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Diga não a desnutrição Kids, Manuais, Projetos, Pesquisas de Nutrição

Artigo cientifico também disponível na Scielo e de domínio publico

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 16/04/2020

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Diga não à desnutrição Kids
BRASPEN J 2019; 34 (1): 3-23
3
Unitermos:
Transtornos da nutrição infantil. Hospitalização.
Fatores de risco. Necessidades nutricionais.
Keywords:
Child nutrition disorders. Hospitalization. Risk factors.
Nutritional requirements.
Endereço para correspondência:
Daniela França Gomes
Rua Abílio Soares, 233 – cj 144 – Paraíso –
São Paulo, SP, Brasil – CEP: 04005-000
Email: danielafgomes2@gmail.com
Submissão
08 de fevereiro de 2019
Aceito para publicação
13 de março de 2019
RESUMO
Atualmente, a desnutrição hospitalar tem sido discutida e amplamente documentada. Quando
discutimos desnutrição na infância, podemos observar que as taxas de desnutrição infantil no
Brasil foram reduzidas nas últimas décadas, entretanto, ainda são consideradas altas pela
Organização Mundial de Saúde. Estudos recentes encontraram taxas de desnutrição hospitalar
infantil variando de 7,5% a 45,6%. O lactente e a criança hospitalizados podem evoluir com
piora do estado nutricional agravado pela doença de base e chegar à desnutrição, interferindo
no prognóstico e aumentando tempo de internação hospitalar. A identificação e a intervenção
precoce na desnutrição, por meio de ferramentas recomendadas, possibilitam estabelecer
a conduta nutricional mais apropriada e melhora do desfecho nestes pacientes. O objetivo
desta campanha é abordar de forma ampla e prática a desnutrição na infância, sugerindo
ferramentas que auxiliem na prevenção e no tratamento da desnutrição energético proteica
com o objetivo de reduzir as taxas de desnutrição. Para facilitar a difusão do conhecimento,
foi desenvolvido método mnemônico com a palavra "DESNU TRIÇÃO", abordando cada letra
inicial de forma simples, desde o conceito até o tratamento da desnutrição. Esse método
garante uma integração interdisciplinar, além de discutir os principais aspectos do cuidado
geral do paciente desnutrido.
ABSTRACT
Currently, hospital malnutrition has been widely discussed and researched. When taking
into consideration child malnutrition, even though decreasing rates of undernutrition have
been observed in Brazil in the last few decades, it is still considered high by the World Health
Organization. Recent studies have found child hospital malnutrition rates to be from 7.5% to
45.6%. The hospitalized infants and children may develop with worsening nutritional status
aggravated by the underlying disease and reach malnutrition, interfering with the prognosis
and increasing hospitalization time. The early identification and intervention of malnutrition
by recommended tools enables better and more adequate nutritional conducts and impro-
vement of the outcome in these patients. The objective of this campaign is to address child
malnutrition in a practical and understandable way, hinting at tools that prevent and treat
protein-energy malnutrition in order to reduce malnutrition rates. A mnemonic method with
the word “DESNUTRIÇÃO” was developed to spread knowledge. Each initial letter will be
tackled in a simple way, explaining the concept all the way to the treatment of malnutrition.
This will guarantee an interdisciplinary integration, discussing the main aspects of general
care of malnourished patients.
1. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)/Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP, Brasil.
2. Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICR FMUSP), São Paulo, SP, Brasil.
3. Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
4. Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP, Brasil.
5. Hospital do Coração, São Paulo, SP, Brasil.
6. Sociedade Brasileira de Enteral e Parenteral, São Paulo, SP, Brasil.
7. Hospital Geral de Roraima, Boa Vista, RR, Brasil.
8. Hospital de Câncer de Barretos, Barretos, SP, Brasil.
9. Instituto de Oncologia Pediátrica - GRAACC, São Paulo, SP, Brasil.
10. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM, Brasil.
Campanha “Diga não à desnutrição Kids”:
11 passos importantes para combater a
desnutrição hospitalar
"Say No to Child Malnutrition" Campaign 11: important steps to fight hospital malnutrition
A
Artigo Especial
Daniela França Gomes1
Adriana Servilha Gandolfo2
Allan Chiaratti de Oliveira1
Ana Lucia Salgado Potenza3
Camila Lemiecheck Orellana Micelli4
Cláudia Bezzerra Almeida1
Claudia Satiko Matsuba5
Cristiane do Prado3
Cristiane Verotti6
Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira1
Juliana Fernandes Santana Meneses1
Liana Barbosa Macedo Almeida7
Mariana dos Santos Murra8
Marise Yago Rodrigues Sahade Moretti9
Mirna Maria Dourado Gomes da Silva3
Patricia Zamberlan2
Rubens Feferbaum2
Silvana Gomes Benzecry10
Silvia Maria Fraga Piovacari3
Túlio Konstantyner1
Vanessa Andrea Cruz Ramis Figueira3
Fabiola Isabel Suano de Souza1
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Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Unitermos: Transtornos da nutrição infantil. Hospitalização. Fatores de risco. Necessidades nutricionais. Keywords: Child nutrition disorders. Hospitalization. Risk factors. Nutritional requirements. Endereço para correspondência: Daniela França Gomes Rua Abílio Soares, 233 – cj 144 – Paraíso – São Paulo, SP, Brasil – CEP: 04005- Email: danielafgomes2@gmail.com Submissão 08 de fevereiro de 2019 Aceito para publicação 13 de março de 2019

RESUMO

Atualmente, a desnutrição hospitalar tem sido discutida e amplamente documentada. Quando discutimos desnutrição na infância, podemos observar que as taxas de desnutrição infantil no Brasil foram reduzidas nas últimas décadas, entretanto, ainda são consideradas altas pela Organização Mundial de Saúde. Estudos recentes encontraram taxas de desnutrição hospitalar infantil variando de 7,5% a 45,6%. O lactente e a criança hospitalizados podem evoluir com piora do estado nutricional agravado pela doença de base e chegar à desnutrição, interferindo no prognóstico e aumentando tempo de internação hospitalar. A identificação e a intervenção precoce na desnutrição, por meio de ferramentas recomendadas, possibilitam estabelecer a conduta nutricional mais apropriada e melhora do desfecho nestes pacientes. O objetivo desta campanha é abordar de forma ampla e prática a desnutrição na infância, sugerindo ferramentas que auxiliem na prevenção e no tratamento da desnutrição energético proteica com o objetivo de reduzir as taxas de desnutrição. Para facilitar a difusão do conhecimento, foi desenvolvido método mnemônico com a palavra "DESNUTRIÇÃO", abordando cada letra inicial de forma simples, desde o conceito até o tratamento da desnutrição. Esse método garante uma integração interdisciplinar, além de discutir os principais aspectos do cuidado geral do paciente desnutrido. ABSTRACT Currently, hospital malnutrition has been widely discussed and researched. When taking into consideration child malnutrition, even though decreasing rates of undernutrition have been observed in Brazil in the last few decades, it is still considered high by the World Health Organization. Recent studies have found child hospital malnutrition rates to be from 7.5% to 45.6%. The hospitalized infants and children may develop with worsening nutritional status aggravated by the underlying disease and reach malnutrition, interfering with the prognosis and increasing hospitalization time. The early identification and intervention of malnutrition by recommended tools enables better and more adequate nutritional conducts and impro- vement of the outcome in these patients. The objective of this campaign is to address child malnutrition in a practical and understandable way, hinting at tools that prevent and treat protein-energy malnutrition in order to reduce malnutrition rates. A mnemonic method with the word “DESNUTRIÇÃO” was developed to spread knowledge. Each initial letter will be tackled in a simple way, explaining the concept all the way to the treatment of malnutrition. This will guarantee an interdisciplinary integration, discussing the main aspects of general care of malnourished patients.

