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Guias e Dicas
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Bavinck, Herman - Dogmática reformada - V.4, Notas de estudo de Teologia

teologia reformada

Tipologia: Notas de estudo

2017
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Compartilhado em 12/07/2017

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Baixe Bavinck, Herman - Dogmática reformada - V.4 e outras Notas de estudo em PDF para Teologia, somente na Docsity!

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D o g m á t ic a

R e fo r m a d a

D o g m á t ic a R e f o r m a d a

VOLUME 4: ESPÍRITO SANTO, IGREJA E NOVA CRIAÇÃO

REIS BOOK

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D ogm ática R e fo rm a d a - E sp írito San to, Ig re ja e nova criação

Herman Bavinck

Dogmática Reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação © 2012, Editora Cultura Cristã. © 2003 by the Dutch Reformed Translation Society. Originalmente publicado em inglês com o título Reformed Dogmatics pela Baker Academic, uma divisão do Baker Publishing Group, Grand Rapids, Michigan, 49516, USA. Todos os direitos são reservados.

Ia edição - 2012 - 3.000 exemplares

Conselho Editorial Ageu Cirilo de Magalhães Jr Cláudio Marra {Presidente) Fabiano de Almeida Oliveira Francisco Solano Portela Neto Heber Carlos de Campos Jr. Mauro Fernando Meister Tarcízio José de Freitas Carvalho Valdeci da Silva Santos

Produção Editorial Tradução Vagner Barbosa Revisão Maria Suzete Casselatto Airton Williams Mauro Filgueiras Wilson Ferreira de Souza Neto Editoração OM Designers Gráficos Capa Magno Paganelli

Bavinck, Herman B354d Dogmática reformada - Espírito Santo, Igreja e nova criação / Herman Bavinck; traduzido por Vagner Barbosa. _ São Paulo: Cultura Cristã, 2012

880 p.; 16x23 cm Tradução Reformed dogmatics ISBN 978-85-7622-400-

  1. Teologia 2. Teologia histórica I. Título CDD 230

s

€DITORfl CUITURR CRISTÃ

Rua Miguel Teles Júnior, 394 - CEP 01540-040 - São Paulo - SP Caixa Postal 15.136 - CEP 01599-970 - São Paulo - SP Fones 0800-0141963 / (11) 3207-7099 - Fax (11) 3209- www.editoraculturacrista.com.br - cep@cep.org.br Superintendente: Haveraldo Ferreira Vargas Editor: Cláudio Antônio Batista Marra

S u m á r io

S o ciedade H o la n d e sa R efo r m a d a de T r a d u ç ã o ........................................................ 11 P r e f á c io ................................................................... A g radecim entos................................................... Intro dução do o r g a n iz a d o r .........................

P a r te I O E spírito d á nova v id a ao s c r en t es....... 2 7

1. Chamado e regeneração ................. 29 O chamado de D eus .................................. 31 Chamado externo ....................................... 3 4 A proclamação universal do evangelho ................................................. 35 O chamado particular da graça ........ 41 Novo nascimento em outras religiões ............................................. 4 5 Regeneração: o ensino escriturístico ..............................4 7 A doutrina da regeneração na história da igreja .................................. 5 4 Modernas reinterpretações da regeneração ....................................................6 0 Regeneração: várias interpretações ................................................ A natureza e o alcance da regeneração .............................................7 0 Regeneração: uma tentativa de definição ...................... ............................. 7 7 Imediata e irresistível ............................... 82 A objeção remonstrante ..........................8 6 Tornando-se pessoas espirituais ........ 8 9 Reforma, não recriação **.......................... 9 4

  1. Fé e conversão ..................... ............ 98** O conhecimento da fé .............................1 0 0 A fé como uma capacidade universal criada ....................................... 10 2 Conhecimento da fé na Escritura ... 1 0 6 Roma e a Reforma sobre a f é ............ 111 Fé e regeneração: que vem primeiro? ............................................ Fé como conhecimento e confiança .................................................. 12 8 Fé e renovação da vontade (conversão) ................................................. 135

Arrependimento .................................. 139 Conversão de crentes? ..................... 143 A compreensão Reformada: mortificação e vivificação ................ 151 Variedades de conversão .................. 156 Fugindo do pecado e amando a D e u s .................................................. Confissão de p e c a d o ......................... Penitência e punição .........................

3. Justificação......................................... 179 O perdão não é natural .................... 182 O perdão na E scritura ...................... O problema do nom ism o .................. 190 A renovação da Reforma: justificação extrínseca, fo r e n s e ...... 192 F é e justificação ................................. Objetiva e subjetiva, ativa e passiva .................................... 203 A justificação é forense, não ética... 207 A f é é necessária, mas não o fundam ento ...................................... 212 Objeções à imputação ....................... Justificação no tempo ou na eternidade? ......................................... Justificação ativa e passiva .............. Os elementos da justificação **........... 226

  1. Santificação e perseverança ......... 233** Santidade como dom e recompensa ....................................... Rigorismo e uma moralidade dupla .............................. 240 A justificação e seus dissabores ...... 245 A santificação também está em Cristo ............................................. 251 Santificação passiva e a tiva ............ 255 Boas o b ra s .......................................... A heresia perfeccionista ................... 263 Perseverança dos santos .................. 269

Parte II O Espírito cria a nova comunidade...... 275

5. A essência espiritual da Ig reja ..... 277 As raízes judaicas da igreja cristã.. 281

8 S^ u m á r io

A igreja é una ................................. 784 O poder espiritual do ensino ........ 493 A igreja é católica ......................... 986 O poder do governo espiritual: A igreja institucional, ensinadora. ..288 disciplina ........................................^496 A igreja como “comunhão O poder da misericórdia ...............^433 dos santos ” ..................................... 791 Assembléias Eclesiásticas ............. 435 A doutrina reformada da igreja....^993 O poder espiritual exclusivo Tangentes da reforma .................... 995 da igreja .........................................^441 A igreja como o “povo de Deus .. Distinções eclesiásticas ................ 306 8.^ Os meios da graça do Espírito: As marcas da igreja ....................... 311 proclamação..................................... Objeções às marcas reformadas...^317 Além do misticismo e do A igreja real na história ................ 390 sacramentalismo ...........................^449 Os atributos da igreja ................... 394 Ordinário e extraordinário: evitando a unilateralidade ........... 45? O governo espiritual da Igreja... ..33ft A Palavra como lei, evangelho A igreja como organismo e p o d e r ...........................................^454 e instituição .................................... 333 Mantendo a unidade da 0 governo da igreja aliança da graça ...........................^457 na Escritura ................................... 337 O Espírito, a Palavra e o poder....^^461 O ofício apostólico: Pedro ............ 341 Depois dos apóstolos: 9.^ Os meios da graça do Espírito: anciãos, bispos e diáconos ............ 345 os sacramentos.............................^.^ ... Do presbiteriano para Definindo os sacramentos .............^470 o episcopal ..................................... 359 A doutrina sacramental .................^474

Do episcopal para o papal ............ 356 Sinais e selos ..............................^^480

O debate sobre a A “matéria ” dos sacramentos ......^483 primazia petrina ............................. 359 A objetividade dos sacramentos....^^489 A rejeição da hierarquia Quantos sacramentos? ..................^496 pela Reforma .................................. 369 Desenvolvimentos pós-reforma .... 373 10. Os meios da graça do Espírito:

Cristo é o rei da igreja .................. ..377 o batismo ...................................... ....S

O ofício eclesiástico O contexto religioso mais como serviço .................................. 381 amplo do batismo ..........................^505 Ordenação ...................................... 386 O batismo com água e o Quantos ofícios? ........................... 388 batismo com o Espírito ................. "No nome de Jesus ” .....................

O poder espiritual da Igreja.........394 O rito do batismo ..........................^ 51? O poder religioso e civil A Reforma e o batismo ..................^515 em Israel. ........................................ 396 O modo do batismo .......................^590 0 novo poder eclesiástico ............. 399 Os benefícios do batismo ..............^594 O desenvolvimento do O batismo infantil .........................^^598 poder episcopal .............................. 401 A validade do batismo infantil ..... 539 A degeneração do poder papal: A ministração do batismo ............ 539 infalibilidade .................................. 405 0 poder restaurado à palavra 11. Os meios da graça do Espírito: e ao sacramento ............................. (^413) a Ceia do Senhor ......................... ... O poder eclesiástico (^) Uma refeição sacrificial

e o poder político ..........................^416 compartilhada ............................ 547

Confusão de poderes ....................... (^491) Instituída por Cristo? .................... 550

S o c ie d a d e r e f o r m a d a

HOLA1MDESA DE TRADUÇÃO

“A herança dos tempos para hoje”

P. O. Box 7083

Grand Rapids, MI 49510

C o n s e l h o d e D ir e t o r e s

Rev. Dr. Joel Beeke

Presidente do Puritan Reformed

Theological Seminary.

Pastor da Heritage Netherlands

Reformed Congregation. Grand

Rapids, Michigan.

Rev. Dr. Gerald M. Bilkes

Professor Assistente de Antigo e Novo

Testamento.

Puritan Reformed Theological

Seminary. Grand Rapids, Michigan.

Dr. John Bolt

Professor de Teologia Sistemática no

Calvin Theological Seminary. Grand

Rapids, Michigan.

Dr. James A. De Jong

Presidente e Professor de Teologia

Histórica, emérito, no Calvin

Theological Seminary. Grand

Rapids, Michigan.

|Dr. Robert G. den Dulk

Empresário. Presidente emérito do

Westminster Seminary California.

Escondido, Califórnia.

Rev. David J. Engelsma

Professor de Teologia no Protestant

Reformed Seminary. Grandville,

Michigan.

Dr. I. John Hesselink

Albertus C. van Raalte. Professor de

Teologia Sistemática, emérito, no

Western Theological Seminary.

Holland, Michigan.

Dr. Earl William Kennedy

Professor de Religião, emérito, no

Northwestern College. Orange City,

Iowa.

Mr. James R. Kinney

Diretor da Baker Academic. Baker

Publishing Group. Grand Rapids,

Michigan.

Dr. Nelson D. Kloosterman

Professor de Ética e Estudos no Novo

Testamento no Mid-America

Reformed Seminary. Dyer, Indiana

1 2 S o c ie d a d e r e f o r m a d a h o l a n d e s a d e t r a d u ç ã o

Dr. Richard A. Muller

R J. Zondervan. Professor de Teologia

Histórica no Calvin Theological

Seminary. Grand Rapids, Michigan

Dr. Adriaan Neele

Jonathan Edwards Center

Universidade de Yale

New Haven, Connecticut

Dr. Carl Schroeder

Pastor vocacionado para o trabalho com

cidadãos da terceira idade. Central

Reformed Church. Grand Rapids,

Michigan.

Mr. Gise Van Baren

Empresário. Crete, Illinois.

Mr. Henry I. Witte

Presidente do Witte Travei. Cônsul do

Governo da Holanda. Grand Rapids,

Michigan.

A g r a d e c im e n t o s

r

F

J —/ com gratidão a Deus, um profundo sentimento de alívio e uma grande

dose de satisfação que eu, como organizador, concluo a tarefa que ocupou mais

de uma década de minha vida. Tenho um certo orgulho pela qualidade do pro

duto final em quatro volumes, crendo que a Dogmática Reformada, de Bavinck,

é uma obra de valor permanente e que apresentamos sua vertente mais positiva.

Temo que, tendo meu nome destacado tão proeminentemente na capa possa re

ceber mais crédito do que realmente mereço pela realização desta obra. Este foi

um esforço coletivo. Meu débito para com aqueles que contribuíram para este

projeto é enorme. Sem meus colegas do conselho diretor da Sociedade Holan

desa Reformada de Tradução, cuja visão e coragem para levar adiante esta obra

quando ela era apenas uma esperança e não tínhamos um centavo em caixa,

que ofereceram conselhos sábios, levantaram recursos, lidaram pacientemente

com meu ritmo, ofereceram regularmente encorajamento e orações - sem eles

eu não teria sustentado meus esforços. Por este grupo de homens reformados,

notavelmente ecumênico e dedicado, que se tomaram bons amigos, eu sou pro

fundamente grato ao Deus da nossa aliança. Nosso número foi reduzido pela

partida de dois que foram se encontrar com o Senhor: o tradutor John Vriend e o

membro do conselho Eugene Osterhaven, os quais desempenharam papéis im

portantes e deixaram saudade. Somos gratos que sua memória e legado tenham

sido aumentados por esses volumes.

Este, também, é o lugar para reconhecer, com gratidão, os muitos membros

fiéis do corpo de Cristo que contribuíram com consideráveis recursos financei

ros para fazer com que a tradução, a edição e a publicação fossem possíveis.

Agradecimentos especiais ao Baker Publishing Group e ao, então presidente,

Rich Baker, por sua boa vontade em assumir a aventura consideravelmente ar

riscada de oferecer uma versão de boa qualidade de uma obra teológica de um

século em um ambiente que é decididamente anti-histórico e preocupado com

o presente pragmático. A equipe editorial profissional da Baker, começando

com Allan Fischer, nos primeiros anos, seguido por Jim Kinney e o editor de

projetos Wells Tumer, da Baker Academic, foi não apenas competente e pacien

temente útil, mas também foi uma alegria trabalhar com ela. Além dos nomes

A g r a d e c im e n t o s 1 5

dos alunos do Calvin Theological Seminary relacionados na nota de rodapé da

bibliografia, devo citar vários outros. Como organizador, fui imensamente aju

dado pela competente e cuidadosa verificação da tradução, feita pelas irmãs De

Moor, Tanya (Vander Veen) e Renée (Yan Keulen), que leram o texto holandês

dos quatro volumes uma para a outra por proveito, prazer e comunhão fraternal.

Durante o último ano, quando eu estava completando a obra do quarto volu

me, o aluno do Calvin Seminary, David Sytsma, me ajudou mais do que posso

descrever. Sem sua habilidade com computadores, penetrante mente teológica,

sensibilidade editorial e sólido trabalho ético, a obra ainda não estaria completa.

Desde o início, Becky Knapp foi firme no projeto e uma digitadora competente

ao extremo. Ela não apenas colocou a extensa tradução manuscrita de John

Vriend em texto eletrônico utilizável, completo com a escrita hebraica e grega,

mas também suportou pacientemente as várias revisões editoriais e correções

com boa vontade, serviço eficiente e bom ânimo. E, finalmente, agradeço a

minha esposa, Ruth, que eu sei que compartilha de toda a satisfação, gratidão e

alegria e, suspeito, também do meu alívio pela conclusão da obra - quem você

é e o que você faz diariamente é indispensável para tudo aquilo que desfruto

e para o bem-estar de nossa família. Eu não poderia ter feito isso sem você. A

todos vocês, agradeço do fundo meu coração.

John Bolt

Dia de Ação de Graças Canadense, 2006.

Em 2 de agosto de 2007, enquanto este livro estava em seu estágio final de

produção, nosso colega e irmão em Cristo, Robert G. den Dulk, foi se encontrar

com seu Senhor e o nosso. A Sociedade Holandesa Reformada de Tradução

lamenta a perda de nosso companheiro, membro do conselho diretor e gene

roso benfeitor. Como antigo presidente do Westminster Theological Seminary

(Escondido, Califórnia), Bob aumentou a ampla representação institucional de

nosso conselho e generosamente usou os recursos da Fundação Den Dulk para

disponibilizar cópias da Reformed Dogmatics, de Bavinck, a muitos estudantes,

em várias escolas teológicas reformadas americanas. Agradecemos a Deus pela

vida de Bob e pelo seu serviço à igreja de Cristo, especialmente na área da

educação teológica e publicações. Sentiremos profundamente sua falta e, em

gratidão, dedicamos este volume à sua memória.

I n t r o d u ç ã o d o o r g a n iz a d o r 1 7

Synopsis purioris theologiae, de Leiden)7, fica claro que ele conhecia bem essa

tradição e a considerava como sua. Ao mesmo tempo, é preciso observar que

Bavinck não foi simplesmente um cronista do passado de sua própria igreja. Ele

se ocupou seriamente de outras tradições teológicas, notadamente a da Católica

Romana e as modernas teologias liberais protestantes, garimpou eficazmente

os pais da igreja e grandes pensadores medievais e colocou seu próprio selo

neo-calvinista em sua Dogmática Reformada.

K a m p e n e L e id e n

Para entender o tempero característico de Bavinck, é necessária uma breve

orientação histórica. Herman Bavinck nasceu em 13 de dezembro de 1854.

Seu pai foi um influente ministro da Igreja Reformada Cristã Holandesa

(Christelijke Gereformeerde Kerk), que 20 anos antes tinha se separado da

Igreja Reformada Nacional na Holanda.8 A separação de 1834 foi, em pri

meiro lugar, um protesto contra o controle da Igreja Reformada Holandesa

pelo Estado. Ela também entrou em uma longa e rica tradição de divergência

eclesiástica em questões de doutrina, liturgia e espiritualidade, tanto quanto

de política. Em particular, deve-se fazer menção aqui ao equivalente holandês

do Puritanismo britânico, a assim chamada Segunda Reforma (Nadere Refor-

matie),9 o influente movimento do século 17 e início do século 18 de teologia

e espiritualidade experimental reformada,10e o movimento reavivalista, evan

gélico, internacional e aristocrático do início do século 19, conhecido como o

Réveil.n A igreja de Bavinck, sua família e sua própria espiritualidade foram,

assim, definitivamente moldados por fortes parâmetros de profunda espiri

tualidade reformada pietista. Também é importante observar que, embora as

fases iniciais do pietismo holandês afirmassem a teologia reformada ortodoxa

e não fossem separatistas em sua eclesiologia, por volta da metade do século

7ASynopsis de Leiden, publicada originalmente em 1625, é um grande manual de doutrina reformada, como definida pelo Sínodo de Dort. Ela serviu como livro-texto de referência para o estudo da teologia reformada até o século 20 (ela é citada até mesmo por Karl Barth, em sua Church Dogmatics). Como uma obra original de re ferência da teologia clássica reformada holandesa, é comparável à Reformed Dogmatics de Heinrich Heppe, no século 19, a mais ampla antologia continental (Londres: Allen & Unwin, 1950, reimpressa, Grand Rapids: Baker Academic, 1978). Enquanto servia como ministro de uma igreja cristã reformada em Franeker, Friesland, Bavinck publicou a sexta e final edição deste manual, em 1881. 8Para uma breve descrição do contexto e do caráter da separação da igreja, ver James D. Bratt, Dutch Calvi nism in M odem America (Grand Rapids: Eerdmans, 1984), c. 1, “Secession and Its Tangents”. 9Ver Joel R. Beeke, “The Dutch Second Reformation (Nadere Reformatie )”, Calvin Theological Journal 28 (1993): 298-327. 1 0A realização teológica de maior importância da Nadere Reformatie é a piedosa e teologicamente rica obra de Wilhelmus à Brakel, Redelijke Godsdienst, publicada originalmente em 1700 e frequentemente daí em diante (incluindo vinte edições holandesas somente no século 18!). Esta obra está agora disponível em tradução inglesa: The Christian s Reasonable Service, trad. B. Elshout, 4 vols (Ligonier, PA.: Soli Deo Gloria, 1992-95). !1A obra-padrão para o Réveil é M. Elizabeth, H et Protestantse Réveil in Nederland en daarbuiten, 1815- (Amsterdã e Paris, 1970). Bratt também dá um breve resumo em Dutch Calvinism in Modern America, 10-13.

1 8 I^ n t r o d u ç ã o^ d o^ o r g a n iz a d o r

19 o grupo divisionista tinha se tomado, significativamente, separatista e

sectário em sua perspectiva.1 2

A segunda grande influência sobre o pensamento de Bavinck vem do período

de sua formação teológica, na Universidade de Leiden. A Igreja Reformada Ho

landesa tinha seu próprio seminário, o Kampen Theological School, fundado em

1854. Bavinck, depois de estudar em Kampen por um ano (1873-74), manifes

tou o desejo de estudar na faculdade teológica da Universidade de Leiden, uma

faculdade famosa por sua abordagem “científica”, agressivamente modernista,

da teologia.13 Sua comunidade eclesiástica, inclusive seus pais, ficou chocada

com essa decisão, que Bavinck explicou como sendo um desejo de “familiari

zar-se com a teologia moderna em primeira mão” e receber “uma formação mais

científica do que a que a Theological School é atualmente capaz de oferecer”.1 4

A experiência de Leiden deu origem àquilo que Bavinck percebeu como sendo

a tensão em sua vida entre seu compromisso com a teologia e a espiritualidade

ortodoxas e seu desejo de entender e apreciar tudo o que pudesse sobre o mundo

moderno, inclusive sua visão de mundo e sua cultura. Um impressionante e

comovente registro em seu diário pessoal no início de seu período de estudos

em Leiden (23 de setembro de 1874) indica sua preocupação em ser fiel à fé

que ele havia publicamente professado na Igreja Cristã Reformada de Zwolle,

em março desse mesmo ano: “Permanecerei firme [na fé]? Deus permita que

sim”.1 5 Durante a realização de seu trabalho doutoral em Leiden, em 1880, Ba

vinck reconheceu francamente o esgotamento espiritual que Leiden havia lhe

custado: “Leiden me beneficiou de muitas formas: Espero sempre reconhecer

isso agradecidamente. Mas ela também me empobreceu grandemente, roubou-

me não somente muito lastro (pelo que estou feliz), mas também muito daquilo

que eu recentemente, especialmente quando prego, reconheço como vital para

minha própria vida espiritual”.1 6

Portanto, não é incorreto caracterizar Bavinck como um homem entre dois

mundos. Um de seus contemporâneos certa vez o descreveu como “um pregador

da igreja que se separou e um representante da cultura moderna”, concluindo:

l20 próprio Bavinck chamou a atenção para isso em seu discurso reitoral em Kampen, em 1888, quando ele lamentou que a emigração separatista para a América foi um afastamento espiritual e um abandono da “Pátria e uma perda para a incredulidade” (“The Catholicity of Christianity and the Church”, trad. John Bolt, Calvin Theolo gical Journal 21 [1992]: 246.). A erudição histórica recente, contudo, sugere que esta observação de separatismo e alienação cultural não pode ser exagerada. Embora, claramente, fosse uma comunidade marginalizada na Holanda, os separatistas não foram indiferentes às responsabilidades educacionais, sociais e políticas. Ver John Bolt, “Ni- neteenth-and Twentieth-Century Dutch Reformed Church and Theology: A Review Article”, Calvin Theological Journal 28 (1993): 434-42. 1 3Para uma visão panorâmica das principais escolas de teologia reformada holandesa no século 19, ver James Hutton MacKay, Religious Thought in Holland during the Nineteenth Century (Londres: Hodder & Stoughton, 1911). Para uma discussão mais detalhada sobre a escola “modernista”, ver K. H. Roessingh, De Moderns Theolo- gie in Nederland: Hare Voorbereiding en eersteperiode (Groningen: Van der Kamp, 1915); Eldred C. Vanderlaan, Protestant Modernism in Holland (Londres e Nova York: Oxford University Press, 1924). 1 4 R. H. Bremmer, Herman Bavinck en zijn tijdgenoten (Kampen: Kok 1966), 20; cf. V. Hepp, Dr. Herman Bavinck (Amsterdã: W. Ten Have, 1921), 30. 1 3Bremmer, Herman Bavinck em zijn tijdgenoten , 19. 1 6Hepp, Dr. Herman Bavinck, 84.

2 0 I^ n t r o d u ç ã o^ d o^ o r g a n iz a d o r

extremamente sutil, continua a falar favoravelmente de certas ênfases na pers

pectiva terrena de Ritschl.1 9

Na sessão sobre a doutrina da criação, no volume 2 (capítulos 8 a 14),

vemos a tensão repetidamente em seus esforços incansáveis para entender e,

quando acha apropriado, afirmar, corrigir ou repudiar as modernas alegações

científicas à luz do ensino cristão e escriturístico.20 Bavinck leva a sério a

filosofia moderna (Kant, Schelling, Hegel), Darwin e as alegações das ci

ências geológicas e biológicas, mas nunca faz isso de forma imponderada.

Sua prontidão para se engajar seriamente como teólogo no pensamento e na

ciência moderna é o selo de qualidade de sua obra exemplar. É preciso dizer

que, embora a estrutura teológica de Bavinck continue sendo um guia valioso

para os leitores contemporâneos, muitos de seus temas específicos tratados

neste volume são datados por seu próprio contexto do século 19. Como o

próprio Bavinck ilustra tão bem, os teólogos reformados e os cientistas de

hoje aprendem não por uma volta à condição original, mas por novas atitudes

diante de novos e contemporâneos desafios.

G r a ç a e n a t u r e z a

E, portanto, simples demais meramente caracterizar Bavinck como um

homem preso entre dois esforços aparentemente imensuráveis em sua alma,

o do pietismo do outro mundo e o do modernismo deste mundo. Seu coração

e sua mente buscavam uma síntese trinitária entre Cristianismo e cultura, uma

cosmovisão cristã que incorporasse o que há de melhor e de verdadeiro no

pietismo e no modernismo, enquanto, acima de tudo, honrasse a riqueza teo

lógica e confessional da tradição reformada desde a época de Calvino. Depois

de comentar a análise da grande síntese medieval e a necessidade de que os

cristãos contemporâneos aceitem essa análise, Bavinck expressa sua esperança

de uma síntese nova e melhor: “Nesta situação, não é infundada a esperança de

que é possível uma síntese entre Cristianismo e cultura, por mais antagônicos

que eles sejam entre si no presente. Se Deus verdadeiramente veio a nós em

Cristo, e é, também nesta época, o Preservador e Governador de todas as coisas,

tal síntese é não apenas possível, mas também necessária, e deve ser realizada

em seu próprio tempo”.2 1 Bavinck encontrou o veículo para essa síntese na cos

movisão trinitária do neo-Calvinismo holandês e tomou-se, ao lado do pioneiro

visionário do neo-Calvinismo, Abraham Kuyper,22um de seus principais e mais

respeitados porta-vozes, além de seu principal teólogo.

1 9Bavinck, The Last Things, 161 {ReformedDogmatics, N° 578). De acordo com Bavinck, esta mundanidade de Ritschl “significa uma importante verdade” contra aquilo que ele chama de “sobrenaturalismo abstrato da Igreja Ortodoxa Grega e Católica Romana”. 20Bavinck, In the Beginning, passim {Reformed Dogmatics, N° 250-306). 21H. Bavinck, Het Christendom, Groote Godsdiensten, vol. 2, no. 7 (Baam: Hollandia, 1912), 60. 22 Para um breve panorama, ver J. Bratt, Dutch Calvinism in Modern America, c. 2, “Abraham Kuyper and Neo-Calvinism”.

I n t r o d u ç ã o d o o r g a n iz a d o r 2 1

Ao contrário de Bavinck, Abraham Kuyper cresceu na Igreja Reformada

Nacional da Holanda em um contexto adequadamente moderado-modemista.

Os anos de estudo de Kuyper, também em Leiden, confirmaram-no em sua

orientação modernista até que uma série de experiências, especialmente du

rante os anos em que trabalhou como pastor de uma igreja, provocaram uma

conversão dramática para a ortodoxia reformada calvinista.23 A partir dessa

época, Kuyper se tomou um vigoroso oponente do espírito modemo na igreja

e na sociedade24 - que ele caracterizou pelo canto da sereia da Revolução

Francesa, “Ni Dieu! Ni maître!”25 - explorando todos os caminhos para se

opor a ele com uma cosmovisão alternativa, ou, como ele a chamava, o “sis

tema de vida” do Calvinismo:

Desde o início, portanto, eu sempre disse a mim mesmo: “Se a ba

talha deve ser travada com honra e com esperança de vitória, então um

princípio deve se alinhar contra outro, e deve-se perceber que, no Moder

nismo, a vasta energia de um sistema de vida totalmente abrangente nos

assalta, e também deve-se entender que temos de assumir nosso posto em

um sistema de vida de um poder igualmente abrangente e de muito maior

alcance [...]. Entendido dessa forma, eu encontrei, confessei e ainda sus

tento que esta manifestação do princípio cristão nos é dada no Calvinis-

mo. No Calvinismo meu coração encontrou descanso. Do Calvinismo

eu extraio firme e resolutamente a inspiração para assumir meu posto na

parte mais densa deste grande conflito de princípios”.2 6

A forma de Calvinismo terrena e agressiva de Kuyper estava arraigada em

uma visão teológica trinitária. O “princípio dominante” do Calvinismo, ele

argumentava, “não era, soteriologicamente, a justificação pela fé, mas, cosmo-

logicamente, no sentido mais amplo, a soberania do Deus Trino sobre todo o

cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis e invisíveis”.2 7

Para Kuyper, esse princípio fundamental da soberania divina conduzia a

quatro importantes doutrinas ou princípios derivados e relacionados: graça co

mum, antítese, esfera da soberania e distinção entre a igreja como instituição e

23 Kuyper relata essas experiências em uma obra autobiográfica reveladora intitulada Confidentie (Amster dã: Hõveker, 1873). Um rico retrato do jovem Abraham Kuyper é dado por G. Puchinger, Abraham Kuyper: De Jonge Kuyper (1837-1867) (Franeker: T. Wever, 1987). Ver também a biografia levemente hagiográfica de Kuyper, Abraham Kuyper , escrita por Frank Vandenberg (Grand Rapids: Eerdmans, 1960) e a mais teológica e historicamente mais substancial escrita por Louis Praamsma, Lei Christ Be King: Reflection on the Times and Life o f Abraham Kuyper (Jordan Station, ON: Paideia, 1985). Breves relatos também podem ser encontrados na introdução de Benjamin. B. Warfield a Abraham Kuyper, Encyclopedia o f Sacred Theology: Its Principles, trad. J. H. De Vries (Nova York: Charles Scribner’s, 1898), e na nota biográfica do tradutor em Abraham Kuyper, To Be Near to God, trad. J. H. De Vries (Grand Rapids: Eerdmans, 1925). 24Ver, especialmente, seu famoso discurso, H et Modernisme, een Fata Morgana op Christelijke gebied (Ams terdã: De Hoogh, 1871). Na página 52 desta obra ele reconhece que também já havia sonhado os sonhos dos mo dernistas. Esse importante ensaio está agora disponível em sua tradução inglesa: J. Bratt, org., Abraham Kuyper: A Centennial Reader (Grand Rapids: Eerdmans, 1998), 87-124. 2 5Abraham Kuyper, Lectures on Calvinism (Grand Rapids: Eerdmans, 1931), 10. 26 Ibid, 11-12. 2 1Ibid., 19.