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Uma análise do discurso do jornal da globo sobre a interação entre mídia e política no brasil, com ênfase na cobertura do escândalo de corrupção na petrobras. O texto aborda as representações negativas do governo e as influências mutuas entre mídia e política.
Tipologia: Teses (TCC)
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Professor(a) orientador: Nataly Queiroz
Tabela 1 Eixos e sentidos contidos nas Formações Discursivas………………
1.1 Análise de Discurso (AD)……………………………………………………… 13 1.2 A Rede Globo de Televisão e o Jornal da Globo…………………………… 18
2.1 Sobre a Televisão - Desenvolvimento e consolidação no Brasil……..…… 24 2.2 A televisão e as eleições presidenciais no Brasil pós-ditadura…………… 30
3.1 Campo Jornalístico…………………………………………………………….. 44! 3.2 Política e Jornalismo - a interação entre dois campos…………………….. 46 3.3 Discurso e Poder………………………………………………………………. 49
4.1 FD1 - Pior do que antes………………………………………………………. 54 4.2 FD2 - Pior do que outros……………………………………………………… 57 4.3 FD3 - Pior no futuro…………………………………………………………… 61 4.4 FD4 - Incompetente…………………………………………………………… 63 4.5 FD5 - Corrupto………………………………………………………………… 66 4.6 FD6 - Campanha agressiva………………………………………………….. 72 4.7 FD7 - Bom para o mercado………………………………………………….. 75
A abrupta queda na popularidade do governo em tão pouco tempo, deveu-se, principalmente, à uma série de manifestações que tomaram conta do país à partir de junho de 2013, quando o Movimento Passe Livre foi às ruas protestar contra o aumento de R$ 0,20 na tarifa dos ônibus em São Paulo. A repercussão das manifestações nas redes sociais fez o discurso-padrão - da mídia e dos governos - de criminalização dos movimentos sociais ser posto em cheque: vídeos mostrando excessos por parte da Políciar Militar de São Paulo fizeram com que os protestos repercutissem em todo o país e ampliassem o seu foco. Com isso, uma série de manifestações contra a repressão policial, contra a Copa do Mundo de futebol e contra a corrupção, se transformou em uma crise de representatividade do sistema político: a opinião pública passou a questionar o atual modelo democrático e a querer mudanças. Ao Partido dos Trabalhadores, somaram-se novas denúncias de corrupção, agora envolvendo a estatal Petrobras, o que intensificou seu desgaste com o eleitorado. Este momento se assemelha com contexto da eleição de 89, na qual também havia um sentimento de rejeição aos representantes políticos já conhecidos pelo grande público, o que culminou na ida Lula e Collor, dois candidatos até então pouco conhecidos e com pequenas estruturas partidárias, ao segundo turno da disputa presidencial daquele ano. Diferente de 2010, quando teve sua imagem construída à partir dos altos índices de popularidade do então presidente Lula, que entregava o governo num bom momento econômico do país 4 , Dilma Rousseff agora dificilmente se descolaria da desgastada imagem do partido e de um momento de turbulência econômica 5. Os principais adversários da candidata petista no primeiro turno foram Aécio Neves, do PSDB e Marina Silva, do PSB. Aécio, que é neto do ex-presidente Tancredo Neves, governou Minas Gerais por oito anos (2003 a 2010) e depois foi eleito senador em 2010. Obteve a chance de disputar a presidência após o insucesso de José Serra na última disputa para presidente. Sua candidatura foi oficializada em junho de 2014. (^4) Fonte: IBGE. Ver em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2011/03/economia-brasileira- cresce-75-em-2010-mostra-ibge.html (^5) Fonte: FMI Abril 2014. Ver em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/04/fmi-ja-cortou- metade-previsao-de-crescimento-do-pib-brasileiro-em-2014.html
Ex-senadora do PT, Marina Silva, que não conseguiu coletar as assinaturas suficientes para formar o seu novo partido, a Rede Sustentabilidade 6 , acabou se filiando ao PSB, do então candidato à presidência, Eduardo Campos, para ser vice em sua chapa com o objetivo de lutar “contra o PT e o chavismo que se instalou no Brasil” 7. Com a trágica morte de Campos em decorrência de um acidente aéreo^8 , Marina Silva é confirmada como candidata e muda o desenho da disputa eleitoral. Na primeira pesquisa de intenção de voto após a morte de Eduardo Campos - e já com a ex-senadora como candidata-, Marina apareceu 10 pontos à frente de Aécio (29% a 19%), e também à frente da presidente Dilma caso elas se enfrentassem no segundo turno (45% a 36%) 9. Os temas centrais abordados pelas campanhas dos presidenciáveis foram a economia e os escândalos de corrupção. Em relação aos aspectos econômicos, a candidata do governo à reeleição se apoiava no sucesso dos programas sociais dos governos petistas e na redução dos índices de desigualdade social, além da baixa taxa de desemprego. Por outro lado, seus adversários exploraram as baixas previsões para o PIB e o aumento da inflação. O esquema de corrupção que ficou conhecido como Operação Lava-Jato , deflagrado em março de 2014, passou a ocupar grande espaço nos noticiários e foi utilizado pelos adversários da presidente, com o objetivo de vincular a sua imagem e a imagem do Partido dos Trabalhadores à corrupção. No final do primeiro turno, a candidata Marina Silva que, em 2010, por poucas vezes teve sua candidatura atacada por seus adversários, tornou-se um dos maiores alvos dos seus principais concorrentes, o PT e o PSDB. As contradições pragmáticas e ideológicas da candidata foram bastante exploradas pelas campanhas de seus adversários, fazendo com que Marina perdesse força na reta (^6) Fonte: Folha de São Paulo. Ver em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/10/1351541- maioria-do-tse-barra-criacao-do-partido-de-marina-silva.shtml (^7) Ver em: http://oglobo.globo.com/brasil/marina-diz-que-quer-acabar-com-hegemonia-o- chavismo-do-pt-na-presidencia-da-republica- (^8) Ver em: http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/08/eduardo-campos-morre-apos- queda-do-aviao-em-que-viajava.html (^9) Para fazer um comparativo, quando o candidato do PSB ainda era Eduardo Campos, Aécio Neves estava 14 pontos à frente (23% a 9%). Fonte: pesquisa Ibope. Ver em: http:// g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/08/pesquisa-ibope-mostra-dilma-com-34-e- marina-silva-com-29.html
assemelha a este trabalho ao observar a participação dos comentaristas no telejornal. Em sua tese de doutorado, Carla Montuori Fernandes analisa, utilizando-se dos conceitos de valência nas reportagens, Os contrapontos eleitorais e os cinco “Brasis” em Campanha pela Caravana JN. A Caravana foi um projeto do Jornal Nacional que, no ano de 2006, durante 52 dias, realizou uma série reportagens em municípios das cinco regiões do país, a fim de descobrir os desejos das pessoas em relação ao próximo presidente. A tese investiga os processos eleitorais à partir de 1989 para analisar, de forma semelhante a este trabalho, a postura de um telejornal da Rede Globo na cobertura de um processo eleitoral. Dentre os trabalhos que utilizam a Análise de Discurso (AD) como referencial está a monografia de conclusão de curso de Carlos Alexandre Machado, os sentidos sobre a vitória de Dilma Rousseff nas eleições de 2010, que analisou os sentidos produzidos pelas revistas Veja e Carta Capital. Esta pesquisa também busca os sentidos produzidos em um período eleitoral, e parte do reconhecimento de que ao longo de sua história, a Rede Globo sempre demonstrou preferência por algum candidato nos processos eleitorais, o que refletiu nos noticiários. Apesar de ter adotado uma postura governista durante vários anos, a histórica oposição aos partidos de esquerda e centro esquerda - como também aos movimentos sociais - indica que o noticiário do Jornal da Globo tende a ser favorável ao candidato de oposição ao governo da presidente Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Neste sentido, buscamos compreender a problemática que guia este trabalho, que é como, através do discurso, esta tendência aparece no telejornal na cobertura das eleições presidenciais de 2014. Para este trabalho, levantamos as seguintes hipóteses: 1) Através da participação dos comentaristas; 2) Através da ênfase nos números negativos da economia do país; 3) Ao traduzir o ambiente econômico em situações cotidianas. Para encontrar as respostas para estas afirmações, temos como objetivo compreender os sentidos produzidos pelo Jornal da Globo no segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Mais especificamente, buscamos identificar as formações discursivas predominantes no discurso do telejornal; bem como observar o modo como estas aparecem nos sentidos produzidos; além de contextualizar os sentidos encontrados.
Os caminhos metodológicos que nos guiam à identificação e à compreensão dos sentidos produzidos pelo Jornal da Globo passam pela Análise de Discurso da Linha Francesa (AD), um dispositivo de análise que entende o discurso como produtor de sentidos, levando em conta o homem na sua história e observando a relação entre língua e sujeito que fala, e também as condições em que os dizeres são produzidos. Já que o jornalismo é um lugar de circulação e produção de sentidos, e partindo do princípio de que não há discurso sem sujeito e que não há sujeito sem ideologia, a AD, um dispositivo de interpretação, se torna um método interessante no processo de identificação da ideologia da qual o jornalista não consegue se desvincular. Este método foi aplicado na análise de 15 edições do Jornal da Globo, que correspondem ao período entre o primeiro dia após o fim do primeiro turno (06/10) e o último dia de exibição do telejornal antes da votação segundo turno das eleições (24/10). Foram selecionadas - observando a relevância para o objetivo da pesquisa - 41 textos, entre matérias, participações dos comentaristas de política e de economia, além de textos de abertura do programa. No primeiro capítulo deste trabalho, serão destacados os conceitos da Análise do Discurso (AD) e as características do Jornal do Globo. Através da linha francesa da Análise de Discurso e baseando-se nas teorias de Eni P. Orlandi (2001) e no modelo proposto por Márcia Benetti (2010), é descrito o método utilizado para encontrar os resultados pretendidos por este trabalho. Em seguida, é feito um breve histórico da Rede Globo de Televisão e do Jornal da Globo, que é observado desde sua primeira transmissão até o ano de 2014, destacando as especificidades que possui em relação aos demais telejornais da emissora. O capítulo dois, fala sobre o desenvolvimento da televisão no Brasil e a cobertura das eleições presidenciais pós-ditadura , descrevendo como este meio de comunicação se consolidou no país e o relacionando com o contexto histórico do país. A cobertura de todos as eleições que ocorreram desde o fim dos governos militares também é descrita, observando o papel da mídia em cada processo eleitoral. O terceiro capítulo trata sobre mídia, política e discurso e , à partir da definição de campo social de Pierre Bourdieu (1989), descreve o campo político e o campo jornalístico, explicitando suas particularidades e mostrando a relações de
1.1 Análise de Discurso (AD)
De acordo com Eni Orlandi (2001), a linguagem tem a função de comunicar e de não comunicar. As relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e variados. O discurso, então, é “efeito de sentido entre locutores” (2001, p.21). A Análise de Discurso de linha francesa (AD), é uma abordagem que busca compreender os efeitos de sentidos que se engendram entre os sujeitos dos discursos (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.120). Para isto, ela se utiliza de aspectos de três campos de saberes: a Psicanálise, a Linguística e o Marxismo. A AD, portanto, se conecta com a linguística através de sua afirmação de que a linguagem é opaca, não-transparente e é passiva ao equívoco; apoia-se na materialidade histórica do marxismo, partindo do conceito que a língua é material, e que, conjugada com a história, produz sentidos; e, assim como a psicanálise, procura compreender a língua como um acontecimento que afeta um sujeito pela história, deslocando a noção de homem para a de sujeito. O fato de o discurso ser opaco, não-transparente e de possuir nuances interpretativas, implica no reconhecimento de que a objetividade, um dos pressupostos do jornalismo, é apenas intenção do jornalista. Assim, segundo Benetti (2010), o máximo que o jornalista pode fazer é direcionar o texto, não havendo garantias de que irá ocorrer uma conversão de sentidos. Para a autora, o discurso jornalístico - objeto de estudo deste trabalho - é “dialógico, polifônico, opaco, ao mesmo tempo efeito e produtor de sentidos, elaborado segundo condições de produção e rotina particulares” (2010, p.107). A autora cita Bakhtin para afirmar que toda linguagem é dialógica e que o dialogismo pode ser pensado em dois planos que interessam ao jornalismo: a relação entre os discursos e a relação entre os sujeitos. O primeiro está relacionado à noção de interdiscurso, enquanto o segundo se refere à intersubjetividade, que quer dizer que o discurso não existe por si só, ele só existe em um espaço entre sujeitos. Esta afirmação contida no conceito de intersubjetividade, implica na afirmação de que se o discurso depende dos sujeitos para existir é porque necessariamente ele é produzido por esses sujeitos: o sujeito que fala, que enuncia; e o sujeito que lê.
A Análise de Discurso, então, considera o homem enquanto sujeito e membro de uma sociedade, entendendo que a linguagem é a mediação necessária entre o homem e sua realidade natural e social. Sendo assim, o discurso é relacionado à sua exterioridade para que se busquem os efeitos de sentidos que são produzidos e que estão de alguma forma presentes na maneira como se diz. É tarefa do analista, portanto, observar os processos e as condições de produção da linguagem, e investigar a relação entre língua e sujeitos que falam e as circunstâncias em que são produzidos os dizeres. Ao analisar um discurso, considera-se o que é dito ali, no enunciado, mas também refere-se à outros lugares, ou seja, ao não-dito e ao que poderia ser dito e não foi, utilizando-se dos “vestígios” que são deixados pelo dizer para buscar sua compreensão. De acordo com Orlandi (2001), na linguagem, nós necessariamente passamos por dois esquecimentos, constitutivos da linguagem, para poder enunciar. O esquecimento de número dois é o da ordem da enunciação : quando falamos, dizemos de um jeito e não de outro, formando famílias parafrásticas que indicam que o dizer poderia sempre ser outro, que o que falamos poderia ser dito de várias outras formas. Este esquecimento cria uma espécie de ilusão referencial, uma impressão da realidade do pensamento que nos faz acreditar que só podemos dizer o que foi dito com as palavras que usamos. O outro esquecimento, o de número um, é o esquecimento ideológico, da instância do subconsciente, que está diretamente ligado ao modo como somos afetados pela ideologia: temos a ilusão de ser a origem do que dizemos (ORLANDI, 2001, p.35), quando, na realidade, não falamos as coisas sozinhos, há sempre uma “voz” que nos precede. O que quero dizer é que nós nascemos na linguagem, os discursos são anteriores à nós. Ao dizer, portanto, retomamos sentidos que já existiam e os reorganizamos para construir o nosso dizer, como se este se originasse em nós. Assim, sujeitos e sentidos estão em um constante movimento, significando de vários maneiras. No processo de análise de um discurso, como foi dito, hão de ser consideradas as condições de produção daquele determinado discurso. Elas compreendem os sujeitos, a situação e também a memória. Orlandi (2001) diz que, ao observar um discurso, se nos atermos ao seu sentido estrito, teremos então o seu contexto imediato; e se analisarmos de forma mais ampla, as condições de produção incluirão o contexto sócio-histórico e ideológico daquele discurso. Já a
Para analisar os sentidos do discurso jornalístico, diz Benetti (2010), é preciso visualizar a estrutura do texto, compreendendo que esta estrutura “vem de fora”, ou seja, é necessário que se relacione este texto com sua exterioridade, observando as condições em que estes discursos são produzidos. Aplicando isto no campo jornalístico, Medeiros (2008, p.50) diz ser fundamental para entender o estudo jornalístico, a compreensão das condições de produção do que é dito/veiculado na mídia. Acrescento ainda o que não é dito, ou seja, o que poderia estar no noticiário mais não está, que é silenciado no processo de seleção das notícias. Ao estudar o Jornal da Globo , portanto, é preciso atentar para a orientação dos sujeitos do discurso, suas posições e ideologia, pois compreender as mesmas é essencial neste processo de análise. Os caminhos metodológicos que guiam este trabalho - como já sinalizado - passam pelo modelo de análise proposto por Benetti (2010), que, em relação ao discurso jornalístico, sugere como um primeiro passo que se observe a existência de duas camadas: a camada discursiva, que é visível; e a camada ideológica, que torna-se evidente depois que os métodos de análise são aplicados (2010, p.111). A autora, então, propõe uma análise de discurso baseada na identificação das formações discursivas contidas no objeto destacado, no caso, nos 15 programas que foram ao ar no período que antecedeu o segundo turno da eleição para presidente. Para Orlandi (2001), a noção de formação discursiva permite que se compreenda o processo de produção dos sentidos e que se perceba a relação destes discursos com a ideologia, além de possibilitar o estabelecimento de regularidades no funcionamento do discurso. Uma Formação Discursiva (FD) , então, é “aquilo que numa formação ideológica dada - ou seja, a partir de uma posição dada em uma conjuntura sócio-histórico dada - determina o que pode e deve ser dito” (2001, p.43). Isto implica no reconhecimento de que os sentidos sempre são determinados ideologicamente, já que “tudo o que dizemos tem um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos”(2001, p.43), sendo a análise do discurso a responsável por explicitar o modo como linguagem e ideologia se articulam e se afetam. As formações discursivas podem ser percebidas através dos interdiscursos, pois estes disponibilizam dizeres que determinam, através do que já foi dito, aquilo que constitui uma formação discursiva em detrimento de outra. A formação
discursiva também propicia a compreensão dos diferentes sentidos no funcionamento discursivo: a mesma palavra pode significar de formas diferentes dependendo da formação discursiva em que está inserida. O entendimento da noção de ideologia também é essencial neste processo de identificação dos sentidos pois ela é a condição para que sujeitos e sentidos se constituam: não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia; “o indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer” (ORLANDI, 2001, p.46). No mecanismo do discurso, a ideologia produz evidência, “colocando o homem na relação imaginária com suas condições materiais de existência” e, ao mesmo tempo, disfarça sua existência em seu próprio funcionamento ao apagar evidências subjetivas: de sentido, apagando o seu caráter material; e do sujeito, evidências estas que funcionam através dos “esquecimentos”. Retomando o modelo proposto por Benetti (2010), após a identificação das formações discursivas, as mesmas foram numeradas (FD1, FD2, FD3 etc.) e nomeadas de acordo com o principal sentido que indicam. Após analisar as marcas discursivas nos sentidos encontrados, estes foram relacionados à constituição dos discursos “outros” que atravessam o discurso jornalístico. Para fins de procedimento metodológico, recortamos trechos - que a autora chama de Sequência Discursiva (SD) - para a análise, que depois foram incluídos no relato da pesquisa. As SDs foram numeradas com o intuito de facilitar a organização do corpus de pesquisa. O corpus foi selecionado através da observação das edições Jornal da Globo que foram ao ar entre os dias 6 e 24 de outubro de 2014, que correspondem, respectivamente, ao primeiro dia após o fim do primeiro turno e o último dia em que o telejornal foi ao ar antes do dia da votação do segundo turno das eleições presidenciais. Foram destacadas os textos de abertura do telejornal, as participações dos comentaristas de política e de economia, e notícias referentes ao ambiente econômico e à editoria de política. Acreditamos que através destes recortes, por se tratarem de temas específicos em relação ao que é procurado por este trabalho, encontraremos as marcas discursivas que nos auxiliarão a identificar os sentidos que estão presentes no discurso do Jornal da Globo Antes de relatar o que foi encontrado na pesquisa, porém, é necessário que tenha-se um entendimento do objeto pesquisado. À seguir, contamos um pouco da história da Rede Globo, do seu início até o surgimento do Jornal da Globo. Sobre o
A TV Globo foi inaugurada no ano de 1965, época em que estava se iniciando o período de regime militar no país. Aproveitando o momento econômico e político do país, quando os militares expandiram o setor industrial e fizeram fortes investimentos em infraestrutura no ramo das telecomunicações; e através de um obscuro contrato com a empresa americana Time-Life, a empresa se capitalizou para dar início às suas transmissões e rapidamente se tornar a maior rede de televisão do Brasil. De acordo com Sodré (2010, p.101), “o triunfo da TV Globo, sem dúvida alguma, está ligado ao planejamento administrativo ou à racionalização capitalista-monopolista de sua gestão”, sendo fundamental para a emissora a “adaptação da fórmula norte-americana de exploração comercial, que consiste em vender o tempo da televisão como um todo e não mais em cima de horários ou programas isolados”. No dia 1˚ de setembro de 1969, o Brasil vivenciou a inauguração das transmissões em rede com a estréia do primeiro telejornal da Globo, o Jornal Nacional , que foi ao ar simultaneamente e ao vivo para seis capitais do país. Com a popularização da tevê, a emissora adotou uma linha de programação popularesca, classificada por Sodré (2010, p.101) como estética do grotesco , com conteúdos que visavam alcançar a classe média, que havia sido inserida na sociedade de consumo através da instituição do crédito direto ao consumidor. Após estabelecer audiência e confiança do público, a emissora mudou os rumos de sua programação: abandonou a estética grotesca e passou a impor o seu “padrão globo de qualidade”. A adoção deste novo padrão implicou no nascimento de uma fórmula culturalista, quando passou a existir uma pressão para que a televisão adotasse uma função educacional. A tevê, então, entra em contato com a literatura para readaptar obras de autores como Jorge Amado, José de Alencar, Machado de Assis e outros. No telejornalismo, surgiu o Fantástico, o show da vida , programa que colocava o entretenimento sob forma de notícia. No final dos anos 70, em um contexto de forte concorrência entre as emissoras, o jornalismo passou a ser “vedete” da programação (ARAÚJO, 2012, p. 141). A Rede Globo, então, resolve expandir o seu conteúdo jornalístico: são criados o Jornal Hoje , o Bom Dia Brasil e o Jornal da Globo. Para Valéria Sampaio Araújo, que escreveu uma dissertação sobre a construção da serialidade nos telejornais da TV Globo, o “Jornal da Globo surge como um movimento de inovação no modo de
fazer jornalismo da Rede Globo, sustentado, sobretudo, na especialização de sua equipe de apresentadores e comentaristas” 14. Sua primeira edição foi ao ar em 1979, com apresentação de Sérgio Chapelin. A partir de então, o telejornal passou por doze fases de mudanças, seja no formato, no cenário, nas trocas de apresentadores e comentaristas ou no horário. Atualmente o programa é exibido de segunda à sexta, após o encerramento da linha de shows diários da emissora - tendo início entre 23:30 e 00:30. Foi em 2005 que se tornou fixa a presença de comentaristas, no caso, Carlos Alberto Sardenberg e Arnaldo Jabor, no telejornal. Neste mesmo ano, os jornalistas William Waack e Christiane Pelajo assumiram a apresentação do telejornal e permanecem no comando até hoje 15. O público do Jornal da Globo é formado predominantemente por mulheres (58%), que tem entre 25 e 49 anos (41% da audiência - embora os telespectadores com mais de 50 anos representem uma fatia considerável, correspondendo a 36%), oriundos da classe C (49%, mas também é importante dizer que 34% são das classes A e B) 16. O Jornal da Globo é o último dos cinco telejornais 17 que fazem parte da grade de programação fixa da Rede Globo a ser transmitido. Traz, como é descrito em seu site , “as notícias mais quentes da noite, o balanço e análise dos principais fatos do dia”, ou seja, trata-se de um telejornal que se diferencia dos demais veiculados na TV Globo por não se resumir em noticiar os acontecimentos, fazendo uma complementação do que já foi noticiado durante o dia através das análises dos comentaristas e da maior liberdade que apresentadores têm para opinar. As principais editorias do telejornal são as de política e economia. Este, como já foi dito, foi um dos fatores que despertaram o interesse desta pesquisa, já que o viés mais analítico do Jornal da Globo se concentra nessas duas editorias, que também foram os temas mais debatidos na eleição presidencial de 2014. O aprofundamento das (^14) idem (^15) Em outubro deste ano, a apresentadora Christiane Pelajo saiu do telejornal, que passou a ser apresentado apenas por William Waack. O programa está passando por uma série de adaptações, mas como ainda não foi divulgado como será esse novo modelo - e sequer foi atualizado no site oficial do Jornal da Globo - optamos por referir ao formato que vigorava até setembro deste ano - e portanto, no período pesquisado por este trabalho - como atual. ver em: http://noticiasdatv.uol.com.br/ noticia/televisao/apos-dez-anos-christiane-pelajo-deixa-o-jornal-da-globo-9456 visitado em:19/10/ (^16) dados retirados de: http://comercial2.redeglobo.com.br/programacao/Pages/JornaldaGlobo.aspx# vistiado em: 19/11/ (^17) Em sequência: Hora um, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional e Jornal da Globo.