  1. Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)/Escola Paulista de Medicina, São Paulo, SP, Brasil.
  2. Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (ICR FMUSP), São Paulo, SP, Brasil.
  3. Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
  4. Faculdade de Medicina do ABC, Santo André, SP, Brasil.
  5. Hospital do Coração, São Paulo, SP, Brasil.
  6. Sociedade Brasileira de Enteral e Parenteral, São Paulo, SP, Brasil.
  7. Hospital Geral de Roraima, Boa Vista, RR, Brasil.
  8. Hospital de Câncer de Barretos, Barretos, SP, Brasil.
  9. Instituto de Oncologia Pediátrica - GRAACC, São Paulo, SP, Brasil.
  10. Universidade do Estado do Amazonas, Manaus, AM, Brasil.

Campanha “Diga não à desnutrição Kids”:

11 passos importantes para combater a

desnutrição hospitalar

"Say No to Child Malnutrition" Campaign 11: important steps to fight hospital malnutrition

A

Artigo Especial

Daniela França Gomes^1 Adriana Servilha Gandolfo^2 Allan Chiaratti de Oliveira^1 Ana Lucia Salgado Potenza^3 Camila Lemiecheck Orellana Micelli^4 Cláudia Bezzerra Almeida^1 Claudia Satiko Matsuba^5 Cristiane do Prado^3 Cristiane Verotti^6 Fernanda Luisa Ceragioli Oliveira^1 Juliana Fernandes Santana Meneses^1 Liana Barbosa Macedo Almeida^7 Mariana dos Santos Murra^8 Marise Yago Rodrigues Sahade Moretti^9 Mirna Maria Dourado Gomes da Silva^3 Patricia Zamberlan^2 Rubens Feferbaum^2 Silvana Gomes Benzecry^10 Silvia Maria Fraga Piovacari^3 Túlio Konstantyner^1 Vanessa Andrea Cruz Ramis Figueira^3 Fabiola Isabel Suano de Souza^1

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al.

INTRODUÇÃO

A desnutrição é caracterizada por deficiência de macro e/

ou micronutrientes que pode ser devido à privação alimentar,

definida como desnutrição primária, ou em decorrência de

uma doença de base, desnutrição secundária. Pode acontecer

de forma aguda ou crônica e afetar o crescimento e o desen-

volvimento da criança. Apresenta alta associação com o risco

infeccioso, aumentando a morbimortalidade na infância^1.

A prevalência de desnutrição na infância vem apresen-

tando redução nas últimas décadas, porém se mantém alta

quando comparada aos países desenvolvidos. Da mesma

forma, o percentual de óbitos por desnutrição grave em

nível hospitalar se encontra bem acima da recomendação

da Organização Mundial de Saúde, apesar de não termos

indicadores nacionais de prevalência de desnutrição após

os anos de 1990^2.

A abordagem ampla e adequada do tratamento nutri-

cional mediante o conhecimento das alterações fisiológicas

da criança desnutrida, baseada em conhecimento científico

atualizado, é fundamental para o sucesso do cuidado. Em

1999, foi criada a primeira versão do protocolo de trata-versão do protocolo de trata-

mento da criança com desnutrição energético proteica (DEP)

grave, idealizado para tratamento de DEP em crianças de

6 meses a 5 anos de idade. Desde então, ele passou por

duas atualizações, em 2003 e 2013, entretanto, os princípios

gerais são os mesmos desde o início. Trata-se de um guia

prático, com abordagem multidisciplinar, dividido em 3 fases

(estabilização, reabilitação e monitoramento) e 10 passos3,4.

Esta campanha visa abordar de forma ampla e prática a

desnutrição na infância, sugerindo ferramentas que auxiliem

na prevenção e no tratamento da DEP, com o objetivo de

reduzir as taxas de desnutrição. Para facilitar a difusão do

conhecimento, foi desenvolvido método mnemônico com a

palavra “DESNUTRIÇÃO”, abordando cada letra inicial de

forma simples, desde o conceito até o tratamento da desnu-

trição, conforme registrado no Quadro 1.

Os 11 passos do combate à desnutrição estão descritos

detalhadamente nos tópicos a seguir.

D – Determinar o risco nutricional e realizar

avaliação nutricional

As taxas de desnutrição hospitalar infantil variam de 7,5%

a 45,6%5-8. Durante a hospitalização, o lactente e a criança

podem evoluir com piora do estado nutricional devido a

períodos de jejum prolongado, baixa ingestão oral e/ou

retardo na indicação de via alternativa de terapia nutricional,

agravado pela doença de base e chegar à desnutrição,

estado nutricional que interfere no prognóstico e aumenta o

tempo de internação hospitalar.

A triagem nutricional determina o risco nutricional no

momento da internação e durante a hospitalização, podendo

prevenir a piora do estado nutricional e orientar quanto à

necessidade de intervenção. Segundo a Sociedade Europeia

de Nutrição Enteral e Parenteral (ESPEN), a triagem nutricional

deve apresentar quatro princípios básicos, que incluem^9 :

  • Triagem pelo índice de massa corporal (IMC);
  • História de estado nutricional pregresso para avaliação

de perda de peso;

  • Avaliação da redução da aceitação alimentar – quanti-

dade e tempo;

  • Deterioração de estado nutricional pela inapetência e/

ou alto catabolismo causado pela doença.

Nas últimas duas décadas, inúmeras ferramentas de

triagem nutricional foram desenvolvidas para avaliar o risco

de desnutrição em crianças hospitalizadas. A única traduzida

e adaptada para as crianças brasileiras é a STRONG Kids

(Screening Tool Risk on Nutritional status and Growth), que

considera o estado nutricional atual, perda de peso involun-

tária ou ausência de ganho de peso, alterações gastrointes-

tinais e de ingestão alimentar^10 (Quadro 2).

Não existe consenso quanto à superioridade entre os

instrumentos de triagem nutricional pediátrica, pois nenhuma

das ferramentas disponíveis foi validada em grandes estudos

populacionais, além do originalmente publicado. A maioria

não correlaciona o desfecho clínico ou tem limitações que

podem ser uma barreira na sua utilização como ferramentas

de triagem universal. Metanálise envolvendo 1593 pacientes

evidenciou maior sensibilidade e baixa especificidade nas

escalas STRONG Kids e STAMP^11. A importância de ferra-

mentas com alta sensibilidade é relacionada a maior proba-

bilidade da criança identificada com risco nutricional ser

diagnosticada, minimizando o número de falsos negativos.

Após a triagem nutricional, crianças e adolescentes em

risco devem ser submetidos à avaliação nutricional objetiva,

para o adequado diagnóstico do seu estado nutricional. A

implementação de uma avaliação nutricional sistematizada

é de extrema importância na condução terapêutica do indi-

víduo hospitalizado, por sinalizar, já à internação, aqueles

pacientes que se beneficiarão de uma intervenção nutricional

precoce e adequada^9.

O estado nutricional é a resultante do balanço entre dispo-

nibilidade, consumo, absorção e necessidades individuais de

nutrientes. Assim, sua determinação deve envolver dados da

Quadro 1 – Método mnemônico dos 11 passos para o combate à desnutrição. D D eterminar o risco nutricional e realizar avaliação nutricional E E stabelecer as necessidades nutricionais S S olicitar peso corporal e monitorar durante a internação N N unca negligenciar o jejum e monitorar os eletrólitos U U tilizar métodos para acompanhar a adequação energética, macro e micronutrientes T T reinar equipe para manejar a desnutrição na fase aguda R R epor os estoques de micronutrientes I I mplementar indicadores de qualidade e garantir a continuidade do cuidado intrahospitalar C C ontrolar a perda de massa muscular e reabilitar precocemente A A colher e engajar o paciente e familiares no tratamento O O rientar a alta hospitalar e agendar retorno ambulatorial precoce

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al.

seu monitoramento por meio da aferição do peso semanal

e estatura mensal 14. Este monitoramento pode ser realizado

em intervalos menores, na dependência do comprometimento

do estado nutricional ao ingresso ou da gravidade da doença

de base. Para a classificação nutricional, utiliza-se o índice

de massa corpórea para idade (IMC/I) expresso em percentil

ou escore Z (Quadro 3). O padrão de referência empregado

é o da Organização Mundial da Saúde (OMS) 17 , disponível

em htp://www.who.int/childgrowth/standards/en/.

A avaliação nutricional objetiva deve ser realizada assim

que detectado o risco nutricional da criança ou adolescente,

e deve contemplar dados da alimentação (dia alimentar

habitual) e antropométricos. Para crianças hospitalizadas

abaixo de 2 anos, recomenda-se a avaliação nutricional ao

ingresso e o seu monitoramento por meio da aferição do peso

diário, estatura e perímetro cefálico semanais, com registro

dos dados em gráfico sequencial. Em crianças acima de 2

anos, recomenda-se a avaliação nutricional ao ingresso e o

E- Estabelecer as necessidades nutricionais

Referencial Teórico

A faixa etária em pediatria é muito ampla e compreende

o recém-nascido até o adolescente. O recém-nascido

pode ser a termo ou prematuro, tendo características

diferentes nas suas necessidades energéticas e proteicas

(Quadros 4 e 5).

A oferta energética também dependerá do estado clínico

do paciente. Em vigência de estresse elevado, como sepses,

meningite e grande cirurgia, deve-se limitar a oferta energé-

tica em taxa metabólica basal (Quadros 4 a 8). Nesses casos,

a oferta proteica deve ser 15 a 20% do valor energético

oferecido, sendo necessário utilizar os limites superiores das

recomendações proteicas para cada faixa etária e gênero

(Quadros 4, 9 e 10).

Em lactentes, crianças e adolescentes, se a causa

da internação for infecciosa sem alto grau de estresse,

opta-se pela oferta da necessidade energética total e

recomendação média de proteína por faixa etária e gênero

(Quadros 8 a 10).

No caso de desnutrido grave, nunca realizar recu-

peração nutricional nos primeiros dias de internação,

sempre aguarde a resolução da causa que motivou

a internação. Deve-se prestar atenção nos distúrbios

eletrolíticos, principalmente a síndrome de realimentação

(vide letra N - Nunca negligenciar o jejum e monitorar

os eletrólitos). Após estabilidade, aumenta-se a oferta

energética gradualmente para 50 a 100%, nas crianças

menores de 5 anos, e 20 a 30%, nas crianças acima

dessa idade.

As necessidades de micronutrientes na criança

e adolescente dependem de fatores relacionados a

reserva corpórea, faixa etária, doença de base, estado

nutricional, presença de risco nutricional e estado meta-

bólico^19. As vitaminas e oligoelementos desempenham

papel chave no metabolismo intermediário, quer seja

Quadro 3 – Classificação dos índices antropométricos de acordo com o percentil para cada faixa etária. Valores críticos Índices Antropométricos Crianças de 0 a 5 anos incompletos Crianças de 5 a 10 anos incompletos Adolescentes (10 a 19 anos) Peso para idade Peso para estatura IMC para idade Estatura para idade Peso para idade IMC para idade Estatura para idade IMC para idade Estatura para idade < P 0, Muito baixo peso para idade Magreza acentuada Magreza acentuada Muito baixa estatura para idade Muito baixo peso para idade Magreza acentuada Muito baixa estatura para idade Magreza acentuada Muito baixa estatura para idade ≥ P 0,1 e < P 3 Baixo peso para idade Magreza Magreza Baixa estatura para idade Baixo peso para idade Magreza Baixa estatura para idade Magreza Baixa estatura para idade ≥ P 3 e < 15 (^) Peso adequado para idade Eutrofia Eutrofia Estatura adequada para idade Peso adequado para idade Eutrofia Estatura adequada para idade Eutrofia Estatura adequada para idade ≥ P 15 e ≤ P 85

P 85 e ≤ P 97 Risco de sobrepeso Risco de sobrepeso Sobrepeso Sobrepeso P 97 e

≤ P 99, Peso elevado para idade Sobrepeso Sobrepeso Estatura adequada para Peso elevado para idade Obesidade Estatura adequada para Obesidade Estatura adequada para idade

P 99,9 (^) Obesidade Obesidade idade idade P- percentil Fonte: Adaptado SBP, 2009^18

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Quadro 4 – Necessidade energética e proteica de prematuros. Prematuros Energia - Nutrição enteral (kcal/kg/dia) Energia - Nutrição parenteral (kcal/kg/dia) Taxa metabólica basal

  • TMB

Atividade (30% TBM) 0-15 0- Termoregulação 5 a 10 0- Efeito termogênico 10 10 Energia Perda Fecal 10 0 Crescimento 25-35 25 Necessidade Total 100-130 85- Necessidade proteica (g/kg/dia)

Fontes : AAP^28 e ESPGHAN^29 Quadro 5 – Necessidade de energia e proteína do prematuro, segundo peso ao nascimento. Prematuro - Peso de Nascimento 500-1000g 1000-1500g 1500-2200g 2200-3000g Energia (kcal/kg/dia)

Proteína (g/kg/ dia)

Fonte: Ziegler^30 Quadro 6 – Cálculo da taxa metabólica basal, segundo Schofield. Faixa etária Meninos (kcal/dia) Meninas (kcal/dia)

3 anos 0,1673 x Peso + 1517 x Estatura – 618 16,25 x Peso + 1023 x Estatura – 413 3 a 10 anos 19,60 x Peso + 130,26 x Estatura + 414, 16,97 x Peso + 161,80 x Estatura + 371, 10 a 18 anos 16,25 x Peso + 137,19 x Estatura + 515, 8,365 x peso + 465,57 x Estatura + 200, Peso- Kg Estatura - metro Fonte: Schofield, 1985^31 Quadro 7 – Cálculo da taxa metabólica basal, segundo OMS. Idade Meninos Meninas < 3 anos 60,9 x Peso - 54 61x Peso – 51 3 a 10 anos 22,7 x Peso + 495 22,5 x Peso + 499 10 a 18 anos (16,6 x Peso) + (77 x Estatura) + 572 17,5 x Peso + 651 (7,4 x Peso) +

(482 x Estatura) + 217 12,2 x Peso + 496 Fonte: OMS, 1985^32 Quadro 8 – Necessidade energética em lactente e criança (kcal/kg/dia). Idade TMB (kcal/ kg/dia) Atividade Crescimento (kcal/ kg/dia) Total (kcal/ kg/dia)*

TMB/

Total (%) Muito baixo peso

< 1 ano 55 15 40 110 50 1 ano 55 35 20 110 50 2 anos 55 45 5 105 50 5 anos 47 38 2 87 54 10 anos 37 38 2 77 48

  • TMB- taxa metabólica basal Fonte: Adaptado de Current Concepts in Pediatric Critical Care – 1999^33 Quadro 9 – Necessidade proteica em lactentes, crianças e adolescentes. Idade EAR - g/kg/dia
RDA -

g/kg/dia Consumo - g/dia 7 a 12 meses 1,0 1,2 11 1 a 3 anos 0,87 1,05 13 4 a 8 anos 0,76 0,95 19 9 a 13 anos 0,76 0,95 34 14 a 18 anos (masculino)

14 a 18 anos (feminino)

Fontes :DRI, 2002^34 ,2003^35 Quadro 10 – Necessidade de energia e proteína – ASPEN. Idade Energia (kcal/kg/dia) Proteina (g/kg/dia) 0 a 1 ano 90-120 2- 1 a 7 anos 75 – 90 1,5 – 3 7 a 12 anos 60-75 1,5 - 2, 12 a 18 anos 30-60 0,8 - 2,

18 anos 25-30 0,8 - 1,

Fontes: ASPEN, 2002^36 ASPEN, 2009^37

como cofatores ou como parte integral das enzimas e

integram o sistema de eliminação de radicais livres de

oxigênio^20 , sendo essenciais para a maioria dos processos

do organismo, como, por exemplo, o funcionamento

imunológico.

A deficiência subclínica pode ocorrer em crianças

saudáveis com ingestão abaixo da recomendada ou

naquelas que, mesmo com ingestão adequada, tenham

necessidades aumentadas em função da doença ou quadros

disabsortivos.

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Quadro 12 – Recomendações de vitaminas. Grupo/ Faixa etária

VIT A

(mcg/d)

VIT C

(mcg/d)

VIT D

(mcg/d)

VIT E

(mcg/d)

VIT K

(mcg/d) Tiamina (mg/d) Ribo- flavina (mg/d) Niacina (mg/d)

VIT B

(mg/d) Folato (mg/d)

VIT B

(mcg/d) AC Pan- totenico (mg/d) Biotina (mcg/d) Colina (mcg/d) Lactentes (em meses) 0 – 6 400 40 10 4 2 0,2 0,3 2 0,1 65 0,4 1,7 5 125 7 -12 500 50 10 5 2,5 0,3 0,4 4 0,3 80 0,5 1,8 6 150 Crianças (em anos) 1 -3 300 15 15 6 30 0,5 0,5 6 0,5 150 0,9 2 8 200 4 – 8 400 25 15 7 55 0,6 0,6 8 0,6 200 1,2 3 12 250 Masculino (em anos) 9 -13 600 45 15 11 60 0,9 0,9 12 1 300 1,8 4 20 375 14 -18 900 75 15 15 75 1,2 1,3 16 1,3 400 2,4 5 25 550 Feminino (em anos) 9 -13 600 45 15 11 60 0,9 0,9 12 1 300 1,8 4 20 375 14 – 18 700 65 15 15 75 1 1 14 1,2 400 2,4 5 25 400 Fonte: Adaptada de Dietary Reference Intakes (DRI): Recommend Dietary Allowances e Adequate Intakes,vitaminas22- Quadro 13 – Recomendações de minerais e oligoelementos. Grupo/ Faixa etária

CÁLCIO

(mg/d)

CROMO

(mcg/d)

COBRE

(mcg/d)

FLUOR

(mg/d)

IODO

(mcg/d)

FERRO

(mg/d)

MAGNÉ-

SIO (mg/d)

MAN-
GANÊS

(mg/d)

MOLIBDÊ-

NIO (mg/ dia)

FÓSFORO

(mg/d)

SELÊNIO

(mcg/d)

ZINCO

(mg/d) Lactentes (em meses) 0 – 6 200 0,2 200 0,01 110 0.27 30 0,003 2 100 15 2 7 -12 260 5,5 220 0,5 130 11 75 0,6 3 275 20 3 Crianças (em anos) 1 -3 700 11 340 0,7 90 7 80 1,2 17 460 20 3 4 – 8 1000 15 440 1 90 10 130 1,5 22 500 30 5 Masculino (em anos) 9 -13 1300 25 700 2 120 8 240 1,9 34 1250 40 8 14 -18 1300 35 890 3 150 11 410 2,2 43 1250 55 11 Feminino (em anos) 9 -13 1300 21 700 2 120 8 240 1,6 34 1250 40 8 14 – 18 1300 24 890 3 150 15 360 1,6 43 1250 55 9 Fonte: Adaptada de Dietary Reference Intakes (DRI): Recommend Dietary Allowances e Adequate Intakes,vitaminas22-

Na prática clínica pediátrica, a perda de 2% do peso,

independentemente do tempo, já é considerada uma perda

grave^39.

Quadro 14 – Fórmula para cálculo da perda de peso.

% de Perda de Peso= (Peso usual (kg) – peso atual (kg)

Peso usual (kg)

A adoção de checklist (Quadro 15) na verificação do

peso corpóreo auxilia de forma sistematizada todas as

etapas do cuidado, considerando as diferentes faixas etárias

e condições clínicas^46.

Em crianças, esta ferramenta pode garantir dados precisos

para a equipe multiprofissional nas condutas terapêuticas,

com a maior familiaridade na rotina e uniformidade das

ações, conforme sugerido no Quadro 1516,47.

x 100

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al.

Cabe ressaltar o papel da equipe multiprofissional incenti-

vando a participação da família e da própria criança durante

o cuidado, levando ao maior engajamento e alcance das

metas terapêuticas.

N- Nunca negligenciar o jejum e monitorar os

eletrólitos

Referencial Teórico

O jejum é prática frequente em hospitais para a realização

de exames, procedimentos cirúrgicos, entre outras situações;

e tem por objetivo prevenir broncoaspiração pulmonar nos

procedimentos anestésicos, aguardar funcionamento de trato

digestório ou estabilidade hemodinâmica. O problema é que,

com frequência, ele extrapola o tempo de recomendação.

Estudos revelam que o tempo de jejum para cirurgias pediá-

tricas, independente da complexidade, é, em média, de 11

horas, podendo chegar até 23 horas48-50. O tempo de jejum

em unidades de terapia intensiva varia de acordo com a gravi-

dade e condição hemodinâmica de receber terapia nutricional.

O jejum resulta em aumento de gliconeogênese e

cetogênese, pela redução dos níveis de insulina, levando a

depleção das reservas de glicogênio hepático, aumento do

catabolismo proteico e aumento da concentração plasmática

de ácidos graxos não-esterificados. Lactentes e crianças têm

taxa metabólica elevada, com reserva de glicogênio reduzida,

resultando em hipoglicemia e cetoacidose, sobretudo em

menores de 36 meses51-^.

Sabe-se que o tempo de sobrevivência ao jejum completo

em adequada condição de saúde é de 44 dias, para a criança

de 1 ano, 30 dias, para o latente de 1 mês e 12 dias, para

um prematuro de 2 kg^54. Considera-se o aumento das neces-

sidades nutricionais mediante estado de hipercatabolismo ou

quadro de desnutrição, este tempo diminui e a intervenção

deve ser mais precoce.

A redução do tempo de jejum no pré-operatório tem se

mostrado segura e pode resultar em risco reduzido de efeitos

metabólicos negativos do jejum, além de favorecer menor

estresse para as mães e crianças53,55-57. O Quadro 16 apre-

senta os tempos de recomendação de jejum pré-operatório^55.

Nas unidades de terapia intensiva, a terapia nutricional

deve ser iniciada assim que ocorrer estabilidade hemodinâ-

mica e, na inviabilidade de uso do TGI devido quadro de íleo

prolongado, a indicação de nutrição parenteral (NP) não deve

ser postergada. Os lactentes e as crianças maiores com risco

nutricional ou desnutridas devem receber NP dentro de 48h.

Quadro 15 – Checklist para verificação de peso corpóreo. Cuidados Fundamentação da prática Relacionados à balança ( ) Balança calibrada Equipamentos calibrados e precisos podem fornecer dados fidedignos e expor a menor risco de erros no diagnóstico ou tratamento ( ) Balança desinfetada A desinfecção correta do equipamento de aferição pode minimizar riscos potenciais de infecção Relacionados à criança ( ) Esvaziamento prévio da bexiga e jejum A menor variação de peso pode facilitar na comparação diária das medidas ( ) Horário pré-definido para verificação A rotina definida de horário pode auxiliar no preparo do paciente e otimizar as ações de enfermagem ( ) Posicionamento correto da criança e da balança O posicionamento correto pode fornecer dados fidedignos ( ) Uso de dispositivos médicos, como talas, sondas, drenos, tubos Nestas condições, todos os dispositivos em uso deverão ser documentados no prontuário da criança ( ) Ausência de fraldas Quando possível, retirar fraldas, a fim de garantir dados precisos. Na impossibilidade, retirar o valor do peso da fralda na anotação final do peso ( ) Estratégias para distração da criança A utilização de brinquedos ou jogos pode auxiliar na verificação do peso e mobilização excessiva da criança Relacionados ao ambiente ( ) Privacidade do ambiente Para reduzir o grau de estresse da criança e dos pais, obtendo maior colaboração no cuidado Para evitar distrações e erros na técnica de mensuração Relacionados à equipe de enfermagem ( ) Familiaridade e treinamento da equipe no uso dos equipamentos O conhecimento prévio do equipamento e da rotina de controle permite a verificação correta do peso corpóreo ( ) Comparação com medida anterior O parâmetro anterior permite com- parações e condutas terapêuticas mais eficientes ( ) Uso de balança adequada para cada tipo de paciente O uso correto das balanças fornece dados fidedignos e precisos Quadro 16 – Tempo de jejum para procedimentos com anestesia em pediatria. Alimento Tempo de jejum recomendado (horas) Líquidos claros (água, chás, sucos sem polpa, bebidas com carboidrato)

Leite materno 4 Fórmula infantil, leite não humano, dietas leves

Refeições completas ou com maior teor de gordura

Fonte: ASA, 2011^57

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al.

profissionais de saúde das particularidades fisiopatológicas

da criança com DEP grave nessa fase relaciona-se com

maior mortalidade.

Cabe aqui ressaltar que são duas as formas clínicas de

DEP grave, marasmo e kwashiorkor. Frente ao conhecimento

atual, sabe-se que o edema que acontece na forma kwashio-

rkor se dá, predominantemente, devido ao desequilíbrio do

estresse oxidativo, que resulta em lesão endotelial sistêmica

e não por baixa ingestão/produção de albumina. Por isso,

o tratamento de ambas é o mesmo 4.

O protocolo de tratamento da criança com DEP grave é

dividido em 3 fases (estabilização, reabilitação e monitora-

mento) e 10 passos. Os sete primeiros relacionam-se com

a fase de estabilização, sendo os cinco primeiros com o

tratamento da fase aguda3,4, 70.

Abordagem Prática

√ Primeiro passo: prevenir e tratar a hipoglicemia:

1. Diagnóstico: glicemia < 54 mg/dL

2. Tratamento:

2a- Via oral (primeira opção) ou sonda (quando a via oral

não é possível): dieta habitual da criança, água com

maltodextrina, água com açúcar ou soro glicosado

a 10% - 50 mL. Alimentar a criança a cada 3 horas,

no máximo, para evitar nova hipoglicemia.

2b- Intravenoso (na impossibilidade de utilizar o trato

gastrintestinal): soro glicosado 10% 5 mL/kg (em 20

minutos). Utilizar soro de manutenção com VIG 4 a

6 mg/kg/min, para evitar nova hipoglicemia.

Quadro 18 – Avaliação da aceitação alimentar do lactente. Nome: Leito: Andar: Desjejum Almoço Lanche da tarde Jantar Lanche noturno Mamadeiras^ noturnas Mamadeira Pão/Biscoito Papa Fruta Papa Principal Papa Fruta Mamadeira Mamadeira Pão/Biscoito Papa Principal Papa Fruta Mamadeira Mamadeira Pão/Biscoito Avaliação da aceitação alimentar ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Nada (0%) ( ) Nada (0%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) Fonte: ADAPTADO Kondrup J et al. ESPEN, 2002.

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3-

√ Segundo passo: prevenir e tratar a hipotermia

1. Diagnóstico: temperatura axilar < 35 graus Celsius e

retal/oral < 35,5 graus Celsius.

2. Tratamento: aquecimento seguro-contato pele a

pele; roupas e cobertas, incluindo cabeça; incubadora

ou berço aquecido. Não utilizar: bolsa de água quente e

nem foco de luz, por risco de queimadura.

√ Terceiro passo: prevenir e tratar a desidratação

1. Diagnóstico: sinais clínicos de desidratação se

confundem com os de desnutrição, o que pode dificultar

o diagnóstico clínico. A hiperhidratação aumenta o risco

de complicações cardiovasculares e pulmonares nessas

crianças. Por isso, pode-se considerar a criança desnutrida

algo desidratada, mas realizar a reidratação de forma

lenta e com menos volume do que seria utilizado para uma

criança eutrófica.

2. Tratamento:

2a- Via oral (primeira opção) ou sondas (impossibi-

lidade da via oral): utilizar soro de reidratação

específico para DEP grave – RESOMAL (Quadro

21). Na ausência deste, diluir um envelope de

soro de reidratação oral padrão (90 ou 75 mEq/L

de sódio) em 2 litros de água e adicionar 30 a

50 gramas de açúcar ou maltodextrina. Quanti-

dade: 5 mL/kg, a cada 30 minutos, por 2 horas,

reavaliar a cada 1 hora (total: 70 a 100 mL/kg

em 10 horas).

Quadro 19 – Avaliação da aceitação alimentar - pediatria. Nome: Leito: Andar: Desjejum Almoço Lanche da tarde Jantar Lanche noturno Complemento Oral Leite/Iogurte Pão/Biscoito Fruta Leite/Iogurte Pão/Biscoito Leite/Iogurte Pão/Biscoito ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Tudo (100%) ( ) Metade (50%) ( ) Nada (0%) ( ) Nada (0%) ( ) Nada (0%) 1 a^ Unidade/dia 2 a^ Unidade/dia 3 a^ Unidade/dia Arroz Feijão Carne/Ovo Legumes/Saladas Sobremesa Arroz Feijão Carne/Ovo Legumes/Saladas Sobremesa Avaliação da aceitação alimentar ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) ( ) Tudo (100%) ( ) Mais da metade (75%) ( ) Metade (50%) ( ) Menos da metade (25%) ( ) Nada (0%) Fonte: ADAPTADO Kondrup J et al. ESPEN, 2002.

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3-

R- Repor os estoques de micronutrientes

Referencial Teórico

O Manual elaborado pelo Ministério da Saúde^1 , com

a colaboração do Departamento Científico de Nutrição da

Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), seguindo as recomen-

dações da Organização Mundial da Saúde (OMS)^3 , propõe

a reposição de micronutrientes no acompanhamento da

criança desnutrida (Quadro 22), com doses suplementares

adequadas de eletrólitos, minerais e vitaminas (Quadro

23), após a definição bem clara das metas nutricionais indi-

viduais1,3,72, exemplificado em fluxograma no Quadro 22.

Toda criança desnutrida apresenta algum grau de deficiência

de vitaminas e minerais. A hipovitaminose A, por exemplo, é uma

deficiência que representa risco e que deve ser tratada assim

que feito o diagnóstico. Recomenda-se a suplementação (na

fase de recuperação nutricional) de zinco, cobre, ácido fólico,

vitamina A e ferro, sendo importante não apenas para recu-

peração nutricional, mas também para a melhora do sistema

imunológico e redução do estresse oxidativo.

A suplementação medicamentosa pode ser feita pela

administração de complexos vitamínicos disponíveis no

mercado, diretamente por via oral, quando possível. Porém,

a maioria desses produtos comerciais não fornece quanti-

dade suficiente para o tratamento da desnutrição ou não

contêm todos os nutrientes necessários. Misturas de vitaminas

são outra opção para o tratamento e estão descritas no

Quadro 24 e os produtos farmacêuticos mais encontrados

no mercado, no Quadro 25. O Ministério da Saúde, em

parceria com o Ministério da Educação e o Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, criou estratégia

de fortificação da alimentação infantil com micronutrientes,

Quadro 22 – Fluxograma para reposição de micronutrientes, conforme gravidade da DEP, adaptado por Benzecry e Meneses^73. Quadro 23 – Suplementação de micronutrientes (reposição diária). Multivitaminas 1,5 x a recomendação* + dieta Ferro 3 mg/kg (a partir da melhora clínica e ganho de peso) Zinco 2 mg/kg (máximo 20 mg/dia) Cobre 0,2 mg/kg (máximo 3 mg/dia) Ácido fólico 1 mg** Vitamina A Dose única (exceto se a criança recebeu vit A há menos de 30 dias) < 6 meses: 50.000 UI 6 a 12 meses: 100.000 UI

12 meses: 200.000 UI

  • quantidade recomendada para crianças saudáveis. ** no primeiro dia, administrar 5 mg. Fonte: WHO, 1999^3 MANUAL DEP GRAVE MS 2005^1

pela adição de um sachê contendo mistura de vitaminas e

minerais em pó em uma das refeições oferecidas diariamente

às crianças nas creches – NutriSUS (Quadro 26).

Abordagem Prática

A decisão de internação hospitalar e reposição de micro-

nutrientes é direcionada de acordo com a gravidade da

desnutrição, conforme Quadros 22 e 23.

O esquema de suplementação de micronutrientes

proposto pela OMS^3 está descrito no Quadro 23. Na

prática, evite acrescentar os suplementos em preparações

alimentares, pois podem alterar o sabor da preparação e

prejudicar a aceitação alimentar da criança.

A suplementação de vitaminas pode ser feita por meio de

misturas ou polivitamínicos disponíveis em farmácia.

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al. Quadro 24 – Composição da mistura de vitaminas para 1000 ml de prepa- rados alimentares. Substância Quantidade por litro de dieta Tiamina (vitamina B1) 0,7 mg Riboflavina (vitamina B2) 2,0 mg Ácido Nicotínico 10,0 mg Piridoxina (vitamina B6) 0,7 mcg Cianocobalamina (vitamina B12) 1,0 mcg Ácido Fólico 0,35 mg Ácido Ascórbico 100 mg Ácido Pantotênico (vitamina B5) 3 mg Biotina 0,1 mg Vitamina A 1,5 mg Vitamina D 30 mcg Vitamina E 22 mg Vitamina K 40 mcg Fonte: OPAS, 2000^71 Quadro 25 – Quantidade de micronutrientes (em 1 ml de solução oral) de alguns produtos disponíveis no mercado. Composição Nome Comercial Dayvit Kids (Achevita) Protovit Plus (Bayer) Revitam Jr (Biolab) Clusivol (Wyeth) Kalyamon Kids (Janssen – Cilag) Pharmaton Kiddi (Boehringer) Vit A 330 UI 3000 UI 1250 UI 250 UI ----- ----- Vit B1 0,12 mg 2 mg 0,4 mg 0,07 mg ----- 0,20 mg Vit B2 0,12 mg 1,5 mg 0,5 mg 0,09 mg ----- 0,23 mg Niacina 1,5 mg 15 mg 6 mg ----- ----- 1,3 mg Vit B6 ----- 2 mg 0,6 mg 0,08 mg ----- 0,40 mg Vit B12 0,22 mcg ----- 0,5 mcg 0,3 mcg 0,3 mcg ----- Ac Fólico ----- ----- 35 mcg ----- ----- ----- Vit C 7,5 mg 80 mg 35 mg 3,25 mg ----- ----- Vit D3 50 UI 900 UI 400 UI 20 UI 20 UI 26 UI Vit E ----- 15 mg 4 UI ----- ----- 1 mg Ca ----- ----- ----- 4 mg 21,2 mg ----- Fe ----- ----- ----- 0,3 mg ----- ----- Zn 1 mg ----- ----- 0,05 mg 0,4 mg ----- Cu 85 mcg ----- ----- ----- ----- ----- Se 4 mcg ----- ----- ----- ----- ----- P ----- ----- ----- 3,0 mg 14,4 mg ----- Iodo ----- ----- ----- 7,5 mcg ----- ----- Mg ----- ----- ----- 0,3 mg ----- ----- Mn ----- ----- ----- 0,05 mg ----- ----- K ----- ----- ----- 0,25 mg ----- ----- Fonte: Fabricantes Quadro 26 – Composição dos sachês de micronutrientes utilizados no NutriSUS. Composição Dose Vitamina A RE 400 mcg Vitamina D 5 mcg Vitamina E 5 mg Vitamina C 30 mg Vitamina B1 0,5 mg Vitamina B2 0,5 mg Vitamina B6 0,5 mg Vitamina B12 0,9 mcg Niacina 6 mg Ácido Fólico 150 mcg Ferro 10 mg Zinco 4,1 mg Cobre 0,56 mg Selênio 17 mcg Iodo 90 mcg Fonte: HF – TAG, 2011^74

BRASPEN J 2019; 34 (1): 3- Gomes DF et al.

2. Garantir a continuidade do cuidado intrahospitalar

Referencial Teórico

A OMS define segurança do paciente como a redução

do risco de danos desnecessários a um mínimo aceitável. Ou

seja, redução de atos inseguros nos processos assistenciais

e uso de melhores práticas descritas para alcançar máximos

resultados para o paciente^78.

A segurança do paciente, apesar de avanços na área de

saúde, é influenciada por práticas iatrogênicas cometidas

por falhas técnicas e humanas, e refletem diretamente na

qualidade de vida por provocar danos, muitas vezes graves,

tanto para os pacientes como para os profissionais e para a

organização hospitalar 79.

Um sistema de segurança efetivo deve focar na prevenção,

detecção de riscos existentes em todos os processos, implan-

tação de barreiras e de plano de ação capazes de reduzir

ou eliminar os riscos existentes e os danos decorrentes de

um evento adverso^11.

No Brasil, o Ministério da Saúde instituiu o Programa

Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por meio da

Portaria no^ 529, de 01/04/2013. O principal objetivo

desse programa foi contribuir para a qualificação de

cuidado em saúde, em todos os estabelecimentos de

saúde do território nacional e apoiar a implementação de

iniciativas voltadas à segurança do paciente, envolvendo

pacientes e familiares nesse processo, além de ampliar

o acesso da sociedade às informações relativas à segu-

rança, produzir, sistematizar e difundir conhecimentos

sobre segurança do paciente, e fomentar a inclusão do

tema em todos os níveis de ensino em saúde. Esse é

um processo complexo e que necessita de tempo para

amadurecer^80.

Abordagem Prática

Seguem recomendações relacionadas à conti-

nuidade do cuidado para a terapia nutricional em

pediatria 13,15.

√ Registrar dados antropométricos como peso, altura,

circunferências mensuradas tanto no momento da

admissão quanto evolutivamente;

√ Assegurar a sequência de informações que resista a

mudanças de turnos frequentes;

√ Garantir que triagem nutricional e avaliação nutricional de

todos os pacientes hospitalizados sejam periodicamente

realizadas e registradas em prontuário;

√ Atentar para a aceitação da dieta oral, sobretudo para os

pacientes de risco. Essa informação é muito importante

para o plano de cuidado nutricional e deve ser registrada

junto ao balanço ou mesmo na evolução da equipe

assistencial;

√ Registrar no final de cada turno o volume infundido que

deverá ser acompanhado versus prescrito da nutrição

enteral e parenteral;

√ Anotar como foram as últimas 24h, sinalizando as

intercorrências relevantes, como glicemias, número de

evacuações e característica, volume e aspecto dos drenos

e cateteres, etc. Esse tipo de anotação comunica a tran-

sição clínica de um dia para o outro e constitui importante

informação para a evolução;

√ Reavaliar periodicamente as necessidades calóricas,

proteicas e de micronutrientes, adequando-as às neces-

sidades de cada momento clínico. Atenção em especial

para as transições entre setores ou para as situações

de descontinuidade de acompanhamento por parte da

equipe interdisciplinar;

√ Registrar qual meta calórica e proteica foi determinada

para o paciente, e o quanto da meta proposta foi

recebida;

√ Minimizar, ao máximo, o risco de falhas de comu-

nicação entre Equipe Médica, Serviço de Nutrição

Clínica/EMTN, Médicos Assistentes e Paciente/Respon-

sável, sobretudo nas transições entre unidades/setores.

Não deixe de registrar as atualizações em prontuário.

Folhas e fichas de transição podem ser ferramentas

úteis, mas não asseguram que a informação esteja

bem descrita;

√ A visualização no ambiente do paciente relacionada ao

seu plano de cuidado, data programada para alta e o

alinhamento de expectativa são grandes diferenciais,

envolvendo, engajando e empoderando paciente e fami-

liares na sincronia deste processo. A forma para garantir

a visualização pode ser através de painel ou quadro na

parede do quarto do paciente.

C- Controlar a perda de massa muscular e reabili-

tar precocemente

Referencial Teórico

A internação hospitalar é frequentemente caracterizada

por períodos de estresse metabólico e oferta calórico-

protéica abaixo da necessidade diária. Nas doenças

graves, como sepse, trauma, câncer e grandes cirurgias,

a inflamação sistêmica desencadeia alterações do meta-

bolismo dos macronutrientes e leva ao aumento de degra-

dação proteica, com balanço nitrogenado negativo. Esse

estado de hipercatabolismo faz com que as necessidades

de aminoácidos sejam aumentadas. Nessas situações, há

aumento da lipólise e da proteólise, levando a perda de

massa muscular e desnutrição, além de piora da função

imunológica. Os tecidos periféricos, principalmente

musculatura lisa, são degradados para a liberação de

aminoácidos que serão utilizados na gliconeogênese e na

síntese de proteínas. No jejum, essa degradação é impor-

tante, pois a gliconeogênese passa a ser a via provedora

de glicose para o organismo51,81.

Assim, estabelecer a meta calórico-proteica, iniciar a

terapia nutricional e atingir precocemente as necessidades

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3-

de macro e micronutrientes são fundamentais para o

controle da perda de massa muscular nos pacientes

hospitalizados.

Abordagem Prática

Medidas de peso e comprimento/estatura e reali-

zação de índices antropométricos, seguindo a curva de

Z score da OMS: P/I (peso para idade), E/I (estatura

para idade), P/E (peso para estatura) e IMC/I (índice de

massa corporal para idade)17,82.

A avaliação da massa muscular pode ser realizada

através de métodos simples, como o cálculo da Circunfe-

rência Muscular do Braço (CMB) e da Área Muscular do

Braço (AMB) – Quadro 27. As medidas de Circunferência

Braquial (CB) e Circunferência da Panturrilha (CP), apesar

de não fornecem medidas específicas de composição

corporal, são úteis para quantificar a diferença individual

durante o acompanhamento nutricional39,83.

A- Acolher e engajar o paciente e familiares no

tratamento

Referencial Teórico

O acolhimento é um processo contínuo e não apenas

uma etapa do atendimento. A hospitalização representa, para

muitos, um momento de fragilidade e de medo provocados

pela insegurança que a doença ocasiona, que podem afetar

diretamente a parte alimentar. Por isso, no momento da

hospitalização é fundamental que a equipe multiprofissional

de saúde demonstre não só os conhecimentos técnicos e

científicos, mas, também, habilidade e sensibilidade ao lidar

com situações de sobrecarga emocional87,88.

A estratégia para garantir a melhoria da prática do acolhi-

mento no ambiente de trabalho é através da sensibilização

e capacitação da equipe por meio de um trabalho de cons-

cientização, visando à escuta, à valorização das queixas do

paciente/família, à identificação de suas necessidades e o

respeito às diferenças, construindo um bom relacionamento

durante o período de hospitalização89,90.

As iniciativas de inclusão da família no cuidado da criança

hospitalizada surgem do reconhecimento da sua importância

como fonte principal de força e suporte para a criança e

da premissa de que tanto a criança quanto sua família são

importantes na tomada das decisões terapêuticas^91 , e são um

dos elementos que compõem as políticas de humanização

do cuidado pediátrico^92.

O estímulo ao aleitamento materno é uma das mais

importantes políticas de saúde pública e uma estratégia

fundamental de acolhimento da mãe/lactente, com impor-

tantes benefícios a curto e longo prazo para a saúde da

criança e de sua mãe^93 , e uma importante forma de empo-

deramento da mulher no cuidado da criança^94.

No Brasil, o programa nacional de aleitamento materno,

com a implementação dos hospitais amigos da criança,

a criação da rede brasileira de bancos de leite humano

e a adoção do método canguru como política de saúde

pública, associado à regulamentação da comercialização de

alimentos infantis, melhoraram os indicadores de amamen-

tação no país^95 , porém nenhuma iniciativa pública se dire-

ciona ao estímulo do aleitamento materno na hospitalização

da criança além do período neonatal.

As internações interferem negativamente na continuidade

do aleitamento materno e iniciativas locais de educação das

diferentes equipes profissionais que atendem à criança para

o adequado suporte familiar, empoderamento materno e

estímulo ao aleitamento materno são fundamentais96,97. A

hospitalização ainda pode ser um momento de retomada do

aleitamento materno, naqueles casos em que o desmame já

tenha acontecido. A relactação pode ter um impacto positivo

na evolução nutricional destas crianças^98.

Para crianças maiores, a incorporação dos hábitos

alimentares familiares no manejo nutricional é uma boa

maneira para acolher e gerar efeito positivo na evolução

nutricional durante a hospitalização.

Quadro 27 – Métodos de avaliação de composição corporal. Medida Material necessário Circunferência Braquial (CB) Fita métrica Circunferência da Panturrilha CP) Fita métrica Prega Cutânea Triciptal (PCT) Adipômetro Circunferência Muscular do Braço CMB = CB – π x PCT (mm^2 ) Fita métrica, adipômetro e calculadora Área Muscular do Braço AMB = (CB – π x PCT)^2 / 4 π Fita métrica, adipômetro e calculadora Força de Preensão Manual Dinamômetro manual Albumina, pré-albumina e transferrina Sangue/laboratório

A Força de Preensão Manual avalia a condição

funcional por meio da força realizada em um dina-

mômetro manual e está diretamente relacionada à

evolução do estado nutricional durante a internação^84.

É um método de fácil avaliação de crianças maiores e

adolescentes.

Laboratorialmente, pode-se utilizar a dosagem de prote-

ínas séricas, como albumina, pré-albumina e transferrina,

sempre avaliando com os resultados dos marcadores de

processos inflamatórios por serem marcadores inversamente

proporcionais 21,51,81.

Apesar de não ser uma realidade da maioria dos serviços

pelo alto custo, a bioimpedanciometria (BIA) é um método

não invasivo, rápido e seguro de avaliação da composição

corporal, por meio da condução de corrente elétrica de

baixa intensidade através do corpo e estima as quantidades

de água, massa magra e massa gorda corporais pelas

diferentes densidades 85,86.

Diga não à desnutrição Kids BRASPEN J 2019; 34 (1): 3-

O resumo de alta, que é fundamental para o adequado

acompanhamento ambulatorial, deve ser levado na primeira

consulta de retorno. O preenchimento deste documento deve

incluir, de forma detalhada, informações sobre a história

clínica, diagnóstico, tratamento, exames, dieta (tipo de dieta,

quantidade, frequência e via de administração) e recomenda-

ções de seguimento. Particularmente, as condições de alta, que

incluem os dados antropométricos (peso, estatura) e perímetro

cefálico (nos menores de 5 anos), devem estar presentes101,102.

O seguimento ambulatorial deve ocorrer com uma

reavaliação na primeira semana após a alta. De preferência,

as consultas iniciais devem ser realizadas em ambulatório

do próprio hospital, pelo menos até completar um mês de

acompanhamento com estabilidade clínica e manutenção da

recuperação nutricional da criança. Em seguida, os retornos

podem ser realizados em serviços de menor complexidade,

como nas unidades básicas de saúde e nas estratégias de

saúde da família^101.

REFERÊNCIAS

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