fato, com esse método, a medida da pressão arterial sistó- lica é considerada válida. Porém, os valores diastólicos apre- sentam grande variabilidade, sendo aceitos do ponto de vista clínico, mas não científico. Diversos fatores inerentes ao exercício aeróbio podem influenciar nas respostas da pressão arterial durante sua exe- cução, tais como: a intensidade e a duração do exercício. Des- sa forma, quanto maior for a intensidade, maior será a neces- sidade de aporte sanguíneo para a musculatura exercitada e, portanto, maior o aumento do débito cardíaco e, conseqüente- mente, da pressão arterial sistólica37,38^ (Figura 2). Esse aumento na intensidade do exercício também é acompanhado por um aumento da vasodilatação periférica, de maneira que a pres- são arterial diastólica não se modifica ou diminui ainda mais 37 (Figura 2). Por outro lado, a duração do exercício não altera as respostas das pressões arteriais nem sistólica e nem diastólica durante o exercício, ou seja, elas se mantêm ao longo de toda a execução 39 (Figura 3). Em vista do exposto, é possível concluir que o exercício aeróbio também promove aumento da pressão arterial durante sua execução. Porém, esse aumento ocorre exclusivamente na pressão arterial sistólica e pode ser controlado pelo ajuste da intensidade de exercício e pela medida da pressão arterial du- rante o exercício com a técnica auscultatória.
Resposta excessiva da pressão arterial ao exercício
A medida da pressão arterial durante o exercício aeróbio possui outras aplicações clínicas relevantes além de avaliar a segurança do exercício para o hipertenso. Neste sentido, des- taca-se a resposta hiperreativa ao exercício. Como a hipertensão arterial é um importante fator de ris- co para a morbidade e mortalidade cardiovasculares 40 , é de extrema importância se identificar as pessoas com maior pro- babilidade de desenvolver hipertensão 3. Nesse sentido, acre- dita-se que o quadro clínico da hipertensão seja precedido por um estado pré-hipertensivo, caracterizado por anormalidades da reatividade cardiovascular a estímulos ambientais e com- portamentais, como o exercício aeróbio 41. Assim, a avaliação da resposta da pressão arterial duran- te um exercício dinâmico progressivo (teste de esforço) pare- ce ter um importante papel no prognóstico das pessoas. Um número crescente de trabalhos demonstra que o aumento exa- cerbado da pressão arterial no exercício está relacionado a um risco elevado de desenvolver hipertensão arterial no futuro 42. Singh et al. 43 , estudando a população de Framingham, avalia- ram mais de 2000 indivíduos com seguimento de 8 anos e demonstraram uma correlação positiva entre o aumento da pressão arterial diastólica no exercício aeróbio e a incidência futura de hipertensão. De modo geral, acredita-se que indiví- duos com resposta hiperreativa ao esforço apresentam proba- bilidade futura de desenvolver hipertensão 4 a 5 vezes maior que aqueles com curva normal de pressão arterial 44,^. De fato, a elevação acentuada da pressão arterial ao es- forço se associa a uma série de outros marcadores de risco
para hipertensão, como história familiar de hipertensão, me- nor capacidade vasodilatadora muscular 46 , disfunção endote- lial 47 , maiores níveis de pressão arterial na MAPA, maior ati- vação simpática, anormalidades ecocardiográficas^48 , maior incidência de doença aterosclerótica da carótida 49 e alterações características da síndrome metabólica^50. Nos pacientes hipertensos, o aumento exacerbado da pres- são arterial durante o esforço está relacionado a pior evolução clínica, com evidências de lesão em órgãos alvo 51,52^ e maior incidência de complicações cardiovasculares, incluindo mai- or mortalidade 51,53^. Assim, também nos hipertensos, a presen- ça de resposta hipertensiva ao esforço identifica um grupo de pacientes no qual o controle dos níveis de pressão arterial pre- cisa ser mais bem ajustado, evitando as complicações que po- dem surgir se as medidas adequadas não forem adotadas. Diante das evidências descritas anteriormente, a Socie- dade Brasileira de Cardiologia 44,45^ recomenda a realização de teste de esforço para a identificação precoce de hipertensos em populações com fatores de risco, bem como para a triagem de risco em hipertensos. Os testes devem ser limitados por sintomas, com protocolos convencionais, sendo recomendada a interrupção do teste se a pressão arterial sistólica ultrapas- sar 260 mmHg ou a diastólica subir além dos 120 mmHg em normotensos ou 140 mmHg em hipertensos. A resposta hiper- reativa é considerada presente quando os valores da pressão sistólica ultrapassam 220 mmHg e/ou os valores da pressão arterial diastólica aumentam 15 mmHg ou mais. É interessan- te observar que a elevação paradoxal da pressão arterial no período pós-esforço, embora esteja classicamente relaciona- da à doença isquêmica coronariana, também se mostra como um fator preditor de hipertensão arterial 54. Dessa forma, a medida da resposta da pressão arterial durante o esforço tem uma importância clínica em normoten- sos, principalmente em termos prognósticos. Em hipertensos, essa medida adquire outras funções, evidenciando possíveis complicações clínicas, auxiliando no controle da resposta à terapêutica instituída e avaliando a necessidade de monitora- ção da pressão durante o treinamento.
Conclusões
Diante das considerações apresentadas, torna-se claro que o exercício físico é capaz de prevenir e auxiliar no tratamento da hipertensão arterial. Os exercícios aeróbios apresentam, cro- nicamente, comprovado efeito hipotensor e têm riscos de picos de pressão arterial durante sua execução, que podem ser facil- mente controlados, limitando-se a intensidade do exercício e medindo-se a pressão arterial com a técnica auscultatória durante a execução. Por outro lado, o treinamento resistido não apresenta efeito hipotensor comprovado, embora contribua de forma ex- pressiva para o aprimoramento osteomuscular. Além disso, esse tipo de exercício apresenta um risco importante durante sua execução em hipertensos, visto que ele eleva sobremaneira os níveis da pressão arterial, o que pode ser minimizado pela execução de exercícios de baixa intensidade que não se pro- longuem até a fadiga concêntrica, mas não pode ser controla-
do, pois a medida da pressão arterial durante sua execução não é válida. Além das observações acima, a medida da pres- são arterial durante o exercício aeróbio progressivo permite a identificação de normotensos hiperreativos, que possuem maiores chances de se tornarem hipertensos no futuro e hiper- tensos com resposta hiperreativa, que têm maiores chances de apresentar complicações associadas à hipertensão. Nesses in- divíduos a necessidade de controle da pressão arterial durante as sessões de treinamento é maior e espera-se que a resposta hiperreativa seja minimizada com o treinamento aeróbio.
Dessa forma, para indivíduos hipertensos, o treinamento aeróbio é o de escolha para ajudar a controlar a pressão arteri- al, devido a seus benefícios e pequenos riscos. Porém, consi- derando-se a necessidade de melhora global do organismo, este treinamento deve ser complementado pelo treinamento resistido, que deve ser executado com precauções para que a pressão arterial não se eleve muito durante o exercício. Esses cuidados são especialmente importantes nos hipertensos com resposta hiperreativa ao exercício, nos quais os riscos são au- mentados